quarta-feira, 27 de janeiro de 2010

Mordacidade

Estive lendo meus textos aqui – sempre o faço para reviver o sentimento vivido no momento de escrever e tentando imaginar o que um leitor possa sentir, ao lê-los.

Comecei a ser tomado por um certo desconforto com eles. Há uma carência crônica de fatos ou coisas elogiadas ou bem-faladas. Sempre um deboche mordaz sobre tudo, sobre as bichinhas, sobre as filosofias, sobre os velhos, sobre o preconceito... ah, era preciso ter coisas bonitas, construtivas (ai, que horror, que coisinha inútil isso de chamar uma coisa de construtiva!)... coisas que inspirassem vontade de continuar a esse ou essa leitora. Coisas do bem! (Nossa Senhora dos Céus do Ocaso! Como consigo ser tão incapaz de ser falso! Eu juro que eu tento, mas é difícil, entendem?)

A minha índole é fortemente para a crítica mordaz. Efetiva. Punhal no centro da ferida.

Mas, para não perder leitores ou para não causar neles uma revolta que os afaste de mim, pensei, mesmo, em procurar alguma coisa, um tema, um fato que fosse elogiável ou que me provocasse uma alegria juvenil contagiante...

Encontrei alguns. Amigos. Amizades daquelas que se pode ser tudo e de todo jeito que não se acabam, nem se abalam. Respeito – ainda há, acreditem! Não o respeito armado, o respeito falso, mas o respeito à natureza daquele que se respeita. Respeito ao limite e à falta de limite também. Fé. Fés ortodoxas ou nada ortodoxas. Cultos. O religare verdadeiro sem ser religioso. Bruxaria verdadeira! Muita coisa a ser comentada e valorada. Sim, eu poderia fazê-lo porque não me custa. Mas a pergunta não cala: é necessário?

Valorar e valorizar são coisas diferentes. Entendo a primeira como reconhecer o valor e a segunda como atribuir valor.

Ora, se uma coisa tem valor e eu o reconheço não queda necessário atribuir valor a ela. Queda incoerente. Ela já tem valor, é intrínseco. Não devo e não posso acrescentar ou diminuir qualquer parcela a mais de valor porque esse valor atribuído é, naturalmente, extrínseco. É a minha parcela sobre a coisa. Pertence a mim e aos meus princípios. É apenas atribuição.

Pergunto a mim e a quem possa responder: é necessário ficar reconhecendo e propalando valores, a guisa de reforçamento da psicologia comportamental? Na crença simplista de que se eu reforçar, o valor tende a se manter como um comportamento condicionado e resistente à extinção?

Respondo para mim e refute-me quem puder: ora, se um valor necessita de reforçamento, ele, em si, não é valor. Não passa de atribuição externa.

Logo, concluo que se há valor, ele independe de qualquer reconhecimento que eu faça dele ou deixe de fazê-lo. Ele é! E pronto. Decorre disso que não é necessário ficar fazendo apologia dos valores. Eles existirão completamente imunes a qualquer referência que se faça sobre eles. Logo, dispensam a minha boa vontade!

O que resta, então, Senhores?

Resta expor o que não tem valor em si mesmo e foi valorizado com o tempo, com o sistema, com a cultura. Isso merece o nosso tempo. Expor para que sejam vistos e, de preferência, linchados nas praças de cada espírito, de cada ser e, por conseguinte, excluídos vez por todas.

Sento-me agora, à frente do meu teclado e me sinto mais à vontade para continuar batendo. É da minha natureza. Não posso pedir a mim que vá contra ela.

Eia! Avante, então!

domingo, 17 de janeiro de 2010

A Putaria, a Bicharia e a Bruxaria


Agora vamos falar sério sobre bicharia, bruxaria e putaria.

Alguém tem que falar sobre essas coisas e, como o serviço sujo fica sempre por minha conta, eis-me aqui para fazer mais este.

O que está se praticando por aí e por aqui é uma coisa inominável. A bruxaria serviu para oficializar a putaria.

O que é putaria, então? É tudo aquilo que sai dos trilhos da moral e da boa conduta? É tudo aquilo que os outros fazem e que eu não faço?

Não, senhores! Putaria é putaria. É dar-se e dar a liberdade total de se praticar o que se quer praticar, dentro ou fora das famosas quatro paredes. É permitir-se e permitir que se avance sobre todos os limites sociais ou culturais no que se refere à sexualidade e sua prática. Putaria é putaria e pronto. Ponto final. Sem convenções, explicações ou definições.

E convenhamos, preconceito sobre isso é o que nos denuncia como putos incapazes de o sermos. Qualquer denúncia sobre isso demonstra, claramente, que o denunciante é puto e não se permite expor, a não ser nos esconsos, nos escuros, nos motéis e debaixo dos panos.

Então, Senhores, não se denunciem apontando os seus dedos porque eles também estão sujos das porras e das salivas dos motéis, das sacristias e dos parques das cidades.

Putaria é putaria e que seja bem vinda desde que seja aceita como parte integrante da nossa verve.

E a bruxaria? O que é a bruxaria?

Ah, essa agora, então, é tudo o que não se explica. E não se explica porque não se sabe o que é bruxaria e pior, não interessa saber o que é porque não interessa a bruxaria a ninguém.

Na minha prática, bruxaria é uma coisa minha, única e intransferível. (Essa estorinha de iniciação é coisa pra veado bobo acreditar e mulher feia alcançar poder). Não afirmo que a minha verdade é a única, óbvio, mas perdoem-me, Senhores, eu me pauto pelas minhas verdades que, se o são agora, o são pela minha observação e prática e não pelas que tentam me ensinar ou me ditar.

A bruxaria se tornou o pano que encoberta toda putaria que necessita esconderijo. E o paganismo (ou neopaganismo como preferem as bichas cults) tornou-se o guarda chuva que tudo engloba.

Em nome da Deusa (e eu morro me perguntando que Deusa!) se propala que todo prazer pertence a Ela.

O prazer da traição e do ciúme pertenceria a Hera, então? O prazer da castidade pertenceria a Zeus? O prazer da abstenção a Hermes? O prazer de matar ao assassino? O prazer de violentar ao pedófilo?

Ah, falem sério!

O prazer de dominar, ditar, extorquir, exaurir, determinar, ofender, recusar, diminuir, magoar e explorar; esse sim, parece que pertence à “Deusa” porque pertence aos bruxos e sacerdotes da bruxaria.

E esse prazer vem sempre pela exigência da dominação e exploração sexual.

E se levante quem for capaz de atirar a primeira pedra em mim!

Que se pratique qualquer putaria, Senhores. Sou a favor dela e dela me alimento sempre que meu eu mais completo me pede ou exige de mim, mas não me venham com pias palavras de religiosidade e culto. Bastardas palavras de covardes e mentirosos.

Bruxaria é bruxaria e putaria é putaria. Uma não exclui a outra, mas aquela não pode ser disfarce pra essa.

E para piorar um pouco a coisa de coisa acobertada e que se pretende revolucionária vem a bicharia.

Já disse outras vezes que não tenho preconceito. Tenho conceitos.

E o meu conceito sobre bicharia já vem sido mostrado com o mais deboche que eu possa, em outros textos anteriores.

Mas é preciso que eu termine o serviço sujo da exposição dessa farsa da bruxaria e da bicharia na putaria.

Todos os tipos de bichas se aninham na chamada “bruxaria”. Bichas tresloucadas por poder; bichas que copiam vergonhosamente excertos de dois ou três livros estrangeiros inéditos em português e publicam um como de sua autoria (e todo mundo sabe de quem eu estou falando, não?); bichas que não suportam o seu medo de cair de boca em outras e se fingem machos ortodoxos (é o que eu chamo de hétero assumido); bichas que inventam iniciações nórdicas para seduzir garotinhos deslumbrados (e aqui também todos sabem de quem estou falando.), bichas hétero assumidas que praticam pedofilia virtual (quase todos sabem de quem estou falando). Enfim, uma infinidade de ortodoxias absolutamente heterodoxas – o paradoxo da inutilidade na observância de uma prática.

Sejam putos e não se envergonhem disso e mais, se preferirem, orgulhem-se mesmo que a moral os condene. Não tenham medo porque não se usa mais apedrejar no ocidente.

Sejam bichas. Existe uma infinidade de paradas gays onde todos podem se exibir com todo o talento para a arte de ser bicha. Coisa oficial, já. Ninguém vai bater em ninguém. Acontece as rencas de crentes brandindo Bíblias, mas até isso já virou folclore. Não se envergonhem de ser as bichinhas que desejam ser.

E toda bicha é puta. Dois adjetivos perfeitos. Somados, dão um substantivo bastante comum.

Mas não me venham misturar as coisas. Deixem a bruxaria fora dessa.

..

sexta-feira, 15 de janeiro de 2010

Bichinhas cults 2 (ou bruxinhas cults)

Agrupadas assim, uniformizadas e com conduta mais do que igualada, as bichinhas cults desfilam pelos points da cidade.

Mas há o grupo das dissidentes. Em geral são feias, mesmo que malhem seus corpinhos são sempre feinhos, são pobrinhas, não têm carro próprio – são obrigadas a andar de metrô ou ônibus e providenciam, a qualquer gênero, um meio de se projetarem no mundo das bichas cults.

A moda atualmente é ser bruxa!

Meu Deus macho e fêmea, como é moda isso agora!

A Wicca tem sido o meio que elas encontraram para se diferenciar. Embora você pergunte a qualquer uma delas o que é wicca, a resposta vai ser uma coisa intangível. Acredite!

Elas sempre usam uma túnica preta. De tudo. Desde o cetim brilhante até veludo. Depende do gosto (ou mal gosto) da bicha e, claro, do seu poder aquisitivo. Mas a túnica as faz pensar em Cleópatra. Sabe-se lá o que significa isso na cabeça delas, mas é assim. Claro que elas não confessam, mas é assim!

A túnica é a fantasia que as faz pensar que são o uó!

Reúnem-se em torno de uma outra bicha – ou uma mulher mesmo, de verdade – e criam o que nomeiam de grove, círculo, coven, tradition, clã, casa da mãe, gaiola das loucas – ops, gaiola das loucas ou casa da mãe, não. Seria Mother’s house ou Fool’s Cage, porque bichinha bruxa cult só usa nomes estrangeiros – aliás, só em inglês!

A biba-mestra passa a ser chamada de Sumo Sacerdote ou Grão Sacerdote e passa a ser a orientadora, dedicadora e ditadora sobre todas as outras bichas. Tudo o que ela fala tem que ser seguido porque é a voz da Deusa.

Que Deusa, raios que me partam?

Outras sonham – viajam, mesmo – e afirmam que receberam “iniciação” das fadas, das bruxas de Alguidar, das Donzelas de Orleans, da Santa Cafetina, da avó índia e do mais o que pode produzir a cabeça de uma bicha tresloucada por fama e poder. Em São Paulo tem uma famosa, loiríssima como convém a uma bicha nórdica, que se diz membro encarnado do povo Vanir. (ai, será que agora eu vou apanhar de todas as seguidoras dele?)

Há ainda outro grupo de dissidentes: aquelas que preferem o “caminho solitário”. Essas, então, buscam o imponderável. Aquilo que não se sabe de onde surgiu, exatamente para que não venham a ser questionadas porque elas mesmas não sabem o que é aquilo que praticam.

Folheiam dois livros básicos de bruxaria (porque bicha só lê figuras, né?) e começam a inventar.

Autoproclamam-se feiticeiras, bruxas tradicionais – de novo, minha deusa branco e preto, tradicional em quê? - Aí começam a vomitar stregheria, santeria, brujeria ...

Ai, doem-me os cornos! Nenhuma delas tem a menor informação sobre a única tradição local que é a indígena ou a que se misturou vinda da África. Não é chique tratar dessas “coisas de preto”. Bruxa boa e cult só trata da Espanha pra cima. E como é tal o fervor que elas têm pelas coisas anglosaxônicas!

Arrebitam mais ainda os narizes, apertam mais a bundinha, reviram os olhinhos e suspiram... porque o mundo é ignorante. Só elas sabem coisas. Ui!

Todas juram que são inglesas. Outras, para ser mais diferentes ainda, juram que são holandesas. Mesmo com cabelo pixaim, cabeça grande e pescoço curto.

E o pior, Senhores... há muita gente que as segue!

quinta-feira, 14 de janeiro de 2010

Uma silhueta no horizonte


Algumas nuvens me induzem a pensar que se afigura no horizonte um vulto.

As nuvens, no poente, me afirmam que eu devo olhar para o horizonte e esperar para divisar a silhueta negra que se avizinha.

Meu deboche me induz a rir e dar de ombros, mas meu coração, esquecido que estava destas coisas, se avoluma e se infla. Medo ainda. Reticente em acreditar. Temeroso.

E eu, entre o meu deboche e o meu coração digo vá lá! Acredite!

E eu mesmo acredito.

Será, deveras, uma silhueta que se avizinha pra me pertencer e me fazer pertencido?

O fosco que se fará brilhante? Radiância?

Meu deboche debocha largo e eu retraio e me contorço e me desfaço, novamente.

Decido não crer. Decido apartar-me. Decido que não.

Mas o não não desce pela minha garganta, se embrulha na minha língua e lá permance. Meu coração não o recebe.

Meu coração e eu pendemos olhosos para o horizonte. Fio rosado entre o céu e a noite. Está lá, à espera, a silhueta. Unicamente esperando um aceno.

Devo acenar e dar-me de novo por inteiro?

segunda-feira, 11 de janeiro de 2010

Bichinhas cults

Bichinha já é uma coisa naturalmente chata. Todas têm nariz de quem sentiu “cheirinho de fedorzinho”, bundinha apertadinha, biquinho na boca e olhar de quem está procurando alguma coisa acima de todas as coisas.
Quando se propõem a ser cults (não poderiam ser cultas? Tinha que ser em outra língua?) ficam mais aborrecíveis ainda.
São super identificáveis porque apresentam conduta padrão e uniforme comum.

  • Em geral falam mais uma língua além da natal, mesmo que sejam completamente semialfabetizadas na sua própria língua. Adoram incluir estrangeirismos na fala corrente.
  • Sempre estão vestidas de preto ou preto e branco.
  • Em geral são malhadas e algumas vezes até marombadas.
  • Freqüentam academia onde exibem os corpinhos com shortinhos e camisetinhas coladas. (Algumas arriscam um brilho na camiseta de malhar). Em Brasília, elas se reúnem e malham na Runway do Sudoeste. Impávidas!
  • À noite, sempre usam camisetinhas apertadinhas com estampas brilhantes. As mais ricas com pailletés ou metal sintético e as mais pobrezinhas, glitter mesmo. O que não pode é não ter brilho.
  • Freqüentam assiduamente a Livraria Cultura, onde se sentam, sempre aos pares e lêem as figuras dos livros. Comprar, ler e compreender qualquer coisa em qualquer livro não faz parte do manual das bichinhas cults. O Importante é que as outras bichinhas, em pares, vejam as outras bichinhas. Em pares também!
  • Assistem aos espetáculos dos Irmãos Guimarães e ao final da peça, batem palminhas com as mãos e os pezinhos no chão, mesmo que não tenham entendido nada do que tenha sido apresentado e muito menos o que tenha sido apresentado. O importante é estar lá, de corpo presente, com mãos e pés prontos para se agitarem quando o pano fechar. (quando o pano não se fecha, por alguma razão estética ou conceitual, as bichinhas ficam esperando a projeção do The End ou então, a primeira bichinha a bater palma. Do contrário, não sabem o que fazer. Entram em conflito.)
  • Recitam de cor e salteado todos os filmes da temporada e falam dos intérpretes como velhos amigos que foram desde criancinhas lá em Unaí. Sempre emitem um comentário sobre o filme, à guisa de crítica, porque, claro, todas se julgam especialistas na sétima arte, embora não tenham podido conceber a mais pequena idéia do que o filme assistido tenha proposto ou mostrado. O importante é parecer familiarizado com o assunto, com o diretor, com os atores e com todo o mundo mais que a bichinha idealize como mundo seu.
  • Amam e idolatram e imitam e juram ser as pops do mercado fonográfico, madonnas, beyoncés, mariahs e shakiras. Sabem todas as músicas e as indefectíveis coreografias que acompanham as músicas e dançam, em casa, diante do espelho da sala, perfeitamente convencidas.
  • Usam a expressão “é uó!” como usam saliva... é estonteante ver como 3 vogais podem significar tudo na vida de uma pessoa!
  • Algumas esnobam cultura diferenciada. Falam das incorreções dos ditados populares, da matança de bichos pelo aí afora (que pena que não matem bichas também!), de artes gráficas, de ópera, de música antiga e do piano da vizinha. (em raríssimas e esparsas exceções, se você apertar um pouquinho mais, elas são capazes de afirmar, sobre o salto e sem tremer os cílios postiços que Cem anos de Solidão é a obra prima de Bottero e que Hilda Hilst (hã? quem mesmo, heim?) deve ser uma das participantes do Big Brother Brasil... ahhh, desse então, elas sabem tudo!

domingo, 10 de janeiro de 2010

De mim pra mim e para todos


Preciso desocupar este espaço que ocupo e devolvê-lo, urgente, à Terra. Mas antes devo prantear algumas coisas que não fui. Não fui por ter me proibido ou por não ter sabido como ser ou seja lá por que seja, não o fui.
Minha vida sempre foi o amor de Gustav von Ascenbach por Tadzio. Ao fundo, Mahler, impiedoso noadagietto.
Pouco mais do que isso. Algum brilho especial nos olhos verdes e na lucidez ultrajada e ultrajante.
Marco solitário em todas as vidas que passaram por mim, não soube marcar para que passassem por mim e ficassem! Sempre os perdi. Sempre fiquei só, a acenar uns acenos de adeus não convincentes. À beira da cerca de mim mesmo com porteiras sempre ultrapassadas.
Nunca soube fechar as porteiras para que os amores não saíssem para outras paradas e comigo continuassem a habitar o mesmo campo. Umas pradarias sonhadas. Apenas isso. Sonhadas.
Fui sonhos. Sonhos nos meus sonos e pesadelos nos sonos dos amores que fugiram sempre.
Amei. Amei muito mais do que devia ou podia e me resguardei de ser amado como merecia. Errei. Assustei-me sempre com a possibilidade de ser amado. Exorcizei todos os afetos que se aproximaram de mim e se ofereceram com mãos cálidas e dadivosas. Eu tinha sempre medo, me compreendem?
Assim como Von Ascenbach eu pintei os meus cabelos, os meus bigodes e maquiei o meu rosto do mais branco pancake e minhas faces com a mais rosada cor para alcançar o amor.
Sempre vesti o meu mais branco terno e portei o meu branco chapéu. Sempre pensei que assim, pudesse me apaixonar (e os barbeiros sempre me o disseram que sim...)
Sempre compus belas músicas e poemas de amor e tive uma história triste para contar e uma doença para curar...
Sempre fui a Veneza... e Tadzio nunca me disse, em nenhum tempo que sim, que eu podia me apaixonar.
Agora é finda a hora. O sol se põe e eu devo alugar uma barraca na praia fria da última espera.
O sirocco avança e a peste me aguarda. Mijos e mortos nas ruas. Mortes e decepções. Mijos e medos. Meus mortos semisepultos nas ruas. Mágoas de mim comigo mesmo. Mágoas e desapontamentos por ter sido sempre tão tardio nos meus impulsos e tão arrogante nas minhas tardanças...
Devo prantear o terno que agora sou e que não soube sê-lo quando me pediram ou esperaram que eu o fosse. Prantear o não ter sido.
Estar sendo sem nunca ter sido.
Desocupar o espaço terreno e voltar à divindade sem ter me dado as chances todas, sem ter sido o veículo perfeito para o prazer da Divindade!
Eis que é chegada a hora de recriar-me para o todo expressivo e receptivo e romper esse invólucro/barreira e dar-me ainda ao que na Terra está?
Ai que bom seria ainda essa chance derradeira!
Queria ter a ti e aos outros todos, novamente, alvo de suas mãos condutoras... talvez eu até conseguisse prometer que agora eu seria diferente!
Nostalgia de todas as músicas que ficaram, de todos os amores e dos últimos que ainda falam muito nos ouvidos do meu coração.
Mas isso vai passar na hora de entregar tudo à Terra.
Que eu entoe, então, canções!




sexta-feira, 8 de janeiro de 2010

Ay, Barcelona!





No portão de embarque eu pergunto, à agente da TAP, até quantos anos uma pessoa era considerada criança para ter prioridade no embarque.

A agente (não sei por que a Ibéria e a Tap escolhem a dedo e com requintada atenção as mulheres mais feias, mais velhas, mais mal cuidadas e assustadoramente cafonas para trabalhar nos seus balcões! Enfim...) na costumeira grosseria dos agentes da TAP (e da Ibéria? Nossa! pior ainda!) respondeu-me que “criança é criança e não vai se considerar uma pessoa de 15 anos como criança”

Não sei se ela entendeu minha pergunta; se eu fui claro o suficiente para a compreensão de uma portuguesa ou se a moça só estava a proceder como sói proceder um português.

E continuou a falar e gesticular (exatamente como as bigodudas de Nazaré, no mercado de peixes que gritam e gritam umas às outras – uma algaravia de gralhas) e repetia “eu considero criança uma p’ssoa de oito, nove, déijanox e não vou consideraire criança uma p’ssoa de 15!”

(Onde ela viu uma pessoa de 15 ou de 8, ou de 9 ou de 10 por perto era só uma fantasia à portuguesa porque eu estava sozinho no balcão, à perguntar. Minha neta de 10 anos estava longe, invisível)

O meu manual pessoal de sobrevivência tem uma informação básica que é “na altura em que algo passou a ser visivelmente burro, dê dois gritos – deixe-me explicar, rapidamente, antes que algum português ou algum aportuguesado venha a entender isso como dar dois gritos de tarzã no meio do aeroporto. Não, não é assim. -

Dois gritos significa levantar o volume da sua voz mais alto que o do interlocutor. Uma vez e outra vez. O interlocutor vai lhe abrir dois olhos arregalados e fechar a boca. Confie nisso. É tiro e queda. Até os ingleses reagem igual diante de dois gritos.

-Quer dizer que limite de infância é o que a m’nina achar? Gritei eu com a portuguesa absurdamente feia, no melhor sotaque português que pude montar – sei lá, não é? A portuguesa já nasce com uma dificuldade natural de compreensão e ainda falam com ela em outra língua...?

A gralha-loira-à-força ainda custou uns 20 e picos segundos para perc’ber que eu estava a gritar com ela, parou, arregalou os olhos e a amiga gordotinha ao lado respondeu, no melhor estilo alemão de resolver problemas” -12 anos”

E Portugal continua a produzir portugueses aos montes... veja que pérola!

Nos banheiros do aeroporto internacional de Lisboa podem-se ler cartazes

COMO LAVAR AS MÃOS CORRETAMENTE

Laves as mãos quando elas estiverem visivelmente sujas.

Em outras situações use um anti séptico à base de álcool.

É preciso fazer algum comentário?

Ay, Barcelona!











"Cuando te hablen de amor

y de ilusiones

y te ofrezcan um sol

y um cielo entero,

Si te acuerdas de mi

no me menciones

porque vas a sentir

amor del bueno


Y si quieren saber

de tu pasado

es preciso decir una mentira,

Di que vienes de allá

De un mundo raro;

que no sabes llorar,

y no entiendes de amor

y que nunca has amado.


Porque yo adonde voy,

hablaré de tu amor

como un sueño dorado.

Olvidando el rencor

no diré que tu adiós

me volvió desgraciado


Y si quieren saber

de mi pasado

es preciso decir otra mentira,

les diré que llegué

de un mundo raro.

Que no sé del dolor,

que triunfé al amor

y que nunca he llorado.

Yo nunca he llorado!"

(Jose Alfredo Jiménez Sandoval)


terça-feira, 5 de janeiro de 2010

Ay, Barcelona!

Hoy me ocurrió una historia muy sencilla y muy especial.
Estava yo en la tienda de Fnac, con mi nieta y Ana, cuando sali hasta la calle para fumar.
Encendi mi cigarro y me puso a tragarlo, recostado a la pared de la tienda.
El humo se mesclava con el vapor caliente salido de mi boca, y la lluvia tornava todo mas difícil.
De golpe, un chico, veinte y pocos años, especialmente guapo, se acercó y me preguntó, con una mirada muy fuerte, si yo tenia un cigarro para él.
- Si, lo tengo - y pronto le regalé un cigarro de los mios (yo los habia comprado hacía solamente dos minutos), encuanto buscava el encendedor para ofrezcerle, al que él, sin quitar sus ojos muy fuertes de los mios:
- Yo tengo el fuego, pero voy aprovechar el tuyo.
Encendió el cigarro a mirarme y me dijo:
- La vida es una sola! – Así que se fue.
Dos pasos fuertes adelante, el chico se volvió y tornó a semblarme:
- Piensa en esto: solo hay una vida. Hay que aprovecharla!
De pronto se perdió en la multitud.
La luna, la calle, la gente, la lluvia, todo quedó lo mismo, pero sus ojos quedaran dentro de mi como dos espadas.
“... solo hay una vida. Hay que aprovecharla...”

Me pregunto hasta ahora, después de lo haber encontrado dos veces mas, por la calle, en sitios distintos, y después de haber sido regalado, en estos dos veces, con su larga sonrisa:

Hubiera yo que aprovecharlo, el guapo mismo?
Tendria yo que saber que se puede aprovechar los recursos ajenos cuando los nuestros son limitados?
Hay que aprovechar siempre todo el disponible?

No lo sé, barcelonin. Hasta ahora no lo sé, y está claro que jamas lo saberé.

Sin embargo, muchas gracias por tu mirada. Inolvidable!