segunda-feira, 26 de julho de 2010

Lilith, o BBB e coisas valiosas...


Então, estive no BBB (Bruxa(o)s Brasileira(o)s em Brasília, na sua 12ª edição. Fui falar sobre a minha experiência com Lilith. Fomos o Volupto e eu.

Quero dizer que foi muuuuuito bom, sabiam?

Antes de tudo pela organização e pelo astral super alto que lá encontrei. Depois por ter podido reencontrar Trahen Ceridweenn, Garnet... pessoas com valiosas informações para mim que estou sempre precisado delas e agora, principalmente. Diria que são oportunas. E terceiro e mais importante, pelo fato de falar de uma experiência minha, chamada de herege por alguns bruxinhos de São Paulo (aqueles, os quais cito sempre, as cults!); de desmiolada pelos conservadores e por viajandona pelos mais visionários.

Senhores, digo-lhes, foi uma experiência complementar para mim.

Ora, chega aí um neófito urbano para discorrer sobre peixes para pescadores... é engraçado, não? Falar sobre Lilith para bruxas e bruxos diânicos é quase uma diabrura... acreditam que não foi?

Foi mesmo uma experiência compensadora estar entre 40 olhos me olhando, com prontidão para receber o que eu estava levando... e mais, fantástico, para mim, todos me olharam com olhares que me ofereciam oportunidade.

Não sei se serei capaz de me explicar, mas algo como que me dizendo que abriam mão de todos os seus conhecimentos acerca da matéria, colocavam-no de lado, para receber a minha proposta, sem julgamento automático. Sem aquela conduta imediata de dizer eu sei e não me venha com coisas diferentes porque o que eu sei é tudo e é a verdade... foi ter uma experiência de agregação de saberes e vivências, tão ao contrário do que expus – ao mesmo tempo que invocando o inverso – da imaculabilidade dos saberes pessoais, no texto último do meu blog.

Fiquei literalmente empolgado por ver pessoas me ouvindo falar sobre uma grande conhecida deles, sem me julgar isto ou aquilo. Só ouvindo com olhos ávidos.

Quando eu li para eles os 7 Mandamentos de Lilith... Deusa Negra!... eles entenderam tudo: aos seus conhecimentos anteriores se juntaram os que eu estava trazendo e tudo ficou maior para todos... especialmente para mim que pude ver, isto mesmo, VER como a Senhora Negra Primordial – o ventre que é o princípio - aproveitou esse momento para ocupar mais espaços. Mais ainda do que os que já ocupava em cada um!

E Lilith foi se alastrando insidiosa, ocupando os seios dos homens e os das mulheres, serpenteando silenciosa, fascinante, assertiva, decidida e permeou todo o espaço. Pareceu-me que ela ocupou, de verdade, mais seios e mais ventres... não sei, não me cabe mais afirmar coisas ou negá-las a esse respeito. Ela me diz sempre que eu cale a minha boca mental e continue fazendo aquilo...

Obrigado, Mavésper! Obrigado pelo convite. Foi mais uma experiência de Vida que tive!

E os bruxinhos paulistas, aqueles os tradicionais, os cults, só posso sugerir que liberem o reles... dá mais futuro porque Lilith, essa que vocês não pronunciam o sagrado nome, dá voltas no estômago de tanto rir. De vocês, claro!

Grande beijo para todos os BBBistas, para Mavésper, os palestrantes, as cozinheiras, o Volupto e para mim, porque a gente merece.

Para os outros... o que eu posso dedicar agora é um pouco, digamos, impublicável entre gente de “bem”, e que, na verdade, é só um pum! Eu não sou gente de “bem” mesmo!

quarta-feira, 21 de julho de 2010

Dhritarastra e o culto a Maya...


Então, não sei se estou certo ou se me engano redondamente, mas, para mim, o mundo é uma bola de conhecimento, com escada.

Já me explico.

Em geral as religiões e as culturas religiosas afirmam que estamos aqui, no Planeta, para aprendermos coisas que possam permitir ou realizar a nossa evolução. Não entro nesse mérito, mas garanto que, de uma certa forma, têm parte da razão.

De um modo geral se afirma que o conhecimento humano é cumulativo quando se alicerça sobre uma filosofia semelhante e excludente quando as parecenças não se apresentam. Eu não concordo plenamente com isso; que possa haver diferenças entre qualquer conhecimento humano. No lado oposto, embaixo, acima, ao lado, sempre haverá uma comunhão entre qualquer sentença de pensamento. Assim eu entendo evolução.

O Michaellis registra evolução como “progresso paulatino e contínuo a partir de um estado inferior ou simples para um superior, mais complexo ou melhor. Progresso contínuo de simplicidade inorganizada a complexidade organizada. Transformação lenta, em leves mudanças sucessivas.” E, na rubrica Filosofia “desenvolvimento lógico de uma idéia no tempo; sucessão de sistemas que se engendram uns aos outros. (grifo meu)

Não sei uma conceituação mais simples e tão eficaz!

Estar-se em um degrau de uma escada e, engendrando idéias e sistemas, com o passar do tempo, alcançar-se outro.

Há inúmeras maneiras e sensos de se pretender a evolução. Continuo afirmando que é outro mérito o qual não quero tratar. Apenas quero falar da evolução das práticas com objetivo na evolução das idéias, dos sistemas e do próprio ser.

Na contramão disso vem o reconstrucionismo, isto é a prática de se resgatarem processos e sistemas anteriores do tempo e do espaço atuais.

Como se me explica uma tradição religiosa que propõe (e exige também) uma volta às práticas religiosas dos começos da humanidade civilizada e, consequentemente do sistema de pensamentos dessa mesma humanidade, objetivando uma dada evolução, por meio do resgate das práticas que já foram abandonadas no tempo e no espaço?

Isso me remete aos mestres e gurus detentores dos conhecimentos e regras e sistemas de cada religião.

Como abordei em texto anterior, um determinado mestre entende que o seu entendimento é único capaz de explicar um conceito específico e, na ânsia de manter essa pureza de entendimento, evita que outra interpretação venha conspurcá-la e exige de seus discípulos que sigam a sua orientação de forma igual e de igual maneira a imortalizem.

Ora, além de não permitir que seus discípulos venham a “construir mais um degrau” de evolução, tornam a coisa estanque e infértil.

Assisti ontem ao MahaBharata do Peter Brook – não sei se o diretor foi fiel ao texto original porque não o li integralmente – onde os diálogos trazem posturas e permissões frontalmente contrárias ao que os mestres e gurus nos informam.

Não sei se me interessei por eles porque garantem o meu entendimento sobre a vida e suas evoluções ou porque eu sou mesmo grandemente incapaz de seguir orientações de mestres e dos auto-prepostos das leis.

Momento em que a mulher enfurecida amaldiçoa Krisna... como assim, amaldiçoar um deus? Não é assim que os mestres ensinam!... pelo contrário, já disseram a mim, alhures, que se não se entoarem os mantras hindus em bom e claro sânscrito, os deuses lhe farão ouvidos moucos (à época tive pena dos fanhos e mudos, mas fazer o quê?... o mestre devia estar sabendo o que ensinava e punha em exigência). Como assim, então, se não posso nem lhes falar o sânscrito com sotaque, amaldiçoá-los?

No mesmo filme, quando Narda está vulnerável às flechas de Arjuna, Krisna, peremptório, lhe ordena que atire as flechas. Arjuna sequer lhe dá ouvidos... por 3 vezes. Como assim, não obedecer aos comandos de um deus que lhe fala diretamente?

Há muito que falar sobre essas coisas, mas não me cabe tempo e muito menos paciência e minha coerência me adverte não ensinar nada do que eu entendo como entendimento. Haverá o momento certo, a pessoa certa, no cenário certo que eu terei a obrigação de expor-me e essa pessoa levará adiante, aonde a informação tem que chegar.

Neste mesmo filme, na cena final, Yudhisthira passa, vivo, o portal do Paraíso, onde encontra, em bem-aveturança, o seu primo Duryôdhana. Decepcionado pede a Vyasa que o leve até onde estavam seus irmãos e Draupadi... tão virtuosos e capacitados para a ação reta! Onde estavam? Sofriam no reino das sombras, no meio de dejetos, corpos putrefatos e nenhum ar puro... Como assim?

Vyasa responde simples... tudo é Maya, meu querido.

E eu pergunto a todos esses mestres e discípulos e seguidores e mantenedores da imaculabilidade por que insistem em ser e agir como Dhritarastra – cegos de olhos e de almas? Por que não escutar, ao menos, a fala de Kunti Deva que diz que para enxergar basta um pouquinho de coragem?

Por que tanta devoção a Maya, mestres?

quarta-feira, 14 de julho de 2010

... assim acima como embaixo.


Que assim seja e assim se faça porque assim é a vontade!

sexta-feira, 9 de julho de 2010

Eu Don Quixote e meu coração Sancho Pança


Quando a lua me chama, eu me lanço, lança! Eu me entrego, amolecido, a ela. Sangues nas veias, correndo céleres, acelerados, volteantes, massivos em direção a ele, o meu coração....

Sempre houve um espaço, um reduto onde eu guardo você como o meu mais proeminente coração. Aquele vivo, ardente e que se entrega a mim, os seus favores de me animar, me dar a vida, me fazer sentir que vale a pena estar aqui e esperar que tudo se faça conforme eu mesmo peço e aguardo

Meus sangues alimentam você para que a morte deles não se faça sem a sua morte e a sua vida não se faça sem os meus sangues

Volteio sempre sobre mim mesmo e a cada volta eu me pergunto onde eu estaria e onde é esse lugar de paz e medo que me encontro e me perco.

Sou assim. Amiúde eu me costuro e me construo. Pedra sobre pedra e alguns tijolos que se rompem. Sim, rompem deixando abertos e incompletos em mim, nas minhas paredes. que eu tento, a custo de tudo, preencher... mesmo que com somente as lembranças e esperanças de que um dia a coisa seja diferente: que você, meu coração e eu tenhamos um só corpo e uma só alma...

Mas o que digo eu se o hoje mostra que não, que não é assim? Que as juras, seus anseios, seus arrepios em mim não contam na hora fatal de armar... e você sempre me desarma?

Tenho tantas palavras guardadas para dizer e temo que jamais sejam ditas, por todos e nenhum motivos. Medo que se grudem aqui dentro, como sempre se grudaram nas minhas paredes, nos abertos dos tijolos... Dói. Dói e não é porque eu seja um romântico, uma heroína encantada. Sim, eu sou mesmo uma heroína encantada e sonho, sim, ser a princesa do príncipe do cavalo branco ou o príncipe da princesa desprotegida

Ah! Eu sou assim! e não me venham aqueles, os que sabem tudo e estão tão apaziguados sempre, tão cheios das certezas, tão repletos das verdades inabaladas... que fiquem nisso que são, apenas um baú de verdades. Eu não! Eu sou incontinência! Eu sou caudaloso na emoção, sangue vermelho espirrando das veias num anseio febril de amor, de paixão, de corpos em frêmitos, de descomposturas, de força gigante de sexo, de entranhas, de vísceras amalgamadas umas nas outras. Eu sou assim. Somos assim! e não sei e não sabemos como ser de outro tom, de outra forma. E juro, ainda que me custem os dias todos dessa existência, haverá alguém que me queira de mim você que é minhas vísceras aquecidas por tanta paixão. Creio! Eu creio como uma criança que crê e se assusta e se anima e anseia pelo papai Noel no dia véspera do natal!

Meu corpo é a toada das cordas do bolero que você é. Sou as cores todas das paletas dos pintores atiçados. As cores fortes, as finas, as doces e, principalmente as sutis porque, me entendam, prestem atenção em mim, na minha fala; sutis porque já andei em todas. Já me desbaratei esbanjado em cada uma delas e em cada uma delas fiz o meu amor comigo e com você, meu coração! Por isso eu sei a sutileza e o rústico de cada uma.

Ah! Lua! Por que não me emprestas essa tua lonjura? Por que me arroubas em êxtase, deslumbramento de pensar que ele, o meu coração, não vive, não sonha, não se completa sem mim?

Por que me fazes vítima dos teus sortilégios de amor e de vertigem?

Algo meu mora com você, coração. Algo muito. Algo grande, alargado, agigantado. Algo que me pertence, que não mais habita em mim e está em você, mas com uma ânsia golfante de habitar junto, co-habitar em nós dois. Por isso tanto te busco. Tanto me aproximo e tanto me perco.


quarta-feira, 7 de julho de 2010

os assaltos dos mortos


Estou aqui e me assaltam loucas, longas memórias. Lembranças antigas do antigo meu. Do meu mais passado. Das minhas investidas em direção à vida e dos meus fracassos.

Saudades de gentes que já se foram. Já morreram nas ondas. Gentes que foram os sóis, as estrelas e os meus nortes e hoje são apenas o sul das lembranças, mas que me assaltam de pronto como coisas que se empenham em muito me assustar. Saltam dos lugares todos dos móveis da minha memória, do que fica guardado. Das gavetas que não abro e agora se abrem sozinhas como vidas que se me cobram e exigem suas pagas.

Os todos. Os mortos. Os ainda vivos que se escondem dos meus olhos e se me aparecem no momento seguinte em que os fecho. Olhos fechados e os mortos se insurgem dos seus túmulos e saltam de trás de cada volume, cada pilastra, cada lápide que instalei – ontem seguro que eram seguros – e me lançam suas presenças. Passam, correm, escuras, vultos sombrosos e se vão – não antes de me criarem um espanto e me fazerem crer que nada meu está lá e sim vivo e presente nos seus silêncios.

Silêncio gritador. Troante... e há os que dizem que com o tempo tudo se vai...

Como o tempo tudo sai dos meus olhos, dos meus braços, dos meus lábios e vai para umas plagas que existem dentro de mim e cada vez fica tudo mais eterno e eu sou o único incapaz de tirar, expulsar, fazer este tudo sair de lá. Lá onde as lembranças têm vida própria e se regozijam em aparecer em assaltos e me dominar

Há um momento, na hora de ficar velho, que a cada dia não mais se percebe o mundo visível. Os olhos embaçam a cada dia mais e os ouvidos ficam mais moucos a cada dia; a fala se esquece do que desejava falar e os olhos olham para dentro, os olhos se viram para dentro e os ouvidos passam a ver e ouvir somente o que está lá, naquele lugar de sombras e lembranças... e o coração dói, porque não envelhece.

segunda-feira, 5 de julho de 2010

Idéias se confrontam ou se agregam e se amalgamam?


Causa-me um significativo espanto o fato de existir hoje, na nossa sociedade moderna, uma necessidade premente – não sei se aprendida, adquirida ou essencial – de não acumular e sobrepor conhecimentos filosóficos e religiosos – do pensamento e da alma, embora nos técnicos aconteça exatamente o contrário. São cumulativos e diligentemente sobrepostos. Um se sobrepõe ao outro que se sobrepõe a um terceiro e toda a tecnologia se encaminha para um otimum de aperfeiçoamento.

No que se refere ao espírito e ao pensamento, não! Rivalizam-se e se opõem. Sempre contrários uns aos outros como dissidências necessárias e úteis.

No sentido religioso, por exemplo, o que cada mestre ou sábio da humanidade disse, a cada tempo, no seu tempo, é determinado, pelo homem, como definitivo e imutável. E, por conseguinte, as práticas religiosas devem ser da mesma forma, pois que se do contrário, passam a ser heresia e dissidência.

O que disse Buda é eternamente considerado como sempiterno e acabado em si mesmo. O que disse Jesus Cristo, 500 e poucos anos depois, queda da mesma maneira e deve ser tratado pelos seguidores dele como também sempiternos e estanques. Assim, os budistas executam suas práticas à mesma maneira que as teria praticado Buda, diferente do que praticou e pregou Jesus Cristo e não uma sendo decorrência e complemento da outra. Os cristãos entendem que os budistas não serão salvos e não receberão o seu galardão nos céus. Os budistas se entendem e se afirmam iluminados pela grande luz e os cristãos como sencientes. Os cristãos católicos entendem os cristãos ortodoxos ou os evangélicos como mal doutrinados e vice e versa e todos apontam os pagãos como hereges.

Na filosofia, onde incluo todos os saberes do pensamento, a coisa é igual.

Notável é que no mundo antigo ocidental as filosofias se encaixavam e se ampliavam e, por sua vez, ampliavam o conhecimento geral. Não ocorriam afrontamentos entre elas. Não se provocavam umas às outras e não se recolhiam em si mesmas. Isto é, não eram estanques e não estancadas por imposição ou doutrinamento; nem dos seus formuladores, nem de seus seguidores e praticantes. Esse encadeamento de saberes deve ter sido, verdadeiramente, profícuo, pois influenciou o saber ocidental até o final da Idade Média.

Já no mundo moderno temos exemplos contundentes da necessidade do formulador de uma idéia e de seus seguidores de manter a “pureza”, a não maculação dessa idéia. Como se idéia fosse algo bastante, começando e terminando em si mesma.

Cito, por exemplo, a psicanálise. Houve um momento que idéias novas brotaram do nada; poder-se-ia dizer, que forçaram a sua “reunião” em uma única corrente. A esse “brotamento” de idéias em diversos lugares, ao mesmo tempo, deu-se o nome de “inconsciente coletivo” e que outros chamam de akasha.

Logo após as experiências intuitivas de Freud sobre a prática clínica em psicoterapia, Jung dava notícias de coisas absolutamente parecidas – o que fez com que os dois se aproximassem de maneira intensa e que, ao mesmo tempo, os separou definitivamente. Fizeram-se dissidentes em uma mesma idéia, de um mesmo registro akashico. Opuseram-se os homens, as teorias, as idéias e as práticas. E hoje ainda se perpetuam freudianos ortodoxos fundamentalistas e, nessa atitude, recusam-se a admitir as práticas ou a teoria junguiana e outras.

Os procedimentos clínicos sugeridos por Freud foram e são, incontestavelmente, importantes fundamentos para a compreensão da psique humana e que, num olhar mais abrangente, agregam-se aos fundamentos práticos de Jung que deu para o ocidente milhares de informações e registros míticos, místicos, sagrados, herméticos, cultuais e que, pela primeira vez tornou exotérico o que era esotérico. E foi, para ele, importantíssima a influência de Heinrich Zimmer que trouxe, pela primeira vez para o ocidente os mitos orientais, especialmente os hindus. Em resumo, Jung juntou, agregou e condensou conhecimentos mais antigos às suas descobertas e reflexões, SOBREPONDO-os. Empilhando-os, um em cima do outro. Eu entendo que teria sido uma atitude consciente já que ele vinha de escolas de hermetismo e ocultismo. Por isso, entendia como os antigos, que a construção do ideário humano tem que se proibir de cair na Torre de Babel.

Mais tarde aparece Lacan com sua crítica aos embandeirados freudianos, apontando que eles estariam “distorcendo” a teoria fundamental e por isso era preciso voltar à fonte primitiva. Ampara-se em Lévi-Strauss e monta a sua própria teoria e práticas referentes. Nada muito anormal porque se nota, aqui, que ele ainda pratica a reunião de conhecimentos, embora escorregando pela condenação dos freudianos como maculadores da fonte mestra. Cai na confrontação com os praticantes daquelas idéias.

Óbvio que, com isso, se dá início a aparição de “ortodoxos” de todas as naturezas: os freudianos; os neo-freudianos; os lacanianos, os neo-lacanianos, os junguianos e os que são ortodoxos sem ortodoxia e seus flagelos decorrentes. Cada indivíduo passa a ser reservatório único e estanque de cada “mestre” – mesmo que não haja mestre algum – e, por si, dá início a todas e inimagináveis posturas práticas individuais.

Seria muito fantasioso entender o aditamento de idéias, formulações e práticas como uma escada que acrescenta degraus a si mesma indefinidamente e, portanto, fundamental? E que cada degrau não se opõe a nenhum degrau da mesma escada e que juntos levam a patamares cada vez mais altos? E mais ainda que, ao contrário, a oposição leva pra comprimentos também maiores, embora sempre na horizontal?

Deus e Diabo são um e só. O homem que os predispõe opostos. E eu temo que cada ser entenda a “sua” idéia como a de Deus e a de outrem sempre como a do Diabo!

sábado, 3 de julho de 2010

Enfim! Notícias da Holandesinha!


Depois da vitória da Holanda sobre o Brasil, de repente, a Holandesinha, do nada, manda, enfim, notícias!

Diz que está felicíssima. Eufórica - até mandou um cartãozinho postal com a fotinha dela. Loiríssima e com quase longas tranças – com a vitória holandesa sobre o a seleção brasileira. Patriota e nacionalista ela, assim como deveria ser aqui também, com todas as brasileirinhas.

- O quê? Nordestina? Jamais! Ela nunca foi nordestina. Ela jura de pés e mãozinhas juntas. Se o foi, ela não se lembra.

Pai deputado e mãe religiosa? O que é isso, Senhores? Jamais (em francês, tá? Por favor!). Jamais... jamais e jamais. E agora mudemos de assunto. Vamos às notícias dela porque são animadoras.

Diz que se casou com um holandês velho e rico e que, coitadinho, está nas últimas. A esta hora pode ser que o velho já tenha batido as tamancas e a pobre holandesinha esteja toda vestidinha de preto – porque assim devem proceder todas as viúvas – chorando duas lagriminhas e enxugando-as com o lencinho preto de renda holandesa.

Diz também que está muito feliz, ops, muito infeliz com a morte do velho porque antes disso tudo, quando o velho era só velho e não moribundo ainda, a menina fez olhos de encanto e o levou, pela mão (e bengala, claro) ao cartório mais próximo e pediu a ele que passasse a ela todos os seus bens. (Parece que tem até um moinho no inventário do velho, sei lá, não entendi bem). E o velho passou. Tudinho! De uma hora para outra a menina se viu rica. Mas como diria Juca Chaves, ser rica e feia é uma merda. Tratou, rapidinho de dar uma ajeitadinha... e não é que deu, mesmo, um jeitinho?

Garante também que a passagem que prometeu mandar para a sua madrinha brasileira, assim que puder, ela vai cumprir a promessa.

Para os que ainda não sabem, ela prometeu uma passagem para a madrinha dela, no começo desse ano, para ir ao seu casamento. Prometeu passagem, mundos e fundos.

Imagine a alegria da madrinha, coitada, uma pessoa que o mais longe que já viajou, na vida, foi para Altinópolis. Imaginou-se e se viu uma Lady Lucia. Até comprou uma bicicleta porque os amigos dela disseram que lá, na Holanda, as pessoas andam muito de bicicleta. A pobre mulher comprou logo uma. Pensou levar consigo na bagagem.

Mas com tudo isso de casamento, lua de mel, bengalas, fraldões geriátricos e um olho no futuro, conveniente era não gastar uma passagem agora e a madrinha não recebeu a passagem, não foi para o casamento e não levou a sua bicicleta. Está aqui, ainda e parece-me, me disse a Holandesinha, que a madrinha, apesar de se importar muito, anda usando a bicicleta para ir ao trabalho numa coisa aqui, que não entendi bem, se era uma revista ou um periódico que versa sobre moda ou pornografia. Vou perguntar depois e os informo direito. Prometo.

Mas como ninguém é de ferro, nem as holandesas, mister se fez que a menina holandesinha fosse a Paris para comprar umas roupinhas. Chiquérrima (ela usou o vocábulo chiquésima, mas isso ainda não foi aportuguesado, portanto, evito repetir), mas cá para nós, me pareceu de mau gosto, gosto pobre. (essa roupinha pode ser vista no postalzinho que ela enviou). As cores, combinandinhas (isso mesmo, assim mesmo), laçarotes e armações é um tanto “estive na Holanda e lembrei-me de você”, mas... fazer o quê, não é mesmo? Falar como o Clifton falava: gosto é igual a ânus. Cada um tem o seu! mas que esse colarinho alto não funciona para quem não tem pescoço, não funciona!

Até que está bonitinha a menina, não está? Pena que o cabeção ainda continue tão grande e, assim, loira, parece maior ainda... pergunto aos meus botões, o que teria sido feito do ninho de guaxo que ela tinha na cabeça? Será que a menina está de peruca e não contou nada? Bem, coisas de mulheres.

A maquiagem está bem feitíssima. Parece até trabalho meu no photoshop, mas não é. Juro. Nem mexi na foto. Um pouco miss Netherlands demais, não concordam?

Enfim, fiquei contente com a ex menina nordestina...(ixi, contei. Sem querer, eu juro!) e suas notícias alvissareiras. Hoje uma próspera holandesa que, apesar das origens, disfarça de alguma forma e ficou rica, herdeira de um moinho e duas casas na rua Bataviastraat, com vista para o Flevopark. Moça de sorte essa, dirão alguns.

A madrinha, coitada, pedala pelo Parque da Cidade mesmo sonhando, ainda, apesar de todas as evidência contrárias, que vai chegar o dia em que ela, distraída, exausta depois de um dia inteiro de trabalho numa revista (ou coisa parecida) onde, de secretária ela chegou a Diretora Geral em 5 dias e arrumou emprego para as filhas, os filhos, o porteiro do edifício onde ela mora, para a manicure, para a irmã e para os genros embora, coitadinha, faz pena, esforçada, mas não consegue fazer uma boa concordância verbal ou nominal que seja.... chegando em casa, encontra no escaninho da portaria, um envelope com um bilhete aéreo. Tomara que chegue mesmo esse dia. A pobre madrinha merece. Afinal ela tripudiou, enganou, desprezou, mentiu, alcovitou em favor da Holandesinha, sua afilhada.

Eu, cá comigo e minhas linhas de tricot, temo que, se chegar esse dia, no envelope esteja um bilhete para a Lacônia, onde mora o dragão lacônico... de ida. Sem volta. Seria muita maldade com uma bruxa madrinha só!