terça-feira, 8 de dezembro de 2009

A coerência e a burrice

A incoerência me fascina. A transgressão me excita. Mas quando a incoerência passa a ser tradição, se torna burra. A coerência da incoerência. Passa a ser prática e não acidente.
Gosto de pensar que uma verdade só será verdade se for dinâmica. É agora e já não o é no momento seguinte.
Mas, em geral, a incoerência é vista como tropeço de raciocínio e não instrumento de raciocínio e o legal, o bem visto é ser coerente.
Bom, que sejam, então, para que eu me dê o desfrute de transgredi-la.
Fico pensando em algumas normas e leis.
A nossa Constituição afirma que todo homem é igual perante a Lei, embora a mesma Constituição preveja que políticos em cargo eletivo não o sejam. Isso é a Lei, Senhores! Não é invencionice minha. Políticos têm foro especial.
Todos os homens são iguais perante a Lei, embora os negros... ixi, desculpem-me os afrodescendentes, não o sejam. Eles têm cotas especiais para ingresso nas Universidades. Eles não podem ser chamados de negros. Dá cadeia. Embora eu possa chamar amarelos de “china”. Possa chamar os portugueses de “portugas”; os nordestinos de “paraíba”...
Todos os homens são iguais perante a Lei, embora os idosos não o sejam. Têm primazia de ter vagas reservadas em estacionamento; atendimento especial privilegiado; descontos em transporte público...
Todos os homens são iguais perante a Lei, embora os estudantes não o sejam. Têm passe com desconto no transporte público; pagam meio ingresso em cinemas, teatros... embora esses mesmos estudantes nem se preocupem em solicitar um desconto em cervejas e cigarros...
Todos os homens são iguais perante a Lei, embora os portadores de deficiência não o sejam... Têm vagas reservadas, atendimento especial em filas.
Pronto, não precisamos mais citar a tradição da incoerência. São muitas. É perda de tempo.
O portador de deficiência é romanticamente tratado com a palavrinha deficiente sem o d. Isso o torna mesmo eficiente?
Quantos não portadores de deficiência são, na verdade, absolutamente ineficientes! E quantos deficientes são, verdadeiramente eficientes! Stephen Hawking que o diga. E no lado oposto está o “portador de deficiência” Benício Tavares (ele pode dar uma carteirada e pedir minha prisão! deixa eu falar como manda a tradição da incoerência burra!) – Eita! cadeirinha que anda, viu? e com vagas especiais para estacionar, com rampas para facilitar o acesso em navios, em cadeiras de roda que se multiplicam... essas coisas da incoerência.
Então, vejamos, se todos os homens são iguais perante a Lei, como a Lei se arregaça, toda lassa a essas perversões?
Se é preciso ser coerente com as dificuldades dessas pessoas, com o preconceito (?) que essa gente sofre; com a dificuldade dos velhinhos – eita, de novo! dos da “melhor idade” (e essa cafonice dos legisladores românticos me coze os bagos!) por que não o ser com todos os homens – que deveriam ser iguais perante a Lei?
Por que não vagas reservadas para mulheres grávidas?
Por que não para os albinos que não suportam muito a luz solar? – quem sabe vagas com vidro escuro?
Por que não vagas para trabalhadores, vizinhas ao local de trabalho deles?
Por que não vagas especiais para portadores de hemorróida? ora essa! eles também não podem ficar muito tempo sentados, dirigindo um automóvel, procurando vagas.

Um comentário:

  1. porque o Mundo é feito de maioria :(
    por isso cada um tem que ter o seu :)

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