quarta-feira, 5 de maio de 2010

O isqueiro lilás, a corda de bruxa e a cura


A Circe talvez deboche da longuidão deste texto. Mas ela ainda não atinou que um texto só não pode ser longo quando as idéias dele são curtas.

Eu estava sem muita vontade de receber a minha massagem hoje. Aliás, desde ontem que eu não tive vontade.

Sou o protegido mais querido de todos os deuses e a coisa se fez, juntando-se em pedaços e armações e eu acabei tendo que recebê-la: o Billy Helder – irmão de alma e de espírito – um dos meus (a quem estou voltando para o seio) chega hoje à Casa de Mãe Joana com duas mãos fechadas, para que eu escolhesse uma e ganhasse um presente.

Bati numa e estava dentro dela um isqueirinho lilás. Um mimo do Billy para mim. Na outra, um isqueirinho amarelo que ficou com ele, já que eu tinha ganhado o lilás. Imediatamente eu disse façamos um feitiço nos isqueiros. Lilás é cura e amarelo é prosperidade.

Fizemos os feitiços, cada um o seu.

Eu já tinha o meu isqueiro branco enfeitiçado para a paz e a benevolência. Claro que o indicado era continuar usando-o até se esgotar. Mas – como sempre, há um mas – do nada, perguntei ao Billy, se já era hora de eu usar o meu lilás, de cura. O Billy não respondeu e claro, quem cala, consente, acendi o meu primeiro cigarro com o isqueiro de cura.

Passam-se as horas e, coincidentemente, o Billy passou todo o tempo tecendo um crochet com cordão lilás... tinha saído da Casa e ido ao armarinho vizinho comprar o material. O armarinho estava fechado. Prestem bem atenção, Senhores. O armarinho estava fechado. Fechara cedo, já que está por encerrar as suas atividades e já não tem mais quase nada para vender... e o meu irmão de alma não comprou o material que desejava. Mas... sempre há muitos mas, o proprietário do armarinho voltou, já depois de encerrado o expediente e o Billy o viu, de longe e foi atrás. Comprou o material e pôs-se imediatamente a tecer alguma coisa que talvez pudesse vir a ser um cachecol. Não importava a futura identidade da peça. Importava tecer. Corda de Bruxa com cordão lilás de cura? Circe? O Billy não sabe estas coisas de bruxa... ora, o Billy estava só tecendo qualquer coisa que poderia vir a ser um cachecol ou uma colcha ou mesmo vestidinho para botijão de gás! Ou não.

Passam-se mais horas e é chegada a da minha massagem. Vontade de ligar para o Alex e dizer a ele, como ontem, que adiássemos para amanhã, mas – como são tantos os mas! - o mesmo Billy tecedor me diz que tem que ir embora porque trabalharia cedo, amanhã.

Imediatamente eu disse então que seja agora porque vou para a massagem,

Vim.

Alex tem feito uma cura milagrosa nos meus músculos e tendões e ossos e dores. Realmente monumental.

Mas... (de novo? Outro mas?) o Alex chegou com uma novidade. Iria fazer uma massagem diferente, ayurvédica, que começa pela cabeça! (Adoro!)

As mãos do Alex na minha face e cabeça e pescoço e, sem pedir licença ou avisar qualquer coisa, me vem Isis...Isis? Eu posso dizer que, mais do que a reconstituição do corpo de Osíris e a feitura de um pinto de ouro para ele, eu sei nada sobre ela.

Meninos! Eu vi. A Moça chega muito perto de meu rosto e só posso vislumbrar a parte do seu rosto que contém os olhos. Olhos preocupados.

Ela estava em cores intensas de ouro rajado de ouro mais escuro em um cenário ou local intensamente dourado, nos dois tons.

Pergunto a ela, com a mesma intimidade que sempre me dou no trato com os deuses e na minha habitual arrogância pueril, o que ela estaria fazendo aqui e que quem mostra os olhos é Horus e não ela! Óbvio que, como toda mãe que olha para as perguntas pueris dos bebês, não me deu a menor importância. E ao redor dela, em pontos esparsos no cenário dela, apareceram, como se nascessem, pontos azuis turquesa. Ah! Turquesa! A pedra da cura, das dores de perdas e que é completamente quebrada e reajuntada. Entendi o que a moça veio reger: o reajuntamento dos meus pedaços e, quem sabe, um falo novo para mim?

Ao contrário do que acontece normalmente, eu não dormi durante a massagem e fiquei vendo o Alex ser o instrumento de Isis.

Deitado, de costas, muito atinado com o trabalho dele e de como as ondas de energia se alteravam e se reorganizavam, comecei a sentir que o Alex estava com respiração diferente. Ele nunca estivera assim antes. Não sabia se isso fazia ou não parte da técnica ayurvédica.

De repente Alex me pergunta o que significa o lado direito. Eu respondo que é o expressivo, o mental, o ativo e ele se altera e diz, cara, seu lado direito está foda!

Pede-me que eu me vire, ventre para baixo, para continuar o processo massoterápico.

Quando eu me viro, Senhores, inacreditável! Milhares e milhares e muitos milhares de escaravelhos, baratas e escorpiões brancos e negros ocupavam todo o meu dorso.

Nada falei e entrei numa espécie de temor fóbico, como se fora perder qualquer esperança. Temi que Alex não conseguisse remover tudo aquilo e, nesse momento, Alex passa a ser tomado por um frenesi intenso e, em vez de compressão com mão espalmada, habitual de massagens, crispa os dedos e como se quisesse remover muita coisa ao mesmo tempo, como se escavasse buraco na areia, parte do meu pescoço para baixo, respiração extremamente alterada, freneticamente puxando coisas. Temi mais um segundo. Ele não conseguiria remover tudo aquilo e ambos, ele e eu, já principiáríamos a desaparecer naquela areia movediça de escorpiões, baratas e escaravelhos. Quase me entreguei.

No instante imediatamente seguinte, aos crispar os dedos na minha nuca, no lugar onde seus dedos passavam, a marca que deixavam era amarela e, rapidamente os bichos começaram a ser removidos. Uma cor verde turquesa começou a se instalar suavemente no espaço deixado.

Alex passou das costas para as pernas e em estado de transe quase, removia aquele lixo pelas pernas e pés.

Parou ofegante. Muito ofegante e me perguntou: Gê, você está bem?

Eu ri com a alegria das crianças e respondi melhor que você.

Nós não trocamos uma só palavra além da “seu lado direito está foda”, durante a massagem, embora tenhamos tido absoluta comunhão no processo da expulsão dos escaravelhos, baratas e escorpiões que você mandou para mim.

Bruxinha estúpida! Como as bruxinhas além de pobres, feias, mal amadas e desgraçadas são estúpidas!

E você sabe que o você que estou falando é você mesma! (no feminino, apesar de que uma bichinha donzela esteja envolvida... Mulher feia, mal amada e bichinha donzela é tudo uma só e única coisa: ressentido fracasso!)

Um daqueles escorpiões foi, devidamente, preservado e instalado onde você jamais saberá. A não ser quando a primeira metástase for identificada. Será tarde. Já é metástase!

2 comentários:

  1. Gê,

    Eu já aprendi, num mail seu que um texto tem que ser longo, quando necessário...rs..

    Apesar de tudo, achei lindo o processo todo, desde a chama violeta/lilas, a tecelagem, a limpeza e o equilíbrio energético, até o exorcismo dos bichinhos...

    Realmente, voce é um abençoado, muitos te amam, e por isso sempre será protegido, seja por quem for, sempre será protegido pelo Amor.

    bj

    ResponderExcluir
  2. Menina... adoro o seu jeito de dizer as coisas. Já te falei isto muitas vezes.
    Um dia te conto como foi esse processo muito doido.
    Eu só queria ser amoroso, mas um feitiço de devolução tem que ter a força da ira. Infelizmente eu tive que terminar o texto de modo tão irascível. Sei que vc me compreende.
    Mas como bem vc disse, o Amor tem me protegido, mesmo que para essa proteção ele precise me jogar em alguns buracos! Risos

    Beijo

    ResponderExcluir