quarta-feira, 23 de dezembro de 2009

Pagas e Penas


O que será isso de oferecer-se às pessoas em ato portentoso de provimento, de ação em prol de, de investidas em direção da solução dos problemas dos outros e ter reconhecimento abaixo do que se espera obter?
Existe uma medida cabal de gratidão, a medida exata que nos faz estar confiantes com o livro de débito e haver equilibrado perfeitamente?
Que coisa estranha é essa de se ser o máximo que se imagina poder ser na doação, entrega, generosidade em prol do outro ou das necessidades do outro, e, embutida, uma medida máxima de pagamento que se espera receber.
O pagamento do outro nunca é feito na moeda que esperamos receber. Recebe-se, via de regra, o pagamento máximo que o outro imagina poder pagar, mas a transação de venda e paga nunca é feita na mesma moeda.
Vendem-se serviços, compram-se esses serviços que se pagam sempre em moedas diferentes.
E o mais bonito, penso de isso tudo, é que o comprador dos serviços nunca os encomenda, exatamente como se imaginou que devessem ser os serviços. Para que, em caso de reclamação de pagamento em moeda estranha, o comprador possa dizer: Eu não pedi. Você é que quis fazer.
Mais bonito e mais dramático ainda é que isso é, em geral, verdade, embora mesmo não tendo pedido, o comprador receba e utilize da maneira mais efetiva os serviços com a rubrica “não encomendados”
Ah, como são espertos e falazes esses seres com cara de pureza religiosa e efetiva comunhão com o bem, a correção e a honestidade: são perfeitos honestos na hora de vestir a cara de que “eu não pedi” e o são, absolutamente contrários, na hora de comer com variada satisfação o produto recebido ou refestelar sobre os serviços oferecidos, mesmo que não solicitados.
O que será isto de favorecer o outro, mesmo que não solicitado?
Haveria eu de assumir a minha fria crueldade e mostrar ao outro a minha infinita capacidade de ajuda e, com olhar gelado negar-lhe qualquer ajuda até que ele peça ou encomende e eu seja capacitado de dizer não?
Propensão a nisso crer. Fealdade capaz de me aplacar o Netuno.
Hei de alcançá-lo, mesmo que a duras penas, já que penas há desde sempre no ato de doar e não ter paga. Penas por penas, prefiro as penas por mim encomedadas.

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