Agrupadas assim, uniformizadas e com conduta mais do que igualada, as bichinhas cults desfilam pelos points da cidade.
Mas há o grupo das dissidentes. Em geral são feias, mesmo que malhem seus corpinhos são sempre feinhos, são pobrinhas, não têm carro próprio – são obrigadas a andar de metrô ou ônibus e providenciam, a qualquer gênero, um meio de se projetarem no mundo das bichas cults.
A moda atualmente é ser bruxa!
Meu Deus macho e fêmea, como é moda isso agora!
A Wicca tem sido o meio que elas encontraram para se diferenciar. Embora você pergunte a qualquer uma delas o que é wicca, a resposta vai ser uma coisa intangível. Acredite!
Elas sempre usam uma túnica preta. De tudo. Desde o cetim brilhante até veludo. Depende do gosto (ou mal gosto) da bicha e, claro, do seu poder aquisitivo. Mas a túnica as faz pensar
A túnica é a fantasia que as faz pensar que são o uó!
Reúnem-se em torno de uma outra bicha – ou uma mulher mesmo, de verdade – e criam o que nomeiam de grove, círculo, coven, tradition, clã, casa da mãe, gaiola das loucas – ops, gaiola das loucas ou casa da mãe, não. Seria Mother’s house ou Fool’s Cage, porque bichinha bruxa cult só usa nomes estrangeiros – aliás, só em inglês!
A biba-mestra passa a ser chamada de Sumo Sacerdote ou Grão Sacerdote e passa a ser a orientadora, dedicadora e ditadora sobre todas as outras bichas. Tudo o que ela fala tem que ser seguido porque é a voz da Deusa.
Que Deusa, raios que me partam?
Outras sonham – viajam, mesmo – e afirmam que receberam “iniciação” das fadas, das bruxas de Alguidar, das Donzelas de Orleans, da Santa Cafetina, da avó índia e do mais o que pode produzir a cabeça de uma bicha tresloucada por fama e poder.
Há ainda outro grupo de dissidentes: aquelas que preferem o “caminho solitário”. Essas, então, buscam o imponderável. Aquilo que não se sabe de onde surgiu, exatamente para que não venham a ser questionadas porque elas mesmas não sabem o que é aquilo que praticam.
Folheiam dois livros básicos de bruxaria (porque bicha só lê figuras, né?) e começam a inventar.
Autoproclamam-se feiticeiras, bruxas tradicionais – de novo, minha deusa branco e preto, tradicional em quê? - Aí começam a vomitar stregheria, santeria, brujeria ...
Ai, doem-me os cornos! Nenhuma delas tem a menor informação sobre a única tradição local que é a indígena ou a que se misturou vinda da África. Não é chique tratar dessas “coisas de preto”. Bruxa boa e cult só trata da Espanha pra cima. E como é tal o fervor que elas têm pelas coisas anglosaxônicas!
Arrebitam mais ainda os narizes, apertam mais a bundinha, reviram os olhinhos e suspiram... porque o mundo é ignorante. Só elas sabem coisas. Ui!
Todas juram que são inglesas. Outras, para ser mais diferentes ainda, juram que são holandesas. Mesmo com cabelo pixaim, cabeça grande e pescoço curto.
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