quarta-feira, 21 de julho de 2010

Dhritarastra e o culto a Maya...


Então, não sei se estou certo ou se me engano redondamente, mas, para mim, o mundo é uma bola de conhecimento, com escada.

Já me explico.

Em geral as religiões e as culturas religiosas afirmam que estamos aqui, no Planeta, para aprendermos coisas que possam permitir ou realizar a nossa evolução. Não entro nesse mérito, mas garanto que, de uma certa forma, têm parte da razão.

De um modo geral se afirma que o conhecimento humano é cumulativo quando se alicerça sobre uma filosofia semelhante e excludente quando as parecenças não se apresentam. Eu não concordo plenamente com isso; que possa haver diferenças entre qualquer conhecimento humano. No lado oposto, embaixo, acima, ao lado, sempre haverá uma comunhão entre qualquer sentença de pensamento. Assim eu entendo evolução.

O Michaellis registra evolução como “progresso paulatino e contínuo a partir de um estado inferior ou simples para um superior, mais complexo ou melhor. Progresso contínuo de simplicidade inorganizada a complexidade organizada. Transformação lenta, em leves mudanças sucessivas.” E, na rubrica Filosofia “desenvolvimento lógico de uma idéia no tempo; sucessão de sistemas que se engendram uns aos outros. (grifo meu)

Não sei uma conceituação mais simples e tão eficaz!

Estar-se em um degrau de uma escada e, engendrando idéias e sistemas, com o passar do tempo, alcançar-se outro.

Há inúmeras maneiras e sensos de se pretender a evolução. Continuo afirmando que é outro mérito o qual não quero tratar. Apenas quero falar da evolução das práticas com objetivo na evolução das idéias, dos sistemas e do próprio ser.

Na contramão disso vem o reconstrucionismo, isto é a prática de se resgatarem processos e sistemas anteriores do tempo e do espaço atuais.

Como se me explica uma tradição religiosa que propõe (e exige também) uma volta às práticas religiosas dos começos da humanidade civilizada e, consequentemente do sistema de pensamentos dessa mesma humanidade, objetivando uma dada evolução, por meio do resgate das práticas que já foram abandonadas no tempo e no espaço?

Isso me remete aos mestres e gurus detentores dos conhecimentos e regras e sistemas de cada religião.

Como abordei em texto anterior, um determinado mestre entende que o seu entendimento é único capaz de explicar um conceito específico e, na ânsia de manter essa pureza de entendimento, evita que outra interpretação venha conspurcá-la e exige de seus discípulos que sigam a sua orientação de forma igual e de igual maneira a imortalizem.

Ora, além de não permitir que seus discípulos venham a “construir mais um degrau” de evolução, tornam a coisa estanque e infértil.

Assisti ontem ao MahaBharata do Peter Brook – não sei se o diretor foi fiel ao texto original porque não o li integralmente – onde os diálogos trazem posturas e permissões frontalmente contrárias ao que os mestres e gurus nos informam.

Não sei se me interessei por eles porque garantem o meu entendimento sobre a vida e suas evoluções ou porque eu sou mesmo grandemente incapaz de seguir orientações de mestres e dos auto-prepostos das leis.

Momento em que a mulher enfurecida amaldiçoa Krisna... como assim, amaldiçoar um deus? Não é assim que os mestres ensinam!... pelo contrário, já disseram a mim, alhures, que se não se entoarem os mantras hindus em bom e claro sânscrito, os deuses lhe farão ouvidos moucos (à época tive pena dos fanhos e mudos, mas fazer o quê?... o mestre devia estar sabendo o que ensinava e punha em exigência). Como assim, então, se não posso nem lhes falar o sânscrito com sotaque, amaldiçoá-los?

No mesmo filme, quando Narda está vulnerável às flechas de Arjuna, Krisna, peremptório, lhe ordena que atire as flechas. Arjuna sequer lhe dá ouvidos... por 3 vezes. Como assim, não obedecer aos comandos de um deus que lhe fala diretamente?

Há muito que falar sobre essas coisas, mas não me cabe tempo e muito menos paciência e minha coerência me adverte não ensinar nada do que eu entendo como entendimento. Haverá o momento certo, a pessoa certa, no cenário certo que eu terei a obrigação de expor-me e essa pessoa levará adiante, aonde a informação tem que chegar.

Neste mesmo filme, na cena final, Yudhisthira passa, vivo, o portal do Paraíso, onde encontra, em bem-aveturança, o seu primo Duryôdhana. Decepcionado pede a Vyasa que o leve até onde estavam seus irmãos e Draupadi... tão virtuosos e capacitados para a ação reta! Onde estavam? Sofriam no reino das sombras, no meio de dejetos, corpos putrefatos e nenhum ar puro... Como assim?

Vyasa responde simples... tudo é Maya, meu querido.

E eu pergunto a todos esses mestres e discípulos e seguidores e mantenedores da imaculabilidade por que insistem em ser e agir como Dhritarastra – cegos de olhos e de almas? Por que não escutar, ao menos, a fala de Kunti Deva que diz que para enxergar basta um pouquinho de coragem?

Por que tanta devoção a Maya, mestres?

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