quinta-feira, 29 de outubro de 2009

As pessoas mentem e pronto! Ponto final.
Até os Corvos mentem...

quarta-feira, 28 de outubro de 2009

Tou cansado de toda essa merda. Mas não morto. Não se empolgue

Tou cansado de ter que ser isto ou aquilo. De esperarem de mim explicações e condutas.
Eu sou louco. Sou estranho. Isso não basta? Se não basta para você, que enfie o dedo no seu cu e o rasgue... mas me deixe em paz!
Tou cansado de ver o mundo inteiro criando réguas (regulas, regras) para medir a uniformidade de todos. De se ter que freqüentar a casa média da regra, caso contrário se é um anormal.
Tou cansado de ver a professora idiota, idiotizada e despreparada da minha neta ser incapaz de perceber que a minha neta é pisciana e de isto ser o bastante pra compreendê-la na sua imensa capacidade de “ser” o coletivo, o oceano original! Puta que pariu! A perfeita e acabada idiota necessária ao sistema advertiu o sistema dizendo que a criança é incapaz de prestar atenção... e o sistema familiar, orientado por essa professora, buscou a coordenadora que indicou o neurologista que ministrou a ritalina para a criança... a professora, a coordenadora, o médico, o sistema precisam vender mais porque a sua imagem não é medida pela sua competência e sim pelos carros, e carros, e bolsas e sapatos e pelas suas trepadas movidas por Viagras.
Tou cansado, à exaustão, de ser chamado de “muito legal, mas...”
Tou cansado de ser o diferenciado em um mundo padronizado. Plutão em leão, na casa 5, geração de 1954.
Tou cansado de ser o ser brilhante invejado pela mesmice e pela mediocridade. Tou cansado de dizer pra eles a sua absoluta desnecessidade para o mundo. Tou cansado de ver as suas caras parvas olhando pra mim e me perguntando o que é isso. Porra, nasci desenhista, mas me recuso a desenhar explicações para os imbecis.
Tou cansado de ser o ícone líder de uma matilha esfomeada e sem coragem de atacar a presa!
Tou cansado de ser a bandeira da imoralidade e da impudice, mesmo que eu grite a toda gente que moralidade, imoralidade e amoralidade são coisas diferentes – pelo menos assim diz a semântica... tou cansado de sacar que, para essa gente de nescidade uniformizada, moral é o que eles fazem e imoralidade o que os outros fazem.
Tou cansado da burrura que grassa em todas as esquinas, ruas, elevadores, matinhos, boléias bordelescas, muquifos, porões, academia brasileira de letras, senado, casinhas, casões, carrinhos, carrões dessa turba ignara.
Tou cansado. Deveras cansado, mas não alquebrado. Ainda me sobram forças pra alavancar socos, mesmo que no ar, para arrancar, sorver e me alimentar desse sangue fraco das gentes medíocres. Vivo disso.

quinta-feira, 22 de outubro de 2009


queria devolver-lhe
esta urna pequena
com as cinzas do que foi um grande amor
Não tenha medo...
ela está leve.
junto um pedaço do meu corpo
da minha matéria
das minhas paixões.
Tudo está cremado
Não tenha medo
é leve
fácil de portar
Se puder
não guarde estas cinzas
(não vale a pena)
mas lance-as para o céu
jogue para as aves
sobre flores
jogue-as pro vento...
que frutifiquem...
As cinzas sagradas têm isto de bom.
Multiplicam
reflorescem.

Poema XXXIV

hoje tá frio no meu coração
doem as cicatrizes.
dizem que é assim mesmo
no frio todas as feridas doem mais
eu precisava de um afago
eu precisava de um perdão
eu precisava de um sorriso
que clareasse um pouco o meu quarto
está tão escuro o meu quarto
eu precisava da sua mão
eu precisava do seu amor
estou tão triste
está tão frio
e as feridas doem tanto...

Poema XXI


queria abrir no meu peito uma cruz
rasgada
lentamente
Ritual
religioso...
e tirar lá de dentro
devagar,
sem força,
quase ternura,
este meu coração.
E vê-lo
estremecer
vagaroso,
indefeso,
trêmulo...
batidas fracas,
arritmadas,
uma...
outra...
duas.
Quase nenhuma.
E o sangue
descendo,
coando,
quando,
fio.
Queria arrancar este coração
e pisar nele todo o meu ódio
racional
Este meu coração não soube
ser mais forte que a minha
desrazão.

Poema XX

beijo a tua face
molhada pelo meu pranto
beijo as tuas mãos feridas
pelos meus dentes
abraço teu pescoço cortado
pelas minhas unhas
punhais de aço incolor
bebo na tua boca
as palavras amargas que desferi
e como todas as tuas carnes
com meus dentes moles
podres de tanto amor.
doença negra
cruz de mortos
que atravessam meus caminhos
aranhas
tecedeiras
de redes nervuras finas
nervosas linhas
que te arrancam da paz.
sugo teu sangue de pomba
bebo gota a gota o suor que te fiz suar
suor de dor
suor de doar
eu mago louco do meu abismo
cães me mordam e não soprem minhas feridas.
vem eremita
vem temperança
envia-me a morte
aroma doce
para que eu não rasgue mais com meus dentes
a paz deste sacerdote
anjo guardião dos meus infernos.
Vem raio divino e derruba esta torre torta
mata-me e não deixes renascer.
Põe em cima o sal.

Poema XIII

mas nada me engana.
Será a maturidade da coisa?
- as frutas maduras, mais gostosas, mais frágeis,
mais perto do fim...
E tanto assustam estas coisas
que fazem mijar de medo,
um mijo mole, indeciso
pernas abaixo
uma queda boba
igual ao choro
que é o mijo dos olhos...
Diz pra mim um bom dia!
Ai, essa dor querendo voltar, essa amargura, esse medo do que vem. Não presumo, em mim, nada em que eu possa me segurar, Nada que eu tenha para olhar, para esperançar!
Esse medo de mim mesmo, esta parte amarga, mais forte que eu - Lillith que se apaixonou por mim e vinga a minha impotência, dando-me, aos goles, mais impotência.
Tenho de ti saudades e medos. Medo da tua independência de mim, da tua vida sem a minha e nenhuma diferença a fazer diferença.
Meus cuidados, meus carinhos, meus dedos... tudo desimportante pra ti agora, de agora em diante.
Estou sozinho guardando cuidados e dedos, ocupados apenas em cuidar das saudades que sinto por ti. Cuidando apenas da tua ausência... ausência alongada, gorda, redonda, invasiva.
Tanjo cordas na minha alma, essa que está cansada de ficar aqui, presa neste invólucro que derrete, dia após dia, sol após noite, encontrando apenas a noite vazia de ti.
Por que este rancor de mim, Lillith? Por que esta mágoa de mim, amiga negra?
Por que me ensinas a esvaziar de mim os amores? Os carinhos, os cuidados? Os laços de fita?
Então, Senhora, por que não me permites afastar-me daquele cujos dedos, tiraste-me os apreços? Por que fazes a ausência dele no incontido de mim cada vez mais presente, prenhe de ocupação mais aumentada? Corta de mim, então, a lembrança, Maldita Senhora!
Cega, da minha alma, os olhos. Fecha-me os ouvidos todos, os de fora e dentro, entope minhas narinas para que eu não possa mais sentir cheiros. Fecha-me o espírito.
Mantém-no vivo porque te delicias com o sangue vermelho caudaloso dele, se te apraz, mas não me deixes percebê-lo. Afasta-o de mim e leva-o para o teu festim, mas permite, pelo amor do teu rancor, não me deixes percebê-lo. Anestesia-me de mim mesmo para que eu não pereça na lembrança de quem tanto lembro.
Póstumo eu.
Nada mais
que um pranto, às vezes.
Póstumo eu
De mim
Das minhas grandezas
agudas
Da minha grande agudeza.
Póstumo eu.
No nada
Nas entranhas do nada.
Póstumo eu
Algumas vezes,
uma lágrima tua.
Sinto que é chegada a hora de me absolver. Haverá o tempo da absolvição e eu não mais pedirei esperanças, falsas ou criadas, ou argamassadas, ou reais. Haverá o fim, somente. O ponto nevrálgico da absolvição. Não me absterei. Não pouparei defesas ou acusações sobre nada de nada que fiz na Terra.
Hei de encontrar o sinônimo de mim mesmo, dentro de mim e o trarei pra fora. Inaudito. Impensado.
Não buscarei mais amores ou cus. Nem almas pardacentas. Estarei, apenas. Ou serei, talvez, apenas.
Sinto que há coisas aprendidas e muitas a aprender... e este muitas a aprender é uma moral cristã amoral (como diria Clarice). Não tenho dívidas com deus e muito menos comigo. Menos ainda com os outros de um todo que não mais formo parte. Tenho estes olhos e um corpo, já desgastado, com lustres de grandeza ainda. Olhos belos e inquiridores e macios e chorosos e sabedores dos meios de envolver outros olhos. Mas de nada me serve esta sapiência a não ser para acreditar que não devo mais fazer deles qualquer uso que não seja o somente perceber. Estar poste para o mundo. Dar um pouco de luz que vem por caminhos que não de mim mesmo, da minha essência e estar presente sempre e mudo e inconcluso.
Não devo mais buscar em nada o que me falta por origem. Nasci com uma nudez exposta e surpreendido com uns deveres de ocultá-la. Não pressuponho estes paradoxos barrocos que se dizem inventados por deus. Hei de estar nu para ouvir a sentença. Desvencilhado dos cintos e das calças e dos sapatos e de todas as armaduras. Se necessário, morrer de cu pois que outros nascem assim. (e dizem que há, ainda os que nascem de cu pra lua – que têm sorte na vida! E morrer de cu pra lua, o que seria?).
Tomo estes livros de sabedorias e entrego-os a você. Faça-lhes qualquer destino, mas tire-os de mim que não quero mais. Já muito me assombrei com eles. Muitas vezes com as suas belezas silenciosas ou gritadeiras, guardadas. Inúteis enquanto estão lá e não são comidas por uns dentes capacitados para a mordedura ideal. Tomo nas minhas mãos estes livros e devolvo-os sem que os tenha sabido de qualquer forma que o fosse... entregue-os ao Demônio que tem lucidez (Lúcifer deve ser lúcido, presumo) para definir-lhes destino mais sobranceiro do que este que deus lhes deu ou determinou.
Hei de estar com a sapiência dos postes, que não lêem, não plantam, não colhem, não presumem e por tal, não ensinam. Poste só tem uma única servidão: sustentar uma luz que vem de fonte que não é sabida por ele. Resignação de ser só isto.
Tenho pouco mais a falar. Já não me excitam o amor, esta vanidade cristã, o ódio, esta vanidade luciférica e o estar pleno de qualquer coisa, imunda ou santa.
Fico olhando a minha barriga enorme, desmontada sobre um púbis acanhado. Tenho braços e corpo escorridos, Tenho rugas na cara e fundezas na face. Nas mãos algumas “lesões por esforço repetido”... talvez de tanto apontar caminhos ou escarafunchar cus à procura de alvos. Na verdade, isto nada importa. Sou mais menos de tudo. E isto brilha, me ofusca de encantamentos os olhos... paisagens nunca antes vislumbradas. A pradaria.
Será isto a velhice? A incontinência?
(excerto do livro "O Poeta, o Anjo, o Bêbado e o Posseiro", de minha autoria, inédito)

No dia de ano pedi à Deusa
Que te desse a mim de presente.
Assim como és de forma e alma.
E pedi mais à Deusa
Que me desse a ti de presente
Na forma da paz que necessitas
No espírito do amor que tu és.
E a Deusa me prometeu, a mim,
Que me daria uma alma,
Um espírito
Um amor
de agudas imersões
De ser tudo o que é preciso
Pra que sejamos um só
Um nó.

Eu Deus

Há pouco mais de quinze dias, numa esquina qualquer, eu me deparei comigo e eu era pura insensatez... vi que era bom e descansei no 7º dia.

Ausência tua

Agora, hora essa da ausência.
Hora morta.
Ausência tua no lado do passo meu.
Aguda impertinência.
Sombria. Aguada.
Os tons da estrela minha
se esgarçam, matéria fumarenta.
E a ausência tua apontando
o meu futuro:
Dedos desenhando o horizonte
tanto distante. Jazigo.
É assim que há de ser.
Não soergo mais o meu sobrolho...
Assim será.

Meu Vimana

Meu vimana tá, sim, chegando. Mas antes que ele pare no ancoradouro, eu vou amar. Quero recuperar os amores que perdi, perdoar a mim mesmo por tudo o que não consegui fazer. Perdoar os que não me amaram, pedir perdão aos que fiz sofrer.
Sentar no meio fio junto com a Amanda e aprender a sorrir com ela. o sorriso das crianças.
Quero brincar mais de amarelinha, cozinhadinho com as meninas, sem sentir vergonha porque é coisa de garotas... aprender a jogar futebol porque eu já encontrei, em mim, o meu menino.
Quero dar presentes aos que me olham com olhares compassivos, dão de ombros e dizem deixa pra lá, o Gê é assim mesmo! Quero retribuir com o dobro aqueles que me suportaram - porque, como diz o Lelê, pra conviver comigo, tem que me amar muito!!! (vejam que coisa mais linda... tem muita gente que me ama muito!)
Quero agradecer a paciência e a empolgação do Mixel porque a minha cura é obra dele (e ele sabe disto!)...
Vocês, amados que perdi, eu me disponho em cruz, à maneira cristã, ou em pira, à maneira hindu, para renovar meus gestos de admiração!
Daí, então, o vimana pode partir. Estarei navegando em ares de PAZ!
Beijo a todos porque os amo!

Impermanência

Eu sou completa impermanência. Assim como tudo. Hoje estou. Não posso dizer o mesmo no próximo instante.

Então, meu amigo, meu irmão, meu filho, apenas me amem como se eu fosse passageiro. Um vento que passa e vai.

Não se apegue a mim. Não me queira pra sempre perto de você. Muito breve estarei em outros lugares e não gostaria que você ficasse chorando a minha ida.

Sou o caixeiro viajante. Sempre chegarei de novo. Sempre com uma mala de quinquilharias novas, lantejoulas e perfumes. Mas logo, logo estarei embarcando no próximo trem em rumo a outra cidade.

Tenha-me como uma imagem apenas. Meu corpo, meus olhos, meus pés, minha fala, meu sorriso não existem. Sou somente virtual.

Se você fizer assim, não sentirá a minha falta.. mesmo porque ela também não existe. Quando eu passar, sopre um sopro leve, enfeitado com um sorriso. Será a moldura que eu preciso para o meu portal.

terça-feira, 20 de outubro de 2009

...

Sim, lamento a nossa ausência um do outro pelas palavras rudes ou doces que jamais dissemos e ficaram suspensas na garganta. Os olhares que ficaram esperando respostas que nunca vieram. Os abraços que não foram completados. As mãos que se ansiavam, às vezes e tantas outras, não. Foram perdidas. Os verões que não vamos mais dividir. As luas cheias no céu da noite... continuam lá para vermos junto com os olhares de outro, ou não. Estão lá, independentes das nossas perdas.
Lamento os carinhos que dissemos. Perderam-se na nossa memória e hoje são apenas nossa memória.Lamento as luzes que ficaram acesas e nunca, talvez, sejam apagadas.
A poltrona da sala continua sentada vazia e nossos corpos não vão mais ocupá-la. Lamento.
Lamento as horas que nos fizemos chorar.
Os objetos que juntos ajuntamos e que se separaram, os seus de mim e os meus de você. Lamento as rudezas.
Lamento as doçuras. Lamento os silêncios.
Lamento os planos. Planos elegantes. Planos de companhia. Planos de trabalho. Planos de não nos voltarmos a ver. Plano de não ver o que o outro tinha de bom, de escuro, de sujo.
De grandeza, de miséria. De humanice!
Planos de respeito eterno. Planos de vingança. Planos de silêncio.
Tudo isto se perdeu no fio dos nossos dedos e eu lamento não mais identificar o seu paradeiro.
Estamos sozinhos um do outro e lamentamos a nossa irremediável estultice. Mas permanecemos estultos e assim permaneceremos... lamentando. Apenas. Vem.

A PAZ - Um exercício de mentalismo para os mentalistas

A paz é redonda. Obesa. Mulher farta sentada. Imóvel. Imobilizante também. Uma mulher muito gorda, obesa demais, sentando-se sobre você. Sobre todo você.
A paz é asfixiante como uma mulher gorda, muito gorda, deitada sobre você.
A paz gorda deitada sobre você é entediante e o tédio só advém do estado imobilizado embaixo da paz.
É preciso que essa mulher gorda, farta, deitada sobre você, imóvel como toda obesidade, seja ultrapassada. Pela direita ou mesmo pela esquerda. Mas ultrapassada.

Mas como ultrapassá-la se, deitada sobre você, ela é o Paraíso e o Paraíso é amorfo, insulso e inodoro?

Diferente seria se esta mulher obesa fosse inflável? Fosse capaz de ser inflada por nós mesmos e quando o tamanho e o peso fossem insuportáveis, um alfinete resolveria a questão?

É uma idéia. Mas as boas idéias necessitam ser perigosas. Não sendo, não são boas idéias. E qual o perigo que seria ser inflada por nós mesmos e estourada, pummm! por esses mesmos nós?
Estaria o perigo - necessário para ser uma boa idéia - no nunca sabermos a medida exata de suportar o peso na medida certa, no último átimo de tempo antes de passar a ser insuportável?
Ou estaria no momento jamais sabido de usar o alfinete?
O risco de não saber o instante ideal, a ubicação, a mosca...? o insustentável? o imprevisível absoluto?

Onde estaria o nosso prazer de acabar, por ponto final na nossa Paz?
O prazer de voltar à instabilidade e à mobilidade? Mover o nosso timão para a popa da paz?
Ou movê-lo para a proa como mandam a moral e os bons costumes?

A paz é uma mulher gorda, obesa, imóvel, construída e argamassada por gigantes sanduíches de moral? Grande mortadelas de bons costumes? Grandes e multivariados bombocados de doce tédio do bom procedimento?

Ah, esta mulher gorda, obesa, enfastiada está amassando os meus ovos, meus mamilos, minha barriga gorda, entortando a minha boca e está me dando nos nervos!
E alfinetes não me resolverão o fastio.

Devo voar para o Mar Vermelho onde habitam demônios e com eles chafurdar nas lamas e de onde virão à luz cem mil mais demônios nascidos do nosso coito?

Ah!, este tédio redondo me vem com os vomitares de todos vocês!

segunda-feira, 12 de outubro de 2009

Um amor que não volta...

Tenho tantas saudades de mim. Coisas que andam soltas no meio das outras e que não presumo união entre elas.
Tenho contas a pagar. Tenho muitas que se perderam no tempo e que não sei mais o resgate possível delas.
Tenho dívidas para comigo. O onde me perdi e não encontrei o caminho da ida.
Fui aonde não devia, te procurei tanto e nunca mais te vi. Fui, sim, fui pouco talvez.
Deveria eu ter traçado ou tentado caminhos diferentes?
Não sei, não me cobres coisas. Não sei se posso pagá-las.
Anda, passa um pouco da tua mão na minha cabeça. Faz-me um carinho. Pequeno que seja, mas que me dê vida e assombre os meus olhos. Causa em mim um espanto. Não fiques mudo. Não me deixes tão mais mudo.
Mostra-me as tuas mãos. Mostra-me o teu peito, mas não me deixes tão atordoado. Ergue as minhas mãos a uma altura em que eu não possa mais resistir e desce o punhal. Mata-me, mas não me deixes aqui, assim, parado, cansado deste meu olhar cansado.
Anda, por favor, beija a minha boca que há tanto está seca e aberta. Beija-me e arranca a alma que está engolida nela.
Molha-me a língua. Mostra-me que há um céu e que eu posso adentrá-lo, mas não me deixes assim, tonto de tanta alegria e medo.
Fala comigo duas frases... só duas ou três ou não fales nada. Cala-te, mas olha o meu olho e vê nele toda a saudade, toda a tristeza que me tira o sonho de estrelas.
Não esperes mais nada, vai, arranca tua camisa e faz dela um chão pra eu me deitar... ainda há tempo. Por favor, uma única ou última vez e terás salvo um homem.
Salva-me de mim mesmo e salva-te da tua inércia. Desliza tuas mãos nas minhas e vê as veias saltadas de um sangue novo de esperança. Arritmia. Apnéia. Ventos soprados de dentro, ventos há tanto guardados, ventos esgarçados em pedaços, tiras finas, mas grandes de muita esperança...
Só mais uma vez aquele beijo de despedida na porta. Uma só e poderei viajar para o meu mutismo eterno. Prometo-te a calmaria de um grande amor perfeito refeito e deixarei em ti a marca de uma paz nunca antes sentida. A paz dos mortos em paz. A paz da paz. O nada indizível.
Mas não me deixes assim, parado, pregado na cruz de mim mesmo. Na cruz do nunca alcançado. Faz alguma coisa por ti e por mim.
Descansa a tua cabeça na minha. Pesa. Não te importes com o peso de nada porque nada é mais pesado do que a tua falta e eu já a tenho tanto acostumada.
Deixa-me tocar as cordas do violino da tua alma, aquela perdida por ti e por mim. Permite-me alcançá-la e os sons que dele virão serão tão arregimentados pelos deuses, tão embalados em amores que todo o universo vai cantar uma só canção. Eu te farei ouvir e te acalmarás e acalmarás as dores de tantos seres que cantarão, em uníssono, a felicidade de ver e compreender.
Mas vem, toca-me a ferida aberta. Sangra-a. Purga a minha dor. Sangra a tua mesma ferida. Sangra-a e purga-a, mas vem. Não temas.
O tempo nada mais é do que uma ilusão quando se vive. Só é a maldição se não nos amarmos.
Assim me despeço de mim, o antigo que será refeito pelo toque teu. Se não, despeço-me de ti, sem os teus toques, sem os meus sinos e sem as campânulas dos céus. Despeço-me da vida... do sonho. Das dores e das esperanças e continuarei mudo. Inconcluso.

terça-feira, 6 de outubro de 2009

As Farmácias e os Sex shops

Todo mundo sabe o que é um sex shop. Todos já foram a um algum dia, ou quiseram muito e não tiveram, ainda, a coragem necessária. É algo que, se não freqüenta, por enquanto, os horários comerciais da televisão, já se arrisca em outras mídias.
As mulheres são as maiores freqüentadoras; depois os gays e por fim, os “homens”. Os velhos rarissimamente vão. Média quase nula.

A média de idade das freqüentadoras é de 25 anos – e raramente freqüentam sozinhas. Vão decididamente em duplas. (Sempre me pergunto por que as mulheres andam em bando...)

O que é necessário frisar é que todos os freqüentadores vão ao sex shop buscando alguma coisa que complemente, ou capacite, ou melhore, ou resolva a sua atividade sexual. E vão com uma certa sensação de coisa que se deva esconder, coisa pouco publicável. Coisa transgressiva.
Lá dentro permitem que a fantasia role solta. Tudo é possível ser fantasiado desde que a expressão externa não denote nada além da “cara de paisagem”. Compra-se o que melhor se adequou à fantasia do momento, paga-se e vai-se embora com a mesma e altaneira cara dos católicos e neo católicos: isso não foi comigo!

Numa estrutura sociologicamente bem equilibrada, os velhos têm uma única e inequívoca função que é transmitir malícia aos mais jovens. Malícia no sentido de argúcia, sagacidade, sutileza e não de artimanha, ardil para subversão. É aquela capacidade de, utilizando todo o potencial revolucionário e transgressor do jovem, sintonizá-lo para a melhor consecução da ação pretendida por esse jovem.

Ora, sabemos que, hoje, as coisas não andam assim. Essa função perverteu-se em 3 funções básicas do velho na nossa sociedade: atrapalhar o fluxo nos corredores e nas escadas; enriquecer médicos e clínicas e oferecer conselhos ridículos aos netos. Nada imponente!

E parece que os velhos gostam muito disso, embora os transeuntes de corredores sempre se irritem, os médicos e as clínicas agradecem.

E onde fica o prazer sexual dos velhos que, mesmo mais rarefeito no se refere ao coito, são impedidos de expressá-lo ou vivenciá-lo até o último instante da vida? O prazer original de criar e manter – nesse caso, o prazer de ser útil na capacidade de transmitir argúcia aos mais novos, até o fim da jornada quando serão substituídos pelos jovens que se tornaram velhos, foi cruelmente decepado na sua manifestação.

Sabemos que uma energia específica debandará por outras vias caso a sua via natural de expressão esteja entupida.
O que aconteceu então com os velhos?
Eles vão para as farmácias e vibram como se estivessem em um sex shop!
Os velhos e velhas ficam horas nos balcões conversando com a atendente que, obviamente não está ouvindo nada, falando das suas doenças, da carestia dos remédios, das dosagens específicas que lhes cabe, da necessidade de não passar um só dia sem um comprimidinho desses, caros, abusivos, que provocam dor no estômago, dos impedimentos de comer gordura, açúcar, carboidratos... (essas coisas boas da vida!). E saem de uma farmácia e vão para os balcões de outras para comparar os preços abusivos dos remedinhos... ufa! Orgasmos múltiplos durante todo esse périplo.
E fazem isso com tanta naturalidade, tanta aprovação social. Nem precisam da amiga ou amigo irem juntos.

E sabem por quê? Simples.
Eles vão com receita médica. O médico/deus autorizou e indicou esse prazer. Ao contrário do sex shop.
Ora, tanta coisa torta nesse mundo!