domingo, 9 de junho de 2013

A adolescente e a foda da vida, as letras douradas e mais nada.

Senhores, eu encontrei um leitor que não é amigo meu! Viva!

Mas alegria de escritor bissexto dura pouco, poxa! Esse leitor não amigo informa que apenas folheou o meu livro “A Vida é foda. Então, foda-se! (Lilith – o prazer da transgressão) Não o leu.

Meu livrinho vendeu até que bastante diante da realidade do mercado de leitores quase inexistentes do Brasil. Bem mais de 2/3 de toda edição já foram vendidos. Claro que dessas quase 1000 pessoas, uma grande parte é de amigos, parentes, afetos que foram ao lançamento e compraram por amor a mim. (Nem sei se leram. O Billy, a Dinha, esses leram porque fizeram comentário, mas nem a Narciza leu, que eu sei! A Pompéia leu porque se sentiu atraída pelo título, não pela foda nele, mas pela presença de Lilith). 
Agora, acabo de ler um texto de um leitor que não me conhece pessoalmente e que se deu ao trabalho de honrar. http://gihguedes.blogspot.com.br/2010/02/vida-e-foda-entao-foda-se.html.

Ao descobrir o tal texto; ao iniciar a leitura, medo, ansiedade, esperança, defensiva: afinal alguém se dignou a registrar suas impressões. Nossa! até imaginei que eu pudesse ficar honrado, fosse qual fosse o teor do comentário.
Qual o quê? Nada! Só frustração mesmo. Meu livrinho de capa com letras douradas não conseguiu provocar coisa alguma, a não ser o deslumbre pelas letras douradas e um título curioso.

Mas... mas... o leitor/não leitor se apressou em fazer um comentário e postar no seu blog onde se misturam corredores da Livraria Cultura, títulos de livros com comida da vovó e quilos a mais ou a menos na dieta...
Fiquei impressionado com a capacidade do leitor/não leitor/escritor de deslizar nas concordâncias nominal e pronominal; com o léxico desnorteado e uma sintaxe que me lembra o ornitorrinco: que não se define se é pássaro, réptil, ave ou mamífero. Vale a pena conferir.

Vou ficando por aqui; domingo de sol com frio, a emoção de vislumbrar um comentário sobre um trabalho meu e a realidade do vazio. A vida é foda, Senhores...

De qualquer forma, falem mal ou falem errado, mas falem de mim!

sábado, 1 de junho de 2013

Sávio, o escondidinho, a prataria e o requinte

O papo tá, aqui, rolando solto, mas como é convenção nossa, do Sávio e eu, papo de boteco tem que ser em boteco, vamos nós para o Beirute! Ele já foi à frente, no carro dele e eu não pude perder a chance de escrever uma coisa interessante que ele me contou.
Disse ele que, certa vez, uma amiga de um companheiro dele, daquelas que já dão sinais claros de carreirismo na primeira vez que te encontram, o convidou para comer um escondidinho na casa dela, num dia de semana, entre um turno e outro do trabalho.
Segundo ele, a moça em questão, não era negra, nem chegava a ser mulata, mas tinha o cabelo bem enrolado, pixaim, mesmo e que o esticava a força de reza-brava e chapinha, todos os dias, tingindo umas mechas de loiro (eu já vi tudo e, claro, revirei meus olhos do alto das minhas conclusões automáticas e instantâneas), o que, certamente dava a ela uma sensação de brancura.
E com a sua mesma cara de quem não formula nada a respeito e que só se utiliza desses dados para reflexão, continuou:
- A moça me convidou para esse almoço porque, um dia, eu comentei que adorava escondidinho e fui. Com a cara e a roupa do dia, sempre com barba por fazer (a cara e a roupa!), cheguei, o apartamento era miúdo, mas com uma tal exuberância de móveis enormes que o “passeio” (lugar para se locomover, explica ele) era quase inexistente. Você ficava em sérias dúvidas se aquilo era para impedir a locomoção ou se servia como obstáculos, a guisa das corridas.
- A sala de jantar tinha 3mX3m e abarcava uma mesa com tampo de vidro de 1.20mX1,20m, 6 cadeiras de espaldar alto, completamente revestidas de branco e, por sobre a mesa, um tecido tipo adamascado, cor ouro velho, meticulosamente arrumado para parecer que tinha sido, assim, indiferentemente, jogado ali, sobre ela... e ainda, no centro dela -(arregalou os olhos para falar) um castiçal modernoso, de 6 braços, com, mais ou menos, 90 cm de altura!
- Me pareceu que o pobre do castiçal se encurvava um pouco para caber entre a mesa e o teto! – fala com certa comedida contrição.
- Aí, moça da casa, mãe da moça da casa, 2 filhas da moça da casa, o filho da mesma e eu à mesa, eis que a doméstica entra com o escondinho!
Para um segundo, se apruma na cadeira:
- Cara, foi aí que eu notei que a moça tinha descido toda a prataria da casa para o almoço. Meu prato repousava sobre um sousplat prateado enorme. Todo mundo também tinha os sousplats iguais, os talheres eram (ou imitavam) prata, o réchaud era de prata, os suportes para o pirex eram de prata! Foi aí que eu percebi que eu estava muito constrangido e sem lugar para pôr os cotovelos porque os sousplats ocupavam tudo! Bicho! Copos de cristal, dois tamanhos, de água e de vinho!
Cruza os braços que já estavam a ponto de virarem asas, volta à calma e diz conformado:
- A moça deve ter pensado, nossa! Como estou impressionando bem! Como estou fazendo figura boa! e eu, porra, pensando essa moça desceu a prataria para servir o escondidinho, porque ele merece? Essa moça desceu a prataria para mim porque eu mereço ou porque ela me pensa pior ou melhor do que sou para tentar me impressionar ou me mostrar o quanto é maior que eu?
- Mas e...? pergunto eu.
- Uai, eu imagino que a moça tenha querido demonstrar o requinte dela...
-E...? insisto.

- Não sei. Mas uma coisa me ficou – conclui – na minha casa eu não tenho prata, nem panelas direito eu tenho e os meus copos são aqueles que ficam depois que você consome o requeijão, mas o meu requinte está no carinho com que recebo meus amigos para comer. O requinte de servi-los como se serve a uma divindade. Como um Deus serve a outro Deus, sem parcimônia e sem subserviência. Namastê mesmo!