segunda-feira, 28 de dezembro de 2009


O Bobo da Corte.
O Bobo na Corte.
Bobo.
Cada Corte faz seu Bobo.
E o Bobo fica na Corte.
porque é bobo-da-corte.
Não há bobo sem corte.
Do Bobo,
na esquerda mão,
o cantil
Para a água. Para o vinho. Para o sangue
Roga o Bobo à Lady Boba: água, vinho e sangue
Na direita, o falo.
Nem dele, nem da Corte.
Só o falo na dele mão direita.
Amarrilho e falo
na do Bobo mão direita.

Do Bobo a perna direita
estirada nos meios da Corte
Falo ímprobo?
Falo desonra na Boba Corte?

Não será a Corte a Lady Boba?

sexta-feira, 25 de dezembro de 2009

A Insensatez e a Vergonha



Sinto vergonha nesse momento. Vergonhas muitas, de muitas formas. A vergonha de não saber orientar a minha fala sem ferir os que amo.
Fica também a vergonha de não ter a certeza que amo verdadeiramente, porque todos me dizem que quem ama não fere.
E eu firo, logo, não amo. É isso?
Vergonha de ser magnânimo e mesquinho, na mesma medida.
E fica, depois, a vergonha de saber que o todo é completo se for magnânimo e mesquinho ao mesmo tempo. Desconforto de não estar nessa completude porque o mundo me diz que não posso usar da mesquinhez... que o nobre, o que vai para o céu é magnânimo. Tão somente magnânimo.
Vergonha de não saber a Justiça. Vergonha de saber que para ser justo é preciso transitar entre os dois pólos – opostos – da mesma coisa para obter a imparcialidade e não conseguir praticar esse trânsito porque os outros, o mundo, me dizem que não pode ser assim e eu acabo adotando conceito inverso. Ou só a mesquinhez ou só a magnitude.
Vergonha de me saber pleno, não poder sê-lo e ainda aceitar esta imposição.
Vergonha de saber que o mundo não aceita, não quer aceitar e reage com deliberada letargia.
Vergonha de não saber ler os livros de sapiência imposta. Vergonha de não decorá-los em todas as suas grandezas afixadas e aferradas.
Vergonha de ser rebelde adolescente com mais da metade do tempo da vida vivido.
Vergonha de acreditar nas minhas fantasias. Vergonha de acreditar na minha capacidade netuniana de poder desfazer os carmas. Vergonha de ser o bobo da corte em salão da nobreza do sistema falso e poluído.
Vergonha de acreditar na Divindade. Vergonha de ser honesto. Vergonha de ser rude. Grosseiro. De não ter aprendido as boas maneiras dos homens.
Vergonha de ter sentimentos pueris, porque homens fortes e magnânimos e justos e corretos só têm sentimentos maduros... (apesar de eu nunca ter conhecido nenhum deus que assim o fosse e muito menos, nenhum homem!) Vergonha de estar aqui, metade do caminho andado e aprendido tão pouco de ser humano.
Vergonha. Vergonha de estar sentindo tanta vergonha e não ter um alguém que eu possa buscar para se comover comigo e me dar largas palavras de conformação, sobriedade e honra divinos.
Só você o poderia fazer, Netuno estranho aos olhos do mundo, mas o único capaz de estabelecer um ponto focal no meu espírito envergonhado.
Houve um tempo que eu me vangloriava da minha insensatez. Pura tolice.
Não se respeita os insensatos.

quinta-feira, 24 de dezembro de 2009

Eu não lhe avisei

Eu tenho muitas coisas ainda a lhe dizer. Muitas. Coisas que você não vai ouvir. Não vai compreender e não vai aceitar.
Por isso mesmo eu não vou dizê-las.
Para que não se percam na rejeição que você fará a elas. Para que não se desperdicem palavras, sábias ou nem tanto.
Essas tantas palavras de experiência não serviriam agora, para nada mais do que receberem o epíteto humilhante de conselhos de velho. Conselhos.
Um mestre jamais dá conselho. O mestre viabiliza formas de oportunizar a experiência para que a experiência aconselhe ou ensine.
Essas palavras serviriam para, caso escutadas, evitar dispêndios, desperdícios, fracassos e, novamente, a desilusão.
Mas não vou dizê-las. Não vou exteriorizá-las por uma razão mais sábia e menos arrogante: eu não quero chegar em maio e lhe dizer – eu não lhe avisei?
Eu não quero avisar.
Em maio, eu pleno Saturno, com a impiedosa face que me será completa, olharei para você e apenas me admirarei de mim mesmo, porque pleno e desangustiado, saberei entender que a espada só se empunha se a causa for merecedora. Caso contrário, é dispêndio, desperdícios, fracassos e, novamente, a desilusão.
Saturno não desilude nunca porque jamais se ilude.

quarta-feira, 23 de dezembro de 2009

Pagas e Penas


O que será isso de oferecer-se às pessoas em ato portentoso de provimento, de ação em prol de, de investidas em direção da solução dos problemas dos outros e ter reconhecimento abaixo do que se espera obter?
Existe uma medida cabal de gratidão, a medida exata que nos faz estar confiantes com o livro de débito e haver equilibrado perfeitamente?
Que coisa estranha é essa de se ser o máximo que se imagina poder ser na doação, entrega, generosidade em prol do outro ou das necessidades do outro, e, embutida, uma medida máxima de pagamento que se espera receber.
O pagamento do outro nunca é feito na moeda que esperamos receber. Recebe-se, via de regra, o pagamento máximo que o outro imagina poder pagar, mas a transação de venda e paga nunca é feita na mesma moeda.
Vendem-se serviços, compram-se esses serviços que se pagam sempre em moedas diferentes.
E o mais bonito, penso de isso tudo, é que o comprador dos serviços nunca os encomenda, exatamente como se imaginou que devessem ser os serviços. Para que, em caso de reclamação de pagamento em moeda estranha, o comprador possa dizer: Eu não pedi. Você é que quis fazer.
Mais bonito e mais dramático ainda é que isso é, em geral, verdade, embora mesmo não tendo pedido, o comprador receba e utilize da maneira mais efetiva os serviços com a rubrica “não encomendados”
Ah, como são espertos e falazes esses seres com cara de pureza religiosa e efetiva comunhão com o bem, a correção e a honestidade: são perfeitos honestos na hora de vestir a cara de que “eu não pedi” e o são, absolutamente contrários, na hora de comer com variada satisfação o produto recebido ou refestelar sobre os serviços oferecidos, mesmo que não solicitados.
O que será isto de favorecer o outro, mesmo que não solicitado?
Haveria eu de assumir a minha fria crueldade e mostrar ao outro a minha infinita capacidade de ajuda e, com olhar gelado negar-lhe qualquer ajuda até que ele peça ou encomende e eu seja capacitado de dizer não?
Propensão a nisso crer. Fealdade capaz de me aplacar o Netuno.
Hei de alcançá-lo, mesmo que a duras penas, já que penas há desde sempre no ato de doar e não ter paga. Penas por penas, prefiro as penas por mim encomedadas.

quinta-feira, 17 de dezembro de 2009

Anjos. Anjos do Win Wenders. Anjos da Ana. Anjos.



A Ana Rossi escreveu uma tocante e ao mesmo tempo enigmática experiência que ela teve com uma anja. Me deu vontade de escrever algo, também, sobre anjos.

Essas criaturas aladas, ou não. Celestiais, ou não. Verdadeiras ou folclóricas... essas coisas que as religiões judaicas insistem em afirmar que são seres imediatamente superiores aos humanos e imediatamente inferiores aos arcanjos.

Como eu não acredito em escalas evolutivas do espírito, decorre que não posso supor qualquer hierarquia a esse respeito. Logo, não acredito que os anjos sejam “melhores” ou “piores” do que qualquer coisa. Que sejam mais ou menos evoluídos.

Não cabe aqui expor a minha visão sobre a perfeição do espírito e de sua impossibilidade de evoluir, já que é perfeito em essência, mas não duvido, em nenhum momento, da existência desses seres e de sua infinita capacidade de interferir na vida humana, isto é, durante o estado corpóreo do espírito. Não acredito no estado eternamente incorporal desses seres. Tanto podem estar incorporados quanto não. E, da mesma, forma interferem na vida humana, como mensageiros.

Mas é preciso compreender o que é ser “mensageiro” do Divino. Mensageiro é aquele que traz ou leva mensagens. Mas de quem para quem ou de onde para onde? Mensagens do Divino Superior para o humano inferior e viceversa? Acredito que não. O Divino não é superior. O humano é tão somente um continente para o Divino porque o Divino desejou se permitir experiências de sensações e percepções. E o humano, como essa parte encasulada do divino não se diferencia em qualidade ou manifestação dele. Posso concluir, então, que não se justifica um mensageiro nesse vetor vertical.

Para mim, os anjos são, sim, mensageiros, mas na horizontalidade. Isto é de humano para humano. De Divino encasulado para Divino encasulado. Apenas uma espécie de “neurotransmissor” que realiza a sinapse necessária, dentro do grande cérebro uno que é a divindade. O humano – divino encasulado – somos neurônios desse cérebro universal.

Partindo desse pressuposto, não se pode admitir a idéia que os anjos sejam seres iluminados ou genericamente do bem ou do mal. São apenas neurotransmissores para uma sinapse. Sem permitir classificações ou julgamentos sobre essa sinapse ou praticando qualquer tipo de classificação ou julgamento sobre o que quer que seja.

Os anjos do Win Wenders são as criaturas mais belamente romantizadas que se tem notícia. São incorpóreos e portadores de uma “maldição” eterna. Duramente provados em sua atividade divina de proteger determinados humanos e conformados com a sua condição em uma espécie de revolta letárgica sob a hirsutez de um ser eternamente estático, embora comovido e piedoso da condição humana.

A anja da Ana é uma “cega de mentira” que, mesmo ultrajada na sua condição humana, mendiga, nas beiras das ruas e dos caixas eletrônicos, cumpriu a sua função neurotransmissora de forma correta e adequada. Trouxe de um não sei qual neurônio a mensagem de alegria pueril e descomprometida para o neurônio que é a Ana. Assim, o Divino, o grande cérebro se permitiu experimentar e experienciar uma nova percepção de si mesmo, por meio de todas as suas cada partes.

terça-feira, 8 de dezembro de 2009

A coerência e a burrice

A incoerência me fascina. A transgressão me excita. Mas quando a incoerência passa a ser tradição, se torna burra. A coerência da incoerência. Passa a ser prática e não acidente.
Gosto de pensar que uma verdade só será verdade se for dinâmica. É agora e já não o é no momento seguinte.
Mas, em geral, a incoerência é vista como tropeço de raciocínio e não instrumento de raciocínio e o legal, o bem visto é ser coerente.
Bom, que sejam, então, para que eu me dê o desfrute de transgredi-la.
Fico pensando em algumas normas e leis.
A nossa Constituição afirma que todo homem é igual perante a Lei, embora a mesma Constituição preveja que políticos em cargo eletivo não o sejam. Isso é a Lei, Senhores! Não é invencionice minha. Políticos têm foro especial.
Todos os homens são iguais perante a Lei, embora os negros... ixi, desculpem-me os afrodescendentes, não o sejam. Eles têm cotas especiais para ingresso nas Universidades. Eles não podem ser chamados de negros. Dá cadeia. Embora eu possa chamar amarelos de “china”. Possa chamar os portugueses de “portugas”; os nordestinos de “paraíba”...
Todos os homens são iguais perante a Lei, embora os idosos não o sejam. Têm primazia de ter vagas reservadas em estacionamento; atendimento especial privilegiado; descontos em transporte público...
Todos os homens são iguais perante a Lei, embora os estudantes não o sejam. Têm passe com desconto no transporte público; pagam meio ingresso em cinemas, teatros... embora esses mesmos estudantes nem se preocupem em solicitar um desconto em cervejas e cigarros...
Todos os homens são iguais perante a Lei, embora os portadores de deficiência não o sejam... Têm vagas reservadas, atendimento especial em filas.
Pronto, não precisamos mais citar a tradição da incoerência. São muitas. É perda de tempo.
O portador de deficiência é romanticamente tratado com a palavrinha deficiente sem o d. Isso o torna mesmo eficiente?
Quantos não portadores de deficiência são, na verdade, absolutamente ineficientes! E quantos deficientes são, verdadeiramente eficientes! Stephen Hawking que o diga. E no lado oposto está o “portador de deficiência” Benício Tavares (ele pode dar uma carteirada e pedir minha prisão! deixa eu falar como manda a tradição da incoerência burra!) – Eita! cadeirinha que anda, viu? e com vagas especiais para estacionar, com rampas para facilitar o acesso em navios, em cadeiras de roda que se multiplicam... essas coisas da incoerência.
Então, vejamos, se todos os homens são iguais perante a Lei, como a Lei se arregaça, toda lassa a essas perversões?
Se é preciso ser coerente com as dificuldades dessas pessoas, com o preconceito (?) que essa gente sofre; com a dificuldade dos velhinhos – eita, de novo! dos da “melhor idade” (e essa cafonice dos legisladores românticos me coze os bagos!) por que não o ser com todos os homens – que deveriam ser iguais perante a Lei?
Por que não vagas reservadas para mulheres grávidas?
Por que não para os albinos que não suportam muito a luz solar? – quem sabe vagas com vidro escuro?
Por que não vagas para trabalhadores, vizinhas ao local de trabalho deles?
Por que não vagas especiais para portadores de hemorróida? ora essa! eles também não podem ficar muito tempo sentados, dirigindo um automóvel, procurando vagas.

terça-feira, 1 de dezembro de 2009

ÓPERA BUFA. O Bufão e o Peido.

Eu conheci e convivi com a Profª Eurides num tempo em que eu era jovem e acreditava. Acreditava no mundo, em mim e, principalmente, nas pessoas.
E Profª Eurides foi uma das minhas grandes crenças. Eu sempre a admirei.
Para mim, até ontem, ela era a nossa Margareth Thatcher. A nossa Dama de Ferro. A Educadora. A Secretária de Educação e Cultura que sabia que Educação e Cultura não se separam.
Ela foi a Deputada que moveu as pedras para enxadrezar o Pedro Passos por corrupção!
Apesar de eu professar fé pagã, eu a admirava pela fé cristã que professava religiosamente. Eu conheci a Profª Eurides numa época em que ela se recolhia quando o sol se punha na sexta feira e só saía do recolhimento quando o sol se pusesse no sábado, à tarde. Que bonito era aquilo, aquele fervor, aquela ortodoxia, aquela rigidez religiosa!
A Profª Eurides, de uma forma muito especial me empurrou para a minha profissionalização. E eu sou eternamente grato por isto.
Na semana passada eu a defendi em uma conversa qualquer por toda essa admiração que eu nutria, desde 1981. 28 anos de fé ortodoxa na Profª Eurides!
Ver arrudas e leonardos prudentes enfiando dinheiro até no rabo, se for preciso, é coisa comum. Sabida. Lamentada, mas conhecida.
Mas ver a Profª Eurides enfiando, ladinamente, dinheiros na bolsa, foi coisa que assustou. E pior ainda, coitada, levou uma bolsa enorme e só recebeu parcos 3 montinhos. Fez figura bufa. (a palavra bufa se refere a bufão e tem ainda aquele significado nordestino para o peidinho sem barulho, mas que cheira muito mal!)
Profª Eurides, naquele vídeo, enfiando 3 montinhos na bolsona enorme, foi as duas coisas: o bufão e o peidinho!
Profª Eurides, eu sou pagão. Amo e cultuo todos os deuses porque eu sou todos eles. Eu não entrego meu caminho a nenhum deles. Eu faço meus caminhos porque eu sou a divindade em mim.
Mas o seu Deus e a sua religião, geralmente, condenam a minha, ameaçando-me com o fogo do inferno porque, segundo ele, a sua religião e a senhora mesmo, só há um Deus. O mesmo a quem a senhora entrega o seu caminho.
Que Deus é esse, Professora? Um safado gatuno, ladino, pervertido, finório, batedor de carteira, malandro?
Ou ele é nada disso e a senhora está se apropriando indevidamente da imagem impoluta e virtuosa dele para praticar a imundice, a improbidade, a gatunagem, o engodo, a farsa, a traição, o furto?
A sua ação reduziu a possibilidade de centenas de seres crescerem na sua educação, na sua formação, na aquisição de bens, no seu futuro, no direito de cidadania. A Senhora roubou todos eles. (sim, roubo! Mediante violência! A violência de não lhes permitir o futuro.)
Em vista disso, meus deuses e eu a amaldiçoamos: na sua morte, na hora última de deixar aqui tudo, o dinheiro, as bolsonas, as plásticas, os filhos; os espíritos esfomeados por decorrência dos seus roubos, voltarão e lhes passarão uma conta. E sendo a sua última hora, não haverá tempo de resgatá-la.
Seus netos a herdarão e padecerão fomes que nenhum dinheiro poderá aliviar. Fomes de saúde. Cânceres hão de lhes comer as carnes.
Porque nós, Professora, já sofremos o câncer da política e da corrupção... e a senhora é a mais última prova disso.
Assim seja e assim se faça.