sexta-feira, 25 de dezembro de 2009

A Insensatez e a Vergonha



Sinto vergonha nesse momento. Vergonhas muitas, de muitas formas. A vergonha de não saber orientar a minha fala sem ferir os que amo.
Fica também a vergonha de não ter a certeza que amo verdadeiramente, porque todos me dizem que quem ama não fere.
E eu firo, logo, não amo. É isso?
Vergonha de ser magnânimo e mesquinho, na mesma medida.
E fica, depois, a vergonha de saber que o todo é completo se for magnânimo e mesquinho ao mesmo tempo. Desconforto de não estar nessa completude porque o mundo me diz que não posso usar da mesquinhez... que o nobre, o que vai para o céu é magnânimo. Tão somente magnânimo.
Vergonha de não saber a Justiça. Vergonha de saber que para ser justo é preciso transitar entre os dois pólos – opostos – da mesma coisa para obter a imparcialidade e não conseguir praticar esse trânsito porque os outros, o mundo, me dizem que não pode ser assim e eu acabo adotando conceito inverso. Ou só a mesquinhez ou só a magnitude.
Vergonha de me saber pleno, não poder sê-lo e ainda aceitar esta imposição.
Vergonha de saber que o mundo não aceita, não quer aceitar e reage com deliberada letargia.
Vergonha de não saber ler os livros de sapiência imposta. Vergonha de não decorá-los em todas as suas grandezas afixadas e aferradas.
Vergonha de ser rebelde adolescente com mais da metade do tempo da vida vivido.
Vergonha de acreditar nas minhas fantasias. Vergonha de acreditar na minha capacidade netuniana de poder desfazer os carmas. Vergonha de ser o bobo da corte em salão da nobreza do sistema falso e poluído.
Vergonha de acreditar na Divindade. Vergonha de ser honesto. Vergonha de ser rude. Grosseiro. De não ter aprendido as boas maneiras dos homens.
Vergonha de ter sentimentos pueris, porque homens fortes e magnânimos e justos e corretos só têm sentimentos maduros... (apesar de eu nunca ter conhecido nenhum deus que assim o fosse e muito menos, nenhum homem!) Vergonha de estar aqui, metade do caminho andado e aprendido tão pouco de ser humano.
Vergonha. Vergonha de estar sentindo tanta vergonha e não ter um alguém que eu possa buscar para se comover comigo e me dar largas palavras de conformação, sobriedade e honra divinos.
Só você o poderia fazer, Netuno estranho aos olhos do mundo, mas o único capaz de estabelecer um ponto focal no meu espírito envergonhado.
Houve um tempo que eu me vangloriava da minha insensatez. Pura tolice.
Não se respeita os insensatos.

Um comentário:

  1. Caraca Genilvison....

    Desenvergonhe-se!
    Isto não é salutar...

    Orgulhe-se de ser quem é, independentemente do que eu, ou o outro, vamos achar...

    3c

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