domingo, 12 de setembro de 2010

Café da Rua 8. A incivilidade. O desrespeito e a afronta


Quero agradecer ao Café da Rua 8 por mais uma noite insone... já foram tantas nesses 14 anos que nem chega a ser mais surpreendente.

Ontem foi a comemoração do seu aniversário e, como ocorre anualmente, é programado um show na via pública. A rua é fechada. Nem moradores podem estacionar nela depois das 18 horas.

Um show sofrível, de qualidade artística discutível e, definitivamente, a escolha do mais descaracterizado equipamento de sonorização. O resultado é de festinha escolar de fim-de-ano.

Separados estes detalhes, o que impressiona mesmo é o desrespeito, a invasão, a incivilidade, a despreocupação com a coletividade, com a vizinhança e, ao que tudo indica, também com a Lei do Café da Rua 8.

O indefectível show começou por volta das 18 horas e prolongou-se até às 2:30 da madrugada. (Segundo o que eu ouvi na Delegacia de Polícia houve desrespeito à validade do alvará, quando o horário de término foi longamente afrontado)

Deixa estar que eu, vizinho desse mau vizinho, esperei, com fé nos deuses que após o término da festinha, eu pudesse ter silêncio para desfrutar o meu merecido e duramente conquistado descanso. Ledo engano!

Quando tudo parecia silenciar a empresa que montou o palco – A Palco Locações – resolveu desmontar a enorme estrutura que fora usada. Um grupo de funcionários barulhentos que, além de falar muito alto, rir desbragada e ruidosamente, não têm a mais pequena noção de ordem e silêncio.

Cada cano que era desmontado era atirado no asfalto e lógico, todo o estardalhaço referente.

Indignado eu desci e fui pedir que não fizessem barulho porque eu queria dormir.

O funcionário olhou para mim, disse que estava cumprindo o serviço dele.

Revidei com vontade, quando ele me olhou e disse, na pachorra dos que se sabem protegidos: “agora que eu comecei a fazer barulho, é que vou fazer mais!”

A Palco Locações é de propriedade do Wilsinho e eu conheço o Wilsinho de longa data. Conheço e admiro a sua competência. E imagino que ele não saiba como sua equipe trabalha. Mas sempre a conduta dos funcionários de uma empresa reflete a conduta da empresa e seus dirigentes. Faz tempo que não o vejo. Será que anda acontecendo esse afrontamento à ordem e ao silêncio com a conivência dele?

Quando falei com um dos funcionários que eu conhecia o Wilsinho e que ira me queixar, ele me afrontou novamente e perguntou se eu queria o telefone do patrão...

Os proprietários do Café da Rua 8 foram para as suas casas dormir o sono dos patrocinados. O Wilsinho estava em casa dormindo o sono dos justos e eu tentando tampar os meus ouvidos.

Na Delegacia aonde fui registrar a ocorrência, a agente de plantão comentou que “esta gente (do Café) dá trabalho demais”

A Polícia Militar enviou uma viatura por duas vezes para admoestar a equipe infratora e, enquanto a Polícia permaneceu no local, o barulho era diminuído. Após a saída, os funcionários olhavam para a minha janela, que fica em frente, e recomeçavam, intencionalmente, a piorar a algazarra.

Os Policiais me aconselharam tomar uma medida mais severa porque, segundo eles, é tanta reclamação, tanta queixa contra o Café que já cabe um pedido de fechamento do mesmo.

Até quando a absoluta desconsideração e a impunidade do Café da Rua 8 vão continuar?

domingo, 5 de setembro de 2010

de sangue, iniciações e enganos... Parte 1


Ser linha descendente do sangue dos meus avós e dos meus antigos é salvaguarda para minhas iniciações. Ter o ranço antigo dos sangues antigos dos avós é opção de nunca poder ser iniciado. É uma questão de opção.

O sangue antigo mofa. Raleia. Empobrece. Entorpece e intoxica qualquer juventude. Talvez por isso os antigos faziam sangrias nos doentes.

Outra vez meu sangue foi novamente renovado. Perdeu-se quase todo e, de modo diferente das outras vezes, não foi expelido pela boca e sim pelo ânus. Sangue vivo, pulsante.

Os meus queridos, o meu filho, a Norma e a Amanda se desesperam comigo e se preocupam com o meu descaso com os jorros de sangue que se me saem e eu, impávido, tento fazê-los crer na Iniciação real, aquela pelo sangue. Eu os compreendo na sua incredulidade nas coisas da fé e da magia e na crença na presença médica. Por isso vou aos médicos a cada vez. Por eles e nunca por mim. E quando eu consigo comprovar mentalmente para mim e arregimento argumentos contundentes contra a medicina ordinária, então se me dá um novo alento, uma nova jovem força e me torno cada vez mais descomunal. São poucas horas para que se estanque abruptamente a sangria e minhas veias se encham de fortes bravuras.

Foi igual dessa vez.

Madrugada, eu trabalhando e aquela vontade de arrotar quando não há gases para arrotar. É o primeiro sinal inequívoco que vou sangrar.

Deitei-me e ainda consegui dormir uma meia hora, quando acordo e me dirijo direto ao banheiro, no box, enfio a mão inteira na garganta (não, não pensem que é isso que rasga a dita e por isso sangro!) e vem a golfada pequena, a primeira. Aguardo a segunda bem maior e logo depois a terceira que cobre todo o chão e as paredes ladrilhadas de um vermelho vivo, assustador... sempre tenho a impressão que muitas vozes saem desse sangue, tentando se agarrar ao meu de dentro. Se não vem a quarta golfada, posso voltar a dormir porque tudo já se concretizou e eu fui novamente iniciado.

Na penúltima vez vieram a quarta, a quinta e tantas até ao desmaio, já no Hospital, onde me levam com urgência para a UTI. Sexta feira foi diferente. Uma única e pequena golfada.

Para não acordar o meu filho que estava imobilizado por um torcicolo e nada poderia fazer por mim a não ser se abalar sobremaneira, resolvi pedir socorro ao SAMU. Incrível, em apenas seis minutos estavam aqui. Gentis, aparelhados, prestimosos e eficientes. Mas antes disso, pela primeira vez senti uma cólica forte e deixei-me sentar no vaso onde mais de um litro de sangue vivo foi derramado. O mal estar passou e eu sabia que já tinha sido iniciado.

Mas – sempre o mas – o receio de vir a criar problemas para os meus queridos que, fatalmente, vão se culpar de alguma forma – por mais que eu ache isso descabido, não depende de mim, é deles! – fui para o Pronto Socorro. (não vou dizer qual porque acabo de saber que se pode falar, fazer e maldizer qualquer um ou qualquer coisa, desde que você não assine o que fez, falou ou maldisse.)

A saga continua, Senhores. Não acabou. Se alguns dos senhores quiserem saber o desenrolar, o post anterior conta algumas peripécias médicas. Algumas risíveis. Outras assustadoras.

Eu vou me sentir honrado com a sua leitura, mas antes que você decida se vai continuar ou não, diga-me se estou mais louco ainda ou se tenho razão: já atentaram para o fato que os médicos passam dez ou mais anos de sua vida acadêmica estudando doenças e nunca a saúde?

de sangue, iniciações e enganos... Parte 2

Cheguei ao Pronto Socorro de ambulância após ter passado por uma triagem médica que autoriza ou não o transporte pela ambulância e lá, na sala de recepção do Pronto Socorro há três enormes cartazes que indicam a prioridade no atendimento e que pacientes chegados em ambulância terão prioridade porque “correm perigo de vida”... eu acho que ninguém daquele hospital leu ou viu esses cartazes além do pessoal da programação visual. Mas tudo bem. Coisas da indústria da doença.

Na sala de espera havia apenas um casal com uma criança de dois anos, talvez, adormecida. Assim, mesmo assim, tecnicamente priorizado para atendimento urgente, eu esperei uma hora e meia para ser atendido... visitei o sanitário umas oito vezes, provavelmente e muito sangue ficava no vaso.

Fui chamado para a consulta e, perdoem-me o preconceito, mas o médico que me atendeu me lembrou aquela piadinha antiga do doido que ocupou o lugar do médico enquanto esse almoçava e atendeu a uma paciente que dizia ter dor na barriga e a recomendação dele foi que girasse a mão direita diversas vezes em torno do umbigo, no sentido horário. A paciente lhe perguntou por que não poderia ser no sentido contrário, ao que ele, peremptório, respondeu: Não pode porque se não, desatarraxa o umbigo e a bunda cai!

Eu relatei rapidamente ao médico toda a minha experiência com esses episódios de sangramento, focando-me nos dados que interessam para que fosse certeira à informação mais apropriada: sou cirrótico, portador de hepatite B, esplenomegalia, calibre diminuído da veia porta, grossas varizes de 9mm no esôfago e estômago. Necessito transfundir, se o hemograma confirmar anemia grave...

Ele pediu-me que me deitasse na maca e mediu minha pressão – estava alta, ao contrário do que deveria ser... (já houve um médico em Brasília e seu antigo professor do tempo da Faculdade de Medicina da Praia Vermelha, no Rio, que me disseram que eu procurasse “um centro de macumba porreta por que o meu caso a medicina adora, por que não compreende”) – e creiam-me, ele foi para o computador e me pareceu – claro que eu já estava bastante obnubilado e posso ter me enganado, mas me pareceu durante todo o tempo grande que ficou à mesa, estar fazendo consultas para saber como deveria proceder... dei ordem de saída a essa impressão e cochilei.

Mandou-me para o posto de enfermagem onde me dispuseram em uma maca e junto o indefectível soro fisiológico. Lembrei-me de avisar a auxiliar de enfermagem que falasse ao médico que eu faço ascite muito rapidamente e era preciso que ele controlasse a aplicação. Ela me respondeu singela e confiante: Pode deixar, eu vou pôr pra correr bem devagarinho...

Mandei um “foda-se” mental e disse a mim mesmo, Mãe, perdoa-os porque eles não sabem o que fazem e virei-me para dormir.

Por volta de uma hora depois vem um auxiliar de enfermagem, negro, muito alto, muito magro, bonito, com cara de gente boa, daquelas figuras quase invisíveis, mas que parecem ser onipresentes... não sei por quê tive essa impressão sobre ele. Chegou com uma cadeira de rodas e levou-me através do labirinto de Creta à sala de ecografia.

O médico que faria o exame referido, muito jovem, perguntou-me a minha queixa, ao que respondi, sonolento, hemorragia em varizes esofagianas... ele me olhou, olhou para a requisição do médico clínico e me perguntou porque ele, o clínico, havia pedido aquele exame se a ecografia não pode detectar hemorragia.

- O Sr pergunta para mim, Doutor? Eu sou só paciente.

- É porque não estou conseguindo ler o que ele escreveu aqui embaixo... não entendo a letra dele.

Pensem, Senhores!

A ecografia foi feita. E o convênio paga, não é?

No outro dia, o médico que chegou para o novo plantão, às 13 horas, me disse que o anterior deveria ter se enganado, que na verdade ele desejava uma endoscopia!

E mais, só às 10 h da manhã foi colhido material para fazer o hemograma. Até então ninguém havia se preocupado na única coisa que deveria ter sido feita imediatamente: avaliar a anemia para indicar a necessidade ou não de transfusão.

Puts, desculpem-me, mas isto está parecendo relato de hipondríaco compulsivo... já está me dando no saco. Vou ser mais breve.

Fui à minha médica particular, na terça feira – sangrava desde sexta - que me acompanha há mais de 3 anos e ela me fez a endoscopia e comprovou que o sangramento não estava na parte superior do abdômen. Deveria estar acontecendo no intestino.

Providenciou imediatamente uma consulta, na mesma hora, com seu colega proctologista que, a olho nu, viu o sangramento que eu já não mais conseguia segurar (juro que pensei usar um tampax!).

Ele, muito atencioso, solicitou um exame que eu não conhecia, que é uma coisa como endoscopia do intestino, para o dia seguinte e orientou-me para um preparo. Deu-me um cartão com seu fone móvel e me disse, com olhar contundente que, qualquer coisa, ligasse para ele,

Deixa estar que antes disso, a minha médica solicitara um novo hemograma e mais aquelas coisas todas que eu não sei e nada me preocupo em saber. E que fosse em caráter de urgência para confirmar ou não a transfusão. Eu só poderia fazer estes exames naquele hospital onde estivera na madrugada de sábado, porque é um dos dois únicos que aceitam o meu convênio.

Nesse meio de tempo, entornava comprimidos e laxantes que o proctologista me indicara. Pensem mais um pouco: a pessoa está sangrando no intestino há cinco dias e toma laxantes fortíssimos para fazer a limpeza do cólon! Se eu não conseguia segurar o sangue, imaginem agora a festa que não foi! Que falta me estava fazendo um daqueles modess antigos, enormes que as mulheres usavam! Pensei no fraldão geriátrico. Não! Isso ainda não! É mais constrangedor, na minha cabeça, do que um bom absorvente.

Mas como manda a prática médica da indústria e do comércio de doenças, o relatório da minha médica particular não foi levado em consideração e obrigado eu era a consultar-me com a plantonista do momento, naquele mesmo hospital. Menina nova, bonita, voz suave. Casada. 30 anos seria muito.

Ela me olhou e me informou que o resultado obtido não indicava anemia importante (gostei disso, desse modo positivo para se referir a coisa negativa), mas que ela iria me internar porque eu necessitava de observação.

Informei a ela que de lá a pouco mais de duas horas eu estaria sendo submetido àquela coisa que, no momento, eu já conhecia o nome: videocolonoscopia! (Que pompa, não?)

Ela pediu licença e saiu. Voltou minutos depois relatando uma conversa que tivera com o gastro de plantão e que ele recomendava imediatamente a suspensão do exame, que era absolutamente contraindicado naquele momento.

Liguei para o telefone do proctologista atencioso que me dissera que o chamasse em caso de necessidade, para saber o que fazer: se me internar e não fazer o exame ou fazer o exame e não me internar.

Diversas vezes o telefone era atendido e imediatamente desligado. Liguei para a minha médica. Não atendeu nenhuma vez.

De súbito, a luz: que vão todos vocês passear no parque porque eu vou para a minha casa.

A médica de voz suave me admoestou: Mas o senhor tem que cuidar da sua saúde... Eu respondi, é isso mesmo que estou fazendo, Doutora. Correr dos médicos é o maior cuidado que posso ter com ela.

Ela me olhou ainda e tentou ser mais efetiva: O senhor precisa ficar aqui em observação!

Eu devolvi o olhar com o desdém dos que sabem e não ocultam

- Dra, eu estive em observação. Aqui. Neste hospital e a única coisa que fizeram foi não me observar e recomendar um exame errado porque o observador não sabia bem o que fazer!

Ela ainda tentou: o Senhor pode ter uma hipotensão e aí vai ser pior.

Respondi fingindo uma amargura absolutamente apropriada.

- Dra, todos vamos morrer. O fim vem com ou sem a nossa aprovação e entre morrer de hemorragia ou de raiva de médico, eu prefiro, seguramente, morrer de hemorragia! E saí. Fui para a Vida que queria se instalar em mim

Menos de 6 horas depois de eu ter, mais uma vez, todas essas comprovações de que meu caso não é pra medicina e sim para o espírito, a hemorragia estancou. Já são mais de 24 horas do estancamento e hoje acordei cheio de Vida. O sangue jovem, recém nascido, adentrou-se por todas as minhas veias e por todas as vias do meu espírito.

Novamente iniciado.

quinta-feira, 26 de agosto de 2010

Aviso aos Navegantes



Quero avisar a todos os navegantes que tem gente visitando de maneira escusa as minhas comunicações. Meus computadores e meus telefones andam se comportando de maneira confusa... atrapalhada... e eram tão comportados!

Isso me cheira invasão e tentativa de rastreamento de minha vida “eletrônica”. Oras, eu tão quietinho aqui no meu canto e cantando meus cantos no chuveiro! Tisc... tisc... tisc...

Mas, como dizia a minha velha e falecida mãe “ah, menino bobo, quando você vem com o milho, eu já estou voltando com o fubá”! eu também estou voltando. E não com o fubá, mas com a polenta fria.

O mundo não é dos espertos (porque esperteza e idiotia andam juntas, ali, ó!). O mundo é dos inteligentes. Dos sagazes. Dos que já limparam os seus narizes e não deixam marcas. Só deixam rastros se forem de caiporas.

No mais, cifras e pentagramas têm seus usos absolutamente úteis... p’ra quem sabe usar. Não para quem quer.

Sacou aí, ô, imbáculo?

terça-feira, 17 de agosto de 2010


Sinto que essa coisa bate na porta, atrás, do outro lado, do lado de fora querendo entrar. Insinuante.

E em deboches eu me guardo aqui, com sete chaves e sete cadeados brilhantes, do lado de dentro dessas portas que eu travei ou se travaram, por si mesmas, eu não sei. Seguro idôneo todas as chaves com todas as mãos que eu tenho. Firmes. Seguras. Sobre o meu peito. Aqui não me chega essa coisa. Aqui ela não entra.

E afagos e doçuras se entrelaçam à frente dos meus olhos e me convidam para aquelas tantas voltas que o meu coração, esse com portas fechadas a 7 chaves, dava enquanto jovem e cheio de aberturas e canções.

Não vou me deixar entontecer por essas fumaças doces. Minhas narinas já não se abrem mais para os cheiros, os fios, as gardênias e não se entopem mais com esperanças. Fecharam-se. Resistentes. Determinadas. Nada há de haver mais forte, mais potente e nada há de me encantar com segredos de futuros adocicados porque eu conheço de cor o passado.

Essa coisa bate ainda lá fora e se esgueira pelas frestas, pelo olho mágico e eu tremo porque não há cadeados para frestas e logo, rápido, empurro móveis à frente delas. Não há de entrar porque não se presta mais ao que desejo. Mas é mentira. Mentira minha para os meus olhos e meus dedos. Mentira longa, deslavada.

E os tremores das minhas pernas me fraquejam as mãos que se crispam mais aferradas e eu fujo, corro, para trás do sofá e da poltrona, aquela que outrora sentaram amores que me amaram e se foram. Foram por essas pradarias e ruas das cidades das paisagens com ou sem casas: hábito soturno que todos tiveram ou eu os fiz ter, não sei, já não vale saber...

Não! Não me venham com falas e admoestações. Sofrível essa coisa de conselhos. Guardem-me de ouvir as suas falas que não se prestam ao meu dia cotidiano. Quero dançar a minha dança, com ou sem par, como não se costuma fazer. Como nada conseguiu fazer e se um conseguir, esse um vai ser eu.

Se chegada a hora e essa coisa olhar nos meus olhos, firme, impávida e sem tremores e me disser a que vem, o que oferece e o que me pede com clarezas, com clarezas eu a olharei nos olhos, impávido, inaudito e direi o que empunho e o que me empurra. E possa ser, talvez, que nos abracemos. E se chorarmos um pouco, vai ser de alegria.

quinta-feira, 12 de agosto de 2010

"Coma chocolates, criança! Coma chocolates.

Se eu for morrer amanhã ou depois de amanhã, deixem-me comer chocolates. Não me digam que açúcar faz mal e eu sou diabético.

Dêem-me jujubas, goma americana. Ah! adoro goma americana. Doce de figo, há tanto tempo não como e eu me pergunto por quê!

Todos estamos morrendo com ou sem chocolates. E por que deveria eu ser proibido de comer chocolates?

Dêem-me os açúcares que eu gosto e eu morrerei tendo os meus prazeres açucarados. Com ou sem diabetes eu sei que estou morrendo, a cada dia, como todo mundo também está – apesar de que as pessoas pensam que se não fumarem, não beberem, não comerem açúcares, fizerem dietas, correrem 3 parques ao dia elas não vão morrer.

Pena dizer que sim, que vão morrer e vão morrer sem os pequenos prazeres. Vão ter saudade dos chocolates e das jujubas. Vão lamentar não terem bebido o que lhes cabia beber. Comer as carnes que lhe cabiam na ração da Vida!

Muita gente não come açúcares porque açúcar faz mal e toma coca-cola dietética... e sabem que a coca cola é tão ou mais letal. Se tanto um quanto o outro são matadores, porque não se entregar ao matador já que ele, o matador, é a única verdade do Tempo?

Não me venham dizer, tontinhos, que o diabetes pode me causar gangrena que me corte as pernas porque um acidente de carro – dentro ou fora dele – também o pode... e os carros são potencialmente tão ou mais mortíferos que o diabetes! E nenhum de vocês para de tomar ou comer carros!

Aposto que estão se preparando para argumentar que se houver cuidados a vida será mais longa... será mesmo, bobinhos? O seu médico lhe garante isso enquanto entope suas veias com mais e mais química que vai lhe tomar parte dessa “vida” que você tanto pensa que vai durar para sempre... não come chocolates e toma remedinhos. E eu não me lembro de nenhum remedinho que me tivesse tido o mesmo gosto e me tivesse dado o mesmo prazer de chocolate. De jujuba. De goma americana. Hmmm!

E essa vida longa almejada, o que seria ela sem açúcares, sem chocolates, sem carnes gordas ou magras, sem os macarrões ternos das avós, sem as caçarolas italianas que a mãe fazia?

Ficar assim, privado de tudo, sentado numa cadeira, evitando a provisão para os sentidos, sem satisfazer a gustação, seria isso uma Vida?

Se é para os Senhores, não o é para mim! Que cuidem então das suas vidas, ocupem-se com elas de tal forma e tal intensidade que não tenham tempo nem para me ver comer chocolates. Porque eu vou comer chocolates até morrer, ou perder as pernas ou perder a visão. Ainda me sobra a alegria (para que eu deboche) de que o diabetes não tira o sentido gustativo!

Além de comer chocolates e jujubas e doce de figo eu vou fazer mais uma coisa para alegrar os meus dias de Terra: eu não vou querer ter carros, pelotas e maços de dinheiro, não vou me preocupar em ter contas polpudas aqui ou na Suíça, porque isso, Senhores, isso sim quereria me ocupar as horas de tal maneira que eu nem teria tempo para comer chocolates.

sexta-feira, 6 de agosto de 2010

quem sabe, faz...

Quem sabe, faz. Quem não sabe, ensina! Então, eu trabalho com treinamento assertivo. Treino assertividade nas pessoas. E quem me conhece sabe que sou muito pouco assertivo... confirmo a regra!

Hoje eu quero falar sobre a Rosa Coimbra. Conheço a Rosa há 20 anos, já trabalhamos juntos muitas vezes e ela é uma das pessoas por quem eu meto a mão no fogo por todos e quaisquer motivos.

A Rosa é confiável, honesta, dona de opinião forte, determinada e irremovível de seus princípios e, principalmente, assertiva.

A Rosa consegue comandar e mandar sem ferir seus comandados e não pensem que é com aquela candura estimada pelos fracos. É com voz forte, determinante. Não com aquela voz dos que gritam. É só determinada. Firme. Olhando nos olhos.

A Rosa mede as palavras. Não aquela mensuração dos que as engolem e as dissimulam e as enfeitam com doçuras e disfarces. A Rosa mede a palavra mais adequada. A que cabe, a que se adéqua sem ferir, nem adoçar.

Andam falando que o poder subiu à cabeça dela... que tonteria! Conheço a Rosa no e fora do Poder e o único poder que a Rosa tem, verdadeiramente, é o seu pessoal. Próprio.

O cargo que ocupa nunca fez diferença para ela... Portadora de poder pessoal inequívoco, Rosa dispensa cargos e funções. Rosa faz. Rosa executa. Rosa intermedia. Rosa acata. Mas sem nunca ouvir antes a si própria e a seus desígnios internos. Isso é a verdadeira assertividade.

Fico olhando-a de longe, aquela mulher mignon, cabelos compridos ora castanhos e antes avermelhados, magra, muito magra, admirando-a. Sempre atenta, sempre disponível, sempre incansável e sempre batalhadora por guerras coletivas.

Os fracos, os sonhadores de cargos, os que vendem os pianos todos os janeiros se o governo não der mais uma teta, porque as 18 que já mamam estão poucas, esses falam mal da Rosa. E hão de falar sempre, porque sempre existirão esses, os que ladram à margem da caravana. São eles que enfeitam os grandes, os destemidos. Sem eles, não há fanfarras para os vencedores... pois que continuem gritando os seus gritos. Enchem os nossos ouvidos de prazeres. Acreditem, é música de grande serventia.

Eu, no alto dos meus quase 60 anos, estou me transformando em mais ouvinte do que falante... e tentando experimentar, na prática, o ditado árabe: quero ficar na minha porta até o último da caravana passar.

Bravo, Rosa!

quinta-feira, 5 de agosto de 2010

segunda-feira, 26 de julho de 2010

Lilith, o BBB e coisas valiosas...


Então, estive no BBB (Bruxa(o)s Brasileira(o)s em Brasília, na sua 12ª edição. Fui falar sobre a minha experiência com Lilith. Fomos o Volupto e eu.

Quero dizer que foi muuuuuito bom, sabiam?

Antes de tudo pela organização e pelo astral super alto que lá encontrei. Depois por ter podido reencontrar Trahen Ceridweenn, Garnet... pessoas com valiosas informações para mim que estou sempre precisado delas e agora, principalmente. Diria que são oportunas. E terceiro e mais importante, pelo fato de falar de uma experiência minha, chamada de herege por alguns bruxinhos de São Paulo (aqueles, os quais cito sempre, as cults!); de desmiolada pelos conservadores e por viajandona pelos mais visionários.

Senhores, digo-lhes, foi uma experiência complementar para mim.

Ora, chega aí um neófito urbano para discorrer sobre peixes para pescadores... é engraçado, não? Falar sobre Lilith para bruxas e bruxos diânicos é quase uma diabrura... acreditam que não foi?

Foi mesmo uma experiência compensadora estar entre 40 olhos me olhando, com prontidão para receber o que eu estava levando... e mais, fantástico, para mim, todos me olharam com olhares que me ofereciam oportunidade.

Não sei se serei capaz de me explicar, mas algo como que me dizendo que abriam mão de todos os seus conhecimentos acerca da matéria, colocavam-no de lado, para receber a minha proposta, sem julgamento automático. Sem aquela conduta imediata de dizer eu sei e não me venha com coisas diferentes porque o que eu sei é tudo e é a verdade... foi ter uma experiência de agregação de saberes e vivências, tão ao contrário do que expus – ao mesmo tempo que invocando o inverso – da imaculabilidade dos saberes pessoais, no texto último do meu blog.

Fiquei literalmente empolgado por ver pessoas me ouvindo falar sobre uma grande conhecida deles, sem me julgar isto ou aquilo. Só ouvindo com olhos ávidos.

Quando eu li para eles os 7 Mandamentos de Lilith... Deusa Negra!... eles entenderam tudo: aos seus conhecimentos anteriores se juntaram os que eu estava trazendo e tudo ficou maior para todos... especialmente para mim que pude ver, isto mesmo, VER como a Senhora Negra Primordial – o ventre que é o princípio - aproveitou esse momento para ocupar mais espaços. Mais ainda do que os que já ocupava em cada um!

E Lilith foi se alastrando insidiosa, ocupando os seios dos homens e os das mulheres, serpenteando silenciosa, fascinante, assertiva, decidida e permeou todo o espaço. Pareceu-me que ela ocupou, de verdade, mais seios e mais ventres... não sei, não me cabe mais afirmar coisas ou negá-las a esse respeito. Ela me diz sempre que eu cale a minha boca mental e continue fazendo aquilo...

Obrigado, Mavésper! Obrigado pelo convite. Foi mais uma experiência de Vida que tive!

E os bruxinhos paulistas, aqueles os tradicionais, os cults, só posso sugerir que liberem o reles... dá mais futuro porque Lilith, essa que vocês não pronunciam o sagrado nome, dá voltas no estômago de tanto rir. De vocês, claro!

Grande beijo para todos os BBBistas, para Mavésper, os palestrantes, as cozinheiras, o Volupto e para mim, porque a gente merece.

Para os outros... o que eu posso dedicar agora é um pouco, digamos, impublicável entre gente de “bem”, e que, na verdade, é só um pum! Eu não sou gente de “bem” mesmo!

quarta-feira, 21 de julho de 2010

Dhritarastra e o culto a Maya...


Então, não sei se estou certo ou se me engano redondamente, mas, para mim, o mundo é uma bola de conhecimento, com escada.

Já me explico.

Em geral as religiões e as culturas religiosas afirmam que estamos aqui, no Planeta, para aprendermos coisas que possam permitir ou realizar a nossa evolução. Não entro nesse mérito, mas garanto que, de uma certa forma, têm parte da razão.

De um modo geral se afirma que o conhecimento humano é cumulativo quando se alicerça sobre uma filosofia semelhante e excludente quando as parecenças não se apresentam. Eu não concordo plenamente com isso; que possa haver diferenças entre qualquer conhecimento humano. No lado oposto, embaixo, acima, ao lado, sempre haverá uma comunhão entre qualquer sentença de pensamento. Assim eu entendo evolução.

O Michaellis registra evolução como “progresso paulatino e contínuo a partir de um estado inferior ou simples para um superior, mais complexo ou melhor. Progresso contínuo de simplicidade inorganizada a complexidade organizada. Transformação lenta, em leves mudanças sucessivas.” E, na rubrica Filosofia “desenvolvimento lógico de uma idéia no tempo; sucessão de sistemas que se engendram uns aos outros. (grifo meu)

Não sei uma conceituação mais simples e tão eficaz!

Estar-se em um degrau de uma escada e, engendrando idéias e sistemas, com o passar do tempo, alcançar-se outro.

Há inúmeras maneiras e sensos de se pretender a evolução. Continuo afirmando que é outro mérito o qual não quero tratar. Apenas quero falar da evolução das práticas com objetivo na evolução das idéias, dos sistemas e do próprio ser.

Na contramão disso vem o reconstrucionismo, isto é a prática de se resgatarem processos e sistemas anteriores do tempo e do espaço atuais.

Como se me explica uma tradição religiosa que propõe (e exige também) uma volta às práticas religiosas dos começos da humanidade civilizada e, consequentemente do sistema de pensamentos dessa mesma humanidade, objetivando uma dada evolução, por meio do resgate das práticas que já foram abandonadas no tempo e no espaço?

Isso me remete aos mestres e gurus detentores dos conhecimentos e regras e sistemas de cada religião.

Como abordei em texto anterior, um determinado mestre entende que o seu entendimento é único capaz de explicar um conceito específico e, na ânsia de manter essa pureza de entendimento, evita que outra interpretação venha conspurcá-la e exige de seus discípulos que sigam a sua orientação de forma igual e de igual maneira a imortalizem.

Ora, além de não permitir que seus discípulos venham a “construir mais um degrau” de evolução, tornam a coisa estanque e infértil.

Assisti ontem ao MahaBharata do Peter Brook – não sei se o diretor foi fiel ao texto original porque não o li integralmente – onde os diálogos trazem posturas e permissões frontalmente contrárias ao que os mestres e gurus nos informam.

Não sei se me interessei por eles porque garantem o meu entendimento sobre a vida e suas evoluções ou porque eu sou mesmo grandemente incapaz de seguir orientações de mestres e dos auto-prepostos das leis.

Momento em que a mulher enfurecida amaldiçoa Krisna... como assim, amaldiçoar um deus? Não é assim que os mestres ensinam!... pelo contrário, já disseram a mim, alhures, que se não se entoarem os mantras hindus em bom e claro sânscrito, os deuses lhe farão ouvidos moucos (à época tive pena dos fanhos e mudos, mas fazer o quê?... o mestre devia estar sabendo o que ensinava e punha em exigência). Como assim, então, se não posso nem lhes falar o sânscrito com sotaque, amaldiçoá-los?

No mesmo filme, quando Narda está vulnerável às flechas de Arjuna, Krisna, peremptório, lhe ordena que atire as flechas. Arjuna sequer lhe dá ouvidos... por 3 vezes. Como assim, não obedecer aos comandos de um deus que lhe fala diretamente?

Há muito que falar sobre essas coisas, mas não me cabe tempo e muito menos paciência e minha coerência me adverte não ensinar nada do que eu entendo como entendimento. Haverá o momento certo, a pessoa certa, no cenário certo que eu terei a obrigação de expor-me e essa pessoa levará adiante, aonde a informação tem que chegar.

Neste mesmo filme, na cena final, Yudhisthira passa, vivo, o portal do Paraíso, onde encontra, em bem-aveturança, o seu primo Duryôdhana. Decepcionado pede a Vyasa que o leve até onde estavam seus irmãos e Draupadi... tão virtuosos e capacitados para a ação reta! Onde estavam? Sofriam no reino das sombras, no meio de dejetos, corpos putrefatos e nenhum ar puro... Como assim?

Vyasa responde simples... tudo é Maya, meu querido.

E eu pergunto a todos esses mestres e discípulos e seguidores e mantenedores da imaculabilidade por que insistem em ser e agir como Dhritarastra – cegos de olhos e de almas? Por que não escutar, ao menos, a fala de Kunti Deva que diz que para enxergar basta um pouquinho de coragem?

Por que tanta devoção a Maya, mestres?

quarta-feira, 14 de julho de 2010

... assim acima como embaixo.


Que assim seja e assim se faça porque assim é a vontade!

sexta-feira, 9 de julho de 2010

Eu Don Quixote e meu coração Sancho Pança


Quando a lua me chama, eu me lanço, lança! Eu me entrego, amolecido, a ela. Sangues nas veias, correndo céleres, acelerados, volteantes, massivos em direção a ele, o meu coração....

Sempre houve um espaço, um reduto onde eu guardo você como o meu mais proeminente coração. Aquele vivo, ardente e que se entrega a mim, os seus favores de me animar, me dar a vida, me fazer sentir que vale a pena estar aqui e esperar que tudo se faça conforme eu mesmo peço e aguardo

Meus sangues alimentam você para que a morte deles não se faça sem a sua morte e a sua vida não se faça sem os meus sangues

Volteio sempre sobre mim mesmo e a cada volta eu me pergunto onde eu estaria e onde é esse lugar de paz e medo que me encontro e me perco.

Sou assim. Amiúde eu me costuro e me construo. Pedra sobre pedra e alguns tijolos que se rompem. Sim, rompem deixando abertos e incompletos em mim, nas minhas paredes. que eu tento, a custo de tudo, preencher... mesmo que com somente as lembranças e esperanças de que um dia a coisa seja diferente: que você, meu coração e eu tenhamos um só corpo e uma só alma...

Mas o que digo eu se o hoje mostra que não, que não é assim? Que as juras, seus anseios, seus arrepios em mim não contam na hora fatal de armar... e você sempre me desarma?

Tenho tantas palavras guardadas para dizer e temo que jamais sejam ditas, por todos e nenhum motivos. Medo que se grudem aqui dentro, como sempre se grudaram nas minhas paredes, nos abertos dos tijolos... Dói. Dói e não é porque eu seja um romântico, uma heroína encantada. Sim, eu sou mesmo uma heroína encantada e sonho, sim, ser a princesa do príncipe do cavalo branco ou o príncipe da princesa desprotegida

Ah! Eu sou assim! e não me venham aqueles, os que sabem tudo e estão tão apaziguados sempre, tão cheios das certezas, tão repletos das verdades inabaladas... que fiquem nisso que são, apenas um baú de verdades. Eu não! Eu sou incontinência! Eu sou caudaloso na emoção, sangue vermelho espirrando das veias num anseio febril de amor, de paixão, de corpos em frêmitos, de descomposturas, de força gigante de sexo, de entranhas, de vísceras amalgamadas umas nas outras. Eu sou assim. Somos assim! e não sei e não sabemos como ser de outro tom, de outra forma. E juro, ainda que me custem os dias todos dessa existência, haverá alguém que me queira de mim você que é minhas vísceras aquecidas por tanta paixão. Creio! Eu creio como uma criança que crê e se assusta e se anima e anseia pelo papai Noel no dia véspera do natal!

Meu corpo é a toada das cordas do bolero que você é. Sou as cores todas das paletas dos pintores atiçados. As cores fortes, as finas, as doces e, principalmente as sutis porque, me entendam, prestem atenção em mim, na minha fala; sutis porque já andei em todas. Já me desbaratei esbanjado em cada uma delas e em cada uma delas fiz o meu amor comigo e com você, meu coração! Por isso eu sei a sutileza e o rústico de cada uma.

Ah! Lua! Por que não me emprestas essa tua lonjura? Por que me arroubas em êxtase, deslumbramento de pensar que ele, o meu coração, não vive, não sonha, não se completa sem mim?

Por que me fazes vítima dos teus sortilégios de amor e de vertigem?

Algo meu mora com você, coração. Algo muito. Algo grande, alargado, agigantado. Algo que me pertence, que não mais habita em mim e está em você, mas com uma ânsia golfante de habitar junto, co-habitar em nós dois. Por isso tanto te busco. Tanto me aproximo e tanto me perco.


quarta-feira, 7 de julho de 2010

os assaltos dos mortos


Estou aqui e me assaltam loucas, longas memórias. Lembranças antigas do antigo meu. Do meu mais passado. Das minhas investidas em direção à vida e dos meus fracassos.

Saudades de gentes que já se foram. Já morreram nas ondas. Gentes que foram os sóis, as estrelas e os meus nortes e hoje são apenas o sul das lembranças, mas que me assaltam de pronto como coisas que se empenham em muito me assustar. Saltam dos lugares todos dos móveis da minha memória, do que fica guardado. Das gavetas que não abro e agora se abrem sozinhas como vidas que se me cobram e exigem suas pagas.

Os todos. Os mortos. Os ainda vivos que se escondem dos meus olhos e se me aparecem no momento seguinte em que os fecho. Olhos fechados e os mortos se insurgem dos seus túmulos e saltam de trás de cada volume, cada pilastra, cada lápide que instalei – ontem seguro que eram seguros – e me lançam suas presenças. Passam, correm, escuras, vultos sombrosos e se vão – não antes de me criarem um espanto e me fazerem crer que nada meu está lá e sim vivo e presente nos seus silêncios.

Silêncio gritador. Troante... e há os que dizem que com o tempo tudo se vai...

Como o tempo tudo sai dos meus olhos, dos meus braços, dos meus lábios e vai para umas plagas que existem dentro de mim e cada vez fica tudo mais eterno e eu sou o único incapaz de tirar, expulsar, fazer este tudo sair de lá. Lá onde as lembranças têm vida própria e se regozijam em aparecer em assaltos e me dominar

Há um momento, na hora de ficar velho, que a cada dia não mais se percebe o mundo visível. Os olhos embaçam a cada dia mais e os ouvidos ficam mais moucos a cada dia; a fala se esquece do que desejava falar e os olhos olham para dentro, os olhos se viram para dentro e os ouvidos passam a ver e ouvir somente o que está lá, naquele lugar de sombras e lembranças... e o coração dói, porque não envelhece.

segunda-feira, 5 de julho de 2010

Idéias se confrontam ou se agregam e se amalgamam?


Causa-me um significativo espanto o fato de existir hoje, na nossa sociedade moderna, uma necessidade premente – não sei se aprendida, adquirida ou essencial – de não acumular e sobrepor conhecimentos filosóficos e religiosos – do pensamento e da alma, embora nos técnicos aconteça exatamente o contrário. São cumulativos e diligentemente sobrepostos. Um se sobrepõe ao outro que se sobrepõe a um terceiro e toda a tecnologia se encaminha para um otimum de aperfeiçoamento.

No que se refere ao espírito e ao pensamento, não! Rivalizam-se e se opõem. Sempre contrários uns aos outros como dissidências necessárias e úteis.

No sentido religioso, por exemplo, o que cada mestre ou sábio da humanidade disse, a cada tempo, no seu tempo, é determinado, pelo homem, como definitivo e imutável. E, por conseguinte, as práticas religiosas devem ser da mesma forma, pois que se do contrário, passam a ser heresia e dissidência.

O que disse Buda é eternamente considerado como sempiterno e acabado em si mesmo. O que disse Jesus Cristo, 500 e poucos anos depois, queda da mesma maneira e deve ser tratado pelos seguidores dele como também sempiternos e estanques. Assim, os budistas executam suas práticas à mesma maneira que as teria praticado Buda, diferente do que praticou e pregou Jesus Cristo e não uma sendo decorrência e complemento da outra. Os cristãos entendem que os budistas não serão salvos e não receberão o seu galardão nos céus. Os budistas se entendem e se afirmam iluminados pela grande luz e os cristãos como sencientes. Os cristãos católicos entendem os cristãos ortodoxos ou os evangélicos como mal doutrinados e vice e versa e todos apontam os pagãos como hereges.

Na filosofia, onde incluo todos os saberes do pensamento, a coisa é igual.

Notável é que no mundo antigo ocidental as filosofias se encaixavam e se ampliavam e, por sua vez, ampliavam o conhecimento geral. Não ocorriam afrontamentos entre elas. Não se provocavam umas às outras e não se recolhiam em si mesmas. Isto é, não eram estanques e não estancadas por imposição ou doutrinamento; nem dos seus formuladores, nem de seus seguidores e praticantes. Esse encadeamento de saberes deve ter sido, verdadeiramente, profícuo, pois influenciou o saber ocidental até o final da Idade Média.

Já no mundo moderno temos exemplos contundentes da necessidade do formulador de uma idéia e de seus seguidores de manter a “pureza”, a não maculação dessa idéia. Como se idéia fosse algo bastante, começando e terminando em si mesma.

Cito, por exemplo, a psicanálise. Houve um momento que idéias novas brotaram do nada; poder-se-ia dizer, que forçaram a sua “reunião” em uma única corrente. A esse “brotamento” de idéias em diversos lugares, ao mesmo tempo, deu-se o nome de “inconsciente coletivo” e que outros chamam de akasha.

Logo após as experiências intuitivas de Freud sobre a prática clínica em psicoterapia, Jung dava notícias de coisas absolutamente parecidas – o que fez com que os dois se aproximassem de maneira intensa e que, ao mesmo tempo, os separou definitivamente. Fizeram-se dissidentes em uma mesma idéia, de um mesmo registro akashico. Opuseram-se os homens, as teorias, as idéias e as práticas. E hoje ainda se perpetuam freudianos ortodoxos fundamentalistas e, nessa atitude, recusam-se a admitir as práticas ou a teoria junguiana e outras.

Os procedimentos clínicos sugeridos por Freud foram e são, incontestavelmente, importantes fundamentos para a compreensão da psique humana e que, num olhar mais abrangente, agregam-se aos fundamentos práticos de Jung que deu para o ocidente milhares de informações e registros míticos, místicos, sagrados, herméticos, cultuais e que, pela primeira vez tornou exotérico o que era esotérico. E foi, para ele, importantíssima a influência de Heinrich Zimmer que trouxe, pela primeira vez para o ocidente os mitos orientais, especialmente os hindus. Em resumo, Jung juntou, agregou e condensou conhecimentos mais antigos às suas descobertas e reflexões, SOBREPONDO-os. Empilhando-os, um em cima do outro. Eu entendo que teria sido uma atitude consciente já que ele vinha de escolas de hermetismo e ocultismo. Por isso, entendia como os antigos, que a construção do ideário humano tem que se proibir de cair na Torre de Babel.

Mais tarde aparece Lacan com sua crítica aos embandeirados freudianos, apontando que eles estariam “distorcendo” a teoria fundamental e por isso era preciso voltar à fonte primitiva. Ampara-se em Lévi-Strauss e monta a sua própria teoria e práticas referentes. Nada muito anormal porque se nota, aqui, que ele ainda pratica a reunião de conhecimentos, embora escorregando pela condenação dos freudianos como maculadores da fonte mestra. Cai na confrontação com os praticantes daquelas idéias.

Óbvio que, com isso, se dá início a aparição de “ortodoxos” de todas as naturezas: os freudianos; os neo-freudianos; os lacanianos, os neo-lacanianos, os junguianos e os que são ortodoxos sem ortodoxia e seus flagelos decorrentes. Cada indivíduo passa a ser reservatório único e estanque de cada “mestre” – mesmo que não haja mestre algum – e, por si, dá início a todas e inimagináveis posturas práticas individuais.

Seria muito fantasioso entender o aditamento de idéias, formulações e práticas como uma escada que acrescenta degraus a si mesma indefinidamente e, portanto, fundamental? E que cada degrau não se opõe a nenhum degrau da mesma escada e que juntos levam a patamares cada vez mais altos? E mais ainda que, ao contrário, a oposição leva pra comprimentos também maiores, embora sempre na horizontal?

Deus e Diabo são um e só. O homem que os predispõe opostos. E eu temo que cada ser entenda a “sua” idéia como a de Deus e a de outrem sempre como a do Diabo!

sábado, 3 de julho de 2010

Enfim! Notícias da Holandesinha!


Depois da vitória da Holanda sobre o Brasil, de repente, a Holandesinha, do nada, manda, enfim, notícias!

Diz que está felicíssima. Eufórica - até mandou um cartãozinho postal com a fotinha dela. Loiríssima e com quase longas tranças – com a vitória holandesa sobre o a seleção brasileira. Patriota e nacionalista ela, assim como deveria ser aqui também, com todas as brasileirinhas.

- O quê? Nordestina? Jamais! Ela nunca foi nordestina. Ela jura de pés e mãozinhas juntas. Se o foi, ela não se lembra.

Pai deputado e mãe religiosa? O que é isso, Senhores? Jamais (em francês, tá? Por favor!). Jamais... jamais e jamais. E agora mudemos de assunto. Vamos às notícias dela porque são animadoras.

Diz que se casou com um holandês velho e rico e que, coitadinho, está nas últimas. A esta hora pode ser que o velho já tenha batido as tamancas e a pobre holandesinha esteja toda vestidinha de preto – porque assim devem proceder todas as viúvas – chorando duas lagriminhas e enxugando-as com o lencinho preto de renda holandesa.

Diz também que está muito feliz, ops, muito infeliz com a morte do velho porque antes disso tudo, quando o velho era só velho e não moribundo ainda, a menina fez olhos de encanto e o levou, pela mão (e bengala, claro) ao cartório mais próximo e pediu a ele que passasse a ela todos os seus bens. (Parece que tem até um moinho no inventário do velho, sei lá, não entendi bem). E o velho passou. Tudinho! De uma hora para outra a menina se viu rica. Mas como diria Juca Chaves, ser rica e feia é uma merda. Tratou, rapidinho de dar uma ajeitadinha... e não é que deu, mesmo, um jeitinho?

Garante também que a passagem que prometeu mandar para a sua madrinha brasileira, assim que puder, ela vai cumprir a promessa.

Para os que ainda não sabem, ela prometeu uma passagem para a madrinha dela, no começo desse ano, para ir ao seu casamento. Prometeu passagem, mundos e fundos.

Imagine a alegria da madrinha, coitada, uma pessoa que o mais longe que já viajou, na vida, foi para Altinópolis. Imaginou-se e se viu uma Lady Lucia. Até comprou uma bicicleta porque os amigos dela disseram que lá, na Holanda, as pessoas andam muito de bicicleta. A pobre mulher comprou logo uma. Pensou levar consigo na bagagem.

Mas com tudo isso de casamento, lua de mel, bengalas, fraldões geriátricos e um olho no futuro, conveniente era não gastar uma passagem agora e a madrinha não recebeu a passagem, não foi para o casamento e não levou a sua bicicleta. Está aqui, ainda e parece-me, me disse a Holandesinha, que a madrinha, apesar de se importar muito, anda usando a bicicleta para ir ao trabalho numa coisa aqui, que não entendi bem, se era uma revista ou um periódico que versa sobre moda ou pornografia. Vou perguntar depois e os informo direito. Prometo.

Mas como ninguém é de ferro, nem as holandesas, mister se fez que a menina holandesinha fosse a Paris para comprar umas roupinhas. Chiquérrima (ela usou o vocábulo chiquésima, mas isso ainda não foi aportuguesado, portanto, evito repetir), mas cá para nós, me pareceu de mau gosto, gosto pobre. (essa roupinha pode ser vista no postalzinho que ela enviou). As cores, combinandinhas (isso mesmo, assim mesmo), laçarotes e armações é um tanto “estive na Holanda e lembrei-me de você”, mas... fazer o quê, não é mesmo? Falar como o Clifton falava: gosto é igual a ânus. Cada um tem o seu! mas que esse colarinho alto não funciona para quem não tem pescoço, não funciona!

Até que está bonitinha a menina, não está? Pena que o cabeção ainda continue tão grande e, assim, loira, parece maior ainda... pergunto aos meus botões, o que teria sido feito do ninho de guaxo que ela tinha na cabeça? Será que a menina está de peruca e não contou nada? Bem, coisas de mulheres.

A maquiagem está bem feitíssima. Parece até trabalho meu no photoshop, mas não é. Juro. Nem mexi na foto. Um pouco miss Netherlands demais, não concordam?

Enfim, fiquei contente com a ex menina nordestina...(ixi, contei. Sem querer, eu juro!) e suas notícias alvissareiras. Hoje uma próspera holandesa que, apesar das origens, disfarça de alguma forma e ficou rica, herdeira de um moinho e duas casas na rua Bataviastraat, com vista para o Flevopark. Moça de sorte essa, dirão alguns.

A madrinha, coitada, pedala pelo Parque da Cidade mesmo sonhando, ainda, apesar de todas as evidência contrárias, que vai chegar o dia em que ela, distraída, exausta depois de um dia inteiro de trabalho numa revista (ou coisa parecida) onde, de secretária ela chegou a Diretora Geral em 5 dias e arrumou emprego para as filhas, os filhos, o porteiro do edifício onde ela mora, para a manicure, para a irmã e para os genros embora, coitadinha, faz pena, esforçada, mas não consegue fazer uma boa concordância verbal ou nominal que seja.... chegando em casa, encontra no escaninho da portaria, um envelope com um bilhete aéreo. Tomara que chegue mesmo esse dia. A pobre madrinha merece. Afinal ela tripudiou, enganou, desprezou, mentiu, alcovitou em favor da Holandesinha, sua afilhada.

Eu, cá comigo e minhas linhas de tricot, temo que, se chegar esse dia, no envelope esteja um bilhete para a Lacônia, onde mora o dragão lacônico... de ida. Sem volta. Seria muita maldade com uma bruxa madrinha só!

terça-feira, 29 de junho de 2010

psicólogas, pedagogas, psicopedagogas... bah!

















Ser Sonia Lichtman todas querem, mas nem todas podem e, por isso, não conseguem.

Ah, desculpem-me, falo de psicólogas, coordenadoras, pedagogas e essas novas, aí, que se chamam psicopedagogas. (quando ouço a palavra pedagoga, no primeiro segundo, entendo como pé da goga – pé da jactância -. Depois volto a mim e entendo que estão se referindo àquelas moças, em geral, não tão moças assim, que sabem de cor e salteado todas as indefectíveis, inúteis e mais do que ultrapassadas regrinhas de ensino.)

Pois bem, voltemos à Sônia Lichtman porque deparei-me com uma, semana passada, quando fui ter uma “conversinha” com a coordenadora da escola da minha neta.

Evidente que eu já sabia, de antemão e experiências conclusivas, que a moça era uma pretendente a clone da nossa psicóloga, pedagoga e parapsicóloga Sônia Lichtman e eu só fui lá para zombar da risível inocência e do flagrante despreparo da dita.

Senhora alta, madeixas voluptuosas, terninho, sorriso ensaiado, tudo, tudinho à maneira Sônia Lichtman... só não escondia o seu irritado tédio com o seu empreguinho e respectivas tarefas e sua ansiedade de moça que não sabe muito bem o que veio fazer nesse mundo e aí, estuda pedagogia ou coisas do gênero, numa faculdade particular qualquer para ser empregada em Colégio Comercial... ops, desculpem-me, Educacional e, assim, cumprir o honroso destino de existir sem saber para quê, trabalhar sem saber exatamente com o quê, receber um salariozinho não sei o quê e, depois de pagas as contas de manicure e salão de beleza de térreo de comercial, comprar um terninho e blusinhas de seda sintética, com frufrus godês na Marisa e freqüentar festinhas de aniversário das coleguinhas de seus filhos, em salão de festas nos blocos das quadras residenciais...

Voltemos à nossa Coordenadora. Minha neta e eu, no corredor de espera, quando passa a moça e bate nervosamente os dedos indicador e médio no relógio se dirigindo à minha neta: - Menina, já começou a sua aula! E passa, com ares de esbaforida e tecnicamente necessária àquele burburinho e àquela azáfama que dão importância a qualquer coordenação. (coordenação aqui, me refiro à sala aonde são encaminhados os alunos que não fazem seus xixis e cocôs como mandam a ordem e o sistema dos colégios comerciais... ops, de novo. No caso, um corredor com 4 ou 5 baias minúsculas – o tamanho de caber só mesmo um cavalo ou uma égua, com nomes ameaçadores, em garrafais nas portas.

Como assim? Penso eu. Venho conversar com a Coordenadora do colégio sobre a vida da minha neta e ela intenciona que a minha neta possa não estar presente nessa conversa? Essa moça deve ser uma louca. Só pode. Será que no entendimento dela, a conversa sobre a vida escolar da minha neta prescinde da presença dela? Ou eu sou o louco?

A criança ficou, evidentemente, mais tensa. Afinal, coordenadores servem para assustar crianças e determinar-lhes castigos (como transformam o que pode ser um auxílio em instrumento de punição, medo e terror!)

Olhei repreendedor para a moça que, no ar esbaforida que interpretava, safou-se do meu olhar. Para isso servem as cenas de pressa e esbaforimento. Pessoas esbaforidas não têm tempo e condições para mais nada além de manter as salvaguardas das suas ineficiências e despreparos... então, esbaforem-se o máximo que podem. Isso garante um gradiente de importância às coisas sem importância. É tiro e queda!

Quando a moça voltou ao corredor das baias, eis que ainda estávamos lá, com o mesmo ar displicente – a esta altura eu já tinha feito a minha neta saber que a única importância ali, do nosso ponto de vista, éramos nós mesmos e mais nada. Afinal comprávamos e pagamos por um serviço em direção a ela e ela e eu queríamos informações pertinentes dos resultados destes serviços.

Entramos para a baia da moça que tentou acessar um computador para lançar-me ao rosto todos os “péssimos, nefastos e mínimos resultados que a minha neta andava obtendo e apresentando”. Coitada da moça. A eficiência dela, todo o seu ar esbaforido, todo o terninho e toda a sua altura ficaram acanhados... o computador – a medida da significação maior – não funcionava! A moça teve que procurar outra baia e se contentar com a humilhação pública de não dispor de material e instrumentação eficaz para mostrar toda a eficácia dela. Eu ri comigo. Adoro ver os teatros se desfazerem em realidades miúdas e cotidianas. O cocô normal da vida nossa de cada dia. Importante em si mesma e não naquilo que usamos para dar importância a ela, como bijuterias baratas e coisas e taleigas que se lhe agregam e se carregam.

A moça, depois desse incidente que, evidentemente, a constrangeu, postou-se à mesa, com a “águia” e o “leão” para frente e foi, de súbito, à taboa de sua salvação irrestrita – o teclado do micro – buscar os resultados das notas da minha neta!

Vontade me deu de fazer um grande cocô na cadeira – (Hugo, você mais uma vez comprovou o seu gênio fazendo aquele cocozão pastoso na mesa do Zé Celso!) – pela vergonha de ser eu também, psicólogo e pedagogo e ver a grande enormidade de merda que todos nós fazemos com essa coisa de “ensinar, educar” os mais novos. Puta que pariu, perdoem-me a expressão chula, mas é o mínimo para aliviar a minha angústia diante da impossibilidade de fazer o meu tão desejado cocô na cadeira da baia da coordenadora do colégio comercial!

Apenas disse a ela: esses resultados eu já sei, Professora... e com todo o meu ar de enfado, a fiz saber que sou psicólogo, sou pedagogo, trabalhei mais da metade da minha vida como regente de sala de aula e diretor, desde a primeira série do primeiro grau até a terceira do segundo e hoje ministro aulas para o terceiro grau; que blá, que sou contra o ensino formal, que sou rebelde, revolucionário, e blás e todos os mais blás que pude falar.

A moça cruzou as pernas. A moça passou a ficar sentada sobre apenas um dos ísquios. A moça cruzou fortemente os dois braços sobre o touro e, ato contínuo, levou o leão e a águia para trás. Bingo! A minha suspeita não era só um preconceito. Confirmava-se o meu conceito.

Dever dela continuar a expor os objetivos daquela escola, já que eu havia perguntado sobre os mesmos. A moça precipitou-se naquela verborragia aprendida e decorada nas reuniões de coordenação – asseguro, aprendidas e não apreendidas – numa tentativa que já demonstrava desamparo, expor para mim aquela coisarada toda e, o pior, que a culpa dos resultados da minha neta era unicamente dela.

Tentei interromper, como o mesmo ar de enfaro que expus desde o começo. A moça reagiu, Senhores! A moça tem alguma atitude. Levantou e espalmou a mão direita a me sinalizar que não interrompesse o seu discurso. (será que teria sido movida pelo medo de ser interrompida e não conseguir voltar ao ponto em que parou e ter que começar tudo de novo?).

Parei. Dei a ela tempo para respirar e continuar. Eu sabia que ela criaria para si a armadilha mais adequada para mim. Foi quando ela citou a palavra ensino e eu cortei o ar, naquele gesto típico dos europeus quando querem dizer que pare com isso porque tudo isso é uma bobagem – com a mão, de cima para baixo e disse a ela, de chofre: professora, num sistema escolar é preciso entender a educação como um processo de ensino e aprendizagem. Ainda dei uma esnobada lingüística afirmando que ensino/aprendizagem não é um sintagma, mas sim um conceito. Se há ensino, há aprendizagem. Se a minha neta não apresentou aprendizagem, pode ser que não tenha havido ensino.

A moça, mais uma vez golpeada no coração do seu despreparo, tentou ainda dizer que a culpa dos resultados era da criança e dos pais que não a ajudavam em casa, nos seus deveres e lições – ai minha deusa dos pés de cabra! como as pessoas falam merdas que leram ali e acolá sem saber, nem se interessar que pastel pode não ser sempre aquela coisa que se come junto com garapa, na rodoviária do plano piloto!

Mais uma vez, agora pleno de empáfia, eu perguntei a ela se ela viria diariamente cumprir o seu trabalho caso não recebesse o seu pagamento... (pausa para provocação de espanto na minha interlocutora) - que caso não tivesse motivação suficiente, ela continuaria a emitir o comportamento laboral? Que se ela tinha noção de que nenhum ser vivo age se não for motivado e que não repete o comportamento emitido caso não seja reforçado?

Para a moça ficou patente que eu principiara a falar javanês arcaico!

Ainda tentou, coitada, por falta de argumentos mais efetivos, reafirmar que era preciso os pais ajudarem nos deveres escolares.

Deixei a moça recuperar um pouco do seu equilíbrio. Maldade minha bater tanto. Mas eu sou mau. Não vim a esse mundo para afagar idiotas ou acariciar a idiotia. Vim pra bater. Quem quiser, coma mais pouco, como dizem os goianos. Ou batam-me. Quem conseguir me bater vai, certamente, receber os lauréis e eu serei o primeiro a parabenizá-lo. Do contrário, circulando... circulando! (me ocorreu agora os burros que circulam em torno da pedra mó, certos de que estão caminhando em frente!).

Fiz cara de pio (piedoso e não de canto de pássaros, tá?) e disse a ela que nós, professores, somos falíveis, tendenciosos, arrogantes, comprometidos com as nossas próprias falácias e que já fora dito, anteriormente, que a educação ideal seria a troca de lugares: os professores para as carteiras e os alunos para a cátedra... meninos! A moça ironizou! Um esgar, uma carantonha!

Pausei. Ouvi, sorri, tremi e quedei vitorioso (hehehe, como a lágrima celeste de Guerra Junqueiro), levantando um dos sobrolhos, ar de admoestação disse: não sou eu quem diz. É Rousseau, Professora, há quase 300 anos!

A moça teve os estômagos revolvidos. A cada minuto ela se via diante de alguém que sabia o que estava falando, que tinha estofo para argumentar e mais, não se parecia com nenhum dos outros cordeiros, os quais ela ameaçava com o seu dedo de Sônia Lichtman, que tremiam sob as suas culpas de pagar tão caro, tão roubados e ainda assim não conseguirem ajudar os filhinhos nas suas tarefas...

Será que essa moça não percebe, algum dia, que se eu fizer os deveres da minha neta, ela será sempre aprovada e ninguém, além de mim e dela saberá disso? Essa escola curral pretende o quê? Óbvio que apenas os polpudos maços e cheques que recebe a cada mês! Compram-se e pagam-se engodos. E que os alunos e pagadores tragam os resultados...

O tiro de misericórdia na moça foi: A senhora já leu alguma coisa sobre o ensino centrado no aluno? A moça, inocentemente, me informou que não!

Eu estanquei. Ergui a águia e o leão e os enderecei para trás. (gestos absolutamente ensaiados para ocasiões de conversas e debates – qualquer político ou ator minimamente preparado sabe que isto funciona.) Fiz voz grave, denotando desconsolo e disse, do alto da minha zombaria.

- É, Professora, aqui acaba nossa conversa... se uma educadora me diz que nunca leu nada sobre o ensino centrado no aluno é hora de eu buscar uma escola outra para a minha neta...

A moça desolou-se mais e num frêmito, estertor de morte, me pergunta, ingenuamente

- O que? O livro? Não, não li o livro específico... (Pensem, Senhores... pensem!)

Expirei em ar de completo desânimo – fingido, claro – Não professora, não é um livro. É uma proposta de ensino... olhei para baixo, com olhar arrefecido e concluí: bem, não vou mudar a escola, não vou ensinar à escola coisas de ensino e aprendizagem, não vou mudar o mundo... e aí, Senhores, teatralmente, ergui-me, aumentei um tom no volume da voz e disse aparentando revolução: apesar de tentar mudá-lo há mais de 40 anos! Voltei a baixar o tom, como revolucionário velho, daqueles históricos mesmo.

E ainda houve muita coisa, Senhores, quando ela veio com a bomba e o escudo me afirmando que a escola era uma escola de resultados e que buscava resultados...

Senhores! Acreditem. Vale a pena um texto 3 vezes maior do que esse. Garanto-lhes.

Só para tira-gosto, quando a moça me diz isso, eu olho para ela com inocência e desfiro:

Uai, a escola quer resultados, mas quando não há resultado a escola deserta?

Se quiserem mais algumas doses, deixem recados. Eu falarei mais, do mais que aconteceu! Prometo.

domingo, 20 de junho de 2010

Raios e trovões! quem crê que se cuide.


Estou pressentindo raios e trovoadas nos céus de Brasília e conexões com São Paulo e outras plagas...

A coisa pode ficar feia. Lembram dos gibis do Tio Patinhas, quando a Maga Patalógika ficava com raiva e trovejava a partir do seu castelo? Pois é, é isso mesmo! Vai ter muitas bruxinhas e muitos bichinhas... ops, bruxinhos zangadinhos e iradinhos... tá? Cuidado!

Numa brincadeira, surgiu uma oportunidade e um convite para eu participar do BBB – Bruxos Brasileiros em Brasília para falar sobre a minha experiência pessoal com Lilith – aquela deusa que todo mundo fala mal e eu adoro e somos amigos e até fazemos sexo, vez ou outra.

Pois bem, a Mavesper, na sua capacidade de, mesmo discordando de algum fato ou pensamento, compor para uma meta maior, convidou-me para este desafio!

Na hora, já me antevi cercado de ouvintes, de caras atentas e outras nem tanto; de gente que concorda e gente que discorda e de outros que nem vão se dar o trabalho de ir ouvir-me falar e vislumbrei a oportunidade de fazer-me ser visto, novamente, pelos bruxos, especificamente os wiccans, de quem, há tanto tempo, ando afastado!

Ainda disfarcei por uma tangente dizendo a ela e ao Chronos que não fizessem um convite desses a um ariano/ariano/leonino que adora aparecer, mas fiquei altamente empolgado, sem deixar transparecer, claro, fazendo assim, um tipo bruxo professoral e respeitoso, blasé... ui!

Pensei em todos os bichinhas, ops, os bruxinhos que tanto falam mal do BBB e da TDB. Principalmente naqueles que comeram nos pratos de lá, se refestalaram nas camas de lá e hoje andam, na surdina, a cuspir escarros e mucos nesses mesmos pratos! Cuspir nos pratos é atitude que eu também faço – e, diga-se de passagem, cuspo e cuspo sem pejo, nem dó – mas o faço na cara e na frente dos donos dos pratos... acho que fica mais honesto, embora os outros achem que não e só se referem a mim com vitupérios... (tou tão preocupado que acho que vou desmaiar depois do BBB. Antes, não rola! Não tou com saco pra desmaiar agora)

Não posso esconder que andei tempos em grupelhos e facções e rodinhas que falavam e teciam comentários e, às vezes, a concordar com eles sobre coisas sobre os bbbs, sobre o coven da Ma, sobre a tdb. Não nego. E exponho-me a qualquer cobrança.

E agora, serei eu o fulcro das falações e verborragias dessa gente...

Fico pensando naquele bichinha... ops, bruxinho... (o que será que está acontecendo comigo, hoje, que sempre que me vou referir a bruxinho, sai a palavra bichinha? Será que eu estou virando um ser preconceituoso?)... então, o bruxinho que se persigna com o sinal da cruz sempre e sempre exclama a mesma frase “ai, que horror!”? O que ele não dirá de dentro do seu túmulo de suicida?

E os bichinhas... ai!, desculpem, os bruxinhos tradicionais de São Paulo? Será que eles vão dizer, de novo, que Lilith vai me farejar (na época que falaram isso, eles fizeram ceninha assim: viraram os perfizinhos, levaram o dedinho indicador – o médio e o anular recolhidos redondinhos e o polegar, proeminentemente levantado – à base do nariz, com duas leves esfregadinhas, dizendo que é assim que Lilith faz e que faria cara blasée e fecharia os olhinhos, batendo os cílios e não iria me reconhecer! Ai, que meda!

E aquele bichona... (Senhores, vou ter que me tratar... essa estereotipia verbal está me preocupando...) aquele bruxona do interior de São Paulo ou de sei lá onde, um que edita ou escreve ou copia uma revista, aí, de bruxaria e que se vangloria de ser iniciado em wicca, hinduísmo, tantrismo, bruxismo (hehehe), satanismo, tradicionalismo, umbanda, candomblé, corte-e-costura, cursinho varicor, cursinho walita e massagem terapêutica e muitas outras coisas que não me lembro e tudo; que disse que se um dedicado ou iniciado dele vier a participar de um BBB, estará indelevelmente expulso, em função das influências deletérias dos bbbs! Pensem!

Também tem aqueles daquela tradição que pinta a cara com callao, uns risquinhos, porque ninguém é obrigado a ser desenhista, né? E veste uns trapinhos à moda centurião e pinta as unhazinhas com esmalte preto, arreganha os dentinhos, arranha o ar com as mãozinhas crispadas, fazendo 4ª posição de ballet – ao contrário, diga-se de passagem - e falam, uns para os outros, grrrrrrrrrrrr.... grrrrrrrrrrr... minha deusa listrada, que vergonha do meu passado!

Se todos já me odeiam só por eu ser eu, imaginem agora quando eu vou “palestrar” no BBB, a convite da Mavesper!

Preparemos os nossos guarda-chuvas e sombrinhas, Senhores... vem temporal por aí. (mas que ninguém se preocupe de verdade... é só teatrinho!)

Eu quero é mais!