terça-feira, 17 de agosto de 2010


Sinto que essa coisa bate na porta, atrás, do outro lado, do lado de fora querendo entrar. Insinuante.

E em deboches eu me guardo aqui, com sete chaves e sete cadeados brilhantes, do lado de dentro dessas portas que eu travei ou se travaram, por si mesmas, eu não sei. Seguro idôneo todas as chaves com todas as mãos que eu tenho. Firmes. Seguras. Sobre o meu peito. Aqui não me chega essa coisa. Aqui ela não entra.

E afagos e doçuras se entrelaçam à frente dos meus olhos e me convidam para aquelas tantas voltas que o meu coração, esse com portas fechadas a 7 chaves, dava enquanto jovem e cheio de aberturas e canções.

Não vou me deixar entontecer por essas fumaças doces. Minhas narinas já não se abrem mais para os cheiros, os fios, as gardênias e não se entopem mais com esperanças. Fecharam-se. Resistentes. Determinadas. Nada há de haver mais forte, mais potente e nada há de me encantar com segredos de futuros adocicados porque eu conheço de cor o passado.

Essa coisa bate ainda lá fora e se esgueira pelas frestas, pelo olho mágico e eu tremo porque não há cadeados para frestas e logo, rápido, empurro móveis à frente delas. Não há de entrar porque não se presta mais ao que desejo. Mas é mentira. Mentira minha para os meus olhos e meus dedos. Mentira longa, deslavada.

E os tremores das minhas pernas me fraquejam as mãos que se crispam mais aferradas e eu fujo, corro, para trás do sofá e da poltrona, aquela que outrora sentaram amores que me amaram e se foram. Foram por essas pradarias e ruas das cidades das paisagens com ou sem casas: hábito soturno que todos tiveram ou eu os fiz ter, não sei, já não vale saber...

Não! Não me venham com falas e admoestações. Sofrível essa coisa de conselhos. Guardem-me de ouvir as suas falas que não se prestam ao meu dia cotidiano. Quero dançar a minha dança, com ou sem par, como não se costuma fazer. Como nada conseguiu fazer e se um conseguir, esse um vai ser eu.

Se chegada a hora e essa coisa olhar nos meus olhos, firme, impávida e sem tremores e me disser a que vem, o que oferece e o que me pede com clarezas, com clarezas eu a olharei nos olhos, impávido, inaudito e direi o que empunho e o que me empurra. E possa ser, talvez, que nos abracemos. E se chorarmos um pouco, vai ser de alegria.

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