segunda-feira, 30 de novembro de 2009

Meu passado me condena.

Eu tenho uma amiga que fala que quem tem passado não pode ter orkut.
Eu tenho passado, tenho culpa no cartório e meu passado me condena. Mas, mesmo assim eu já tive Orkut, já tive Facebook. Não os tenho mais, não porque meu passado me impeça de tê-los. Por ironia, o futuro me impediu de continuar com eles.
Mas isso são outras bolas.
Na verdade, meu passado é que é o assunto e ele me condena, sim! Veja bem:
Eu já fui wiccano e daqueles cuja tradição wiccana não tinha a menor idéia do que é ou poderia ser a Wicca! Esse passado (coisa execrável é isso de não poder apagar o passado) me enche de vergonha... Quando eu me lembro fazendo caretas de bicho bravo, com desenhos feitos a callao na cara, 4ª posição en dedans de ballet com as pernas e dedos crispados arranhando o ar, com unhas pintadas de preto, túnica de cetim prata, com a parte de baixo cortada à guisa de centurião romano, cordão-de-são-francisco com nós (chamavam a isso de laços mágicos... Pensem!!!) e grunhindo.... Não!!!! Socorro! Alguém conhece aí uma borracha de apagar lembranças?
Sobre esse passado wiccano-de-mentirinha eu tenho anedotas tão envergonhantes que é melhor mesmo eu fingir que não estou em mim ou esse passado não me pertence.
Pense na pessoa, cara maquiada com callao, vestidinho prata (de cetim!!! só isso já diz tudo o que pode ser envergonháve!), em rituais (de quê mesmo, heim?) no Parque da Cidade “levantando as brumas” (?) do Círculo Mágico que foi traçado com o giro de um sacerdote (?) com uma faca apontando para o alto e para o nada!
E sabem como era “levantar as brumas” do círculo? Eu conto! A pessoa pára, abaixa o corpo e os braços, pega alguma coisa que não vê (diziam uns que viam mesmo, que era coisa palpável) e levanta essa coisa, tipo assim, uma cortina, segura em cima para que um outro ou uma outra “entrem”. Depois a pessoa abaixa essa cortina e tudo volta como era: a privacidade, a defesa e a impenetrabilidade do círculo!
Talvez por isso a wicca tenha se banalizado tanto e virado modinha de estação (claro, já ultrapassada e esquecida) dos adolescentes emo e rpgistas!
Já votei no Roriz. (pena que aqui não dá pra pôr o emoticon de face corada!)
Já votei e acreditei e gostei do Arruda. (Sim, pra que negar? Como se nega o passado?)
Já acreditei na Eurides Brito e já a admirei como se admira uma Margareth Thatcher.
Já fiz campanha para aquele, como é o mesmo o nome? Aquele que passa todo o tempo jogando para a platéia? Gente, como é? Ah, o Cristóvam Buarque! (arghhh)
Já acreditei no Budismo... bom, aqui merece um adendo. Acreditei nessa coisa que os lamas (que trocadilho interessante esse título faz com a coisa!) dizem ser o budismo e eu afirmo, garanto e dou todo um braço pra cortar, que isso não pode ser o que Buda disse. Isso é Lamaísmo: o culto ao lama (antes tivessem me pedido que cultuasse a lama, a coisa mesmo, água e terra).
Já fui para a Índia buscando uma “experiência espiritual” sem saber muito bem onde ficava a Índia; o que seria uma “experiência espiritual e muito menos onde eu poderia achar esta experiência. Andei por 9 cidades e fui acabar em um puram (onde encontrei um santo maravilhoso. Só me sorriu com o sorriso mais humano que uma criança possa ter, deu-me um mala de cardamomo que tirou do seu pescoço, fazendo-me sentar a seu lado, com uma intimidade e liberdade que os seus discípulos, ali, no momento não tinham direito)
No mesmo puram fui levado à presença de uma bichona, com pose, tipo, jeito, cara e aquilo... bom não posso falar o termo aqui ... de itamarateca que não chegou ao circuito Helena Rubinstein, e estava sendo “preparado” para substituir o santo, quando esse morresse. A bichona (tinha túnica amarrada à grega, verde, com debruns... uiii!) dourados e me olhou do alto da sua gordice, furibunda porque eu era o único ser que permanecia em pé, à frente dela enquanto todos os outros mortais se deitavam e colavam a testa no chão! Aí não! De bicha pra bicha, eu sei ser mais: toco piano, falo francês e já entrei nos Estados Unidos com uma yellow sheet – acima de qualquer duana! (foi quando, depois dessa bichice de ambas as partes é que desacreditei do hinduísmo também).
O meu passado é longo! Sobressaltaaaado!

Mas há coisas que meu passado não registra e me orgulham muito:
Nunca li um livro de autoajuda! Sou completamente ingênuo (no sentido primevo do termo) a esse respeito. Se necessitarem de um virgem autêntico nesse assunto, já estou eu de dedo erguido.
Nunca assisti a um programa do Gugu e muito menos do Ratinho. Isso eu não tenho no meu passado.
Nunca li um livro do Paulo Coelho. Sou um dos raros seres em toda a humanidade que pode ostentar esta isenção com orgulho. Nada contra Paulo Coelho. Tudo contra os autodesapropriados e afoitos que o lêem e o adotam como guru sempiterno
Eu nunca votei no Lula! O Filho do Brasil! Podem mostrar a língua, não me causa nenhuma espécie. Lula e Paulo Coelho estão ali, ó! Um e outro.
Eu nunca joguei RPG (por isso afirmo que a minha bruxaria seja mais autêntica!).
E uma coisa, a mais contundente, eu não tenho no meu passado: a sujeição!

sexta-feira, 27 de novembro de 2009

15 anos depois. Brasília concreta? Abstrata? Ou inerte?


No magnífico texto “Brasília Concreta e Abstrata”, Clarice Lispector registrou o seu estupor diante da magnificência de Brasília, logo após a inauguração. A paralisia mental diante da magnitude da beleza, da ousadia, da loucura e da in-sensatez de alguns visionários e da sua obra recém exposta.
O verdadeiro artista carece, em sua essência original, de entregar-se à estuporação e ao conflito, vez em quando. É, a partir da imobilização, que o verdadeiro artista entra em fobia pelo status quo e rompe a membrana do usual, do ordinário, do previsível, do velho e se entrega à onda nova, ao precipício do incomum e é capaz de gestar a “criança da promessa”.
Clarice deixou um legado específico para Brasília: que a sua gente jamais saísse do estado de prontidão para o estupor. O mundo ainda hoje, 50 anos depois de criada, perde a capacidade de controlar-se e evitar esse estupor diante de Brasília. Dia após dia vêm pessoas aqui, pela primeira ou mais vezes, que quedam mudas. Estupefatas. Absortas nessa imensidão povoada.
Pena que só os estrangeiros e poucos nativos ainda se dão ao desfrute dessa incompreensão. Dessa absorção pela beleza. Pela incredulidade que Brasília provoca.
Os nativos e, principalmente os nativos jovens passaram a olhar outros interesses, citadinos, materiais e, principalmente daqueles tão corriqueiros... repetir a fórmula de sucesso dos pais, concursos públicos para manutenção da existência e uma, digamos, facilidade mais acentuada de acessos aos dinheiros públicos, baratos...
Saudosismos à parte, houve um tempo que isso também causava estupor no jovem nativo. Plebe Rude, Capital Inicial, Legião Urbana que o digam. Belos representantes da espécie que se rebela para quebrar estado de estupor e instituir nova onda. Aquele estado tão necessário ao artista!
Brasília gerava e paria movimentos rebeldes nas artes, educação, política.
O Grupo Pitu (teatro) endiabrado, endiabrava as platéias. Movimento Cabeças perguntava, apontava, desonrava o sangue velho e expunha o novo em golfadas célebres.
Grupo de Dança Asas e Eixos. Não reconstruía. Propunha e expunha a dança nova.
Brasília sacudia e se sacudia para provocar novos sacudimentos, em si mesma e nas crias do seu ventre enorme, imenso! Uma dança de mãe e filhos que necessitavam recriar, a cada instante, o seu próprio sangue.
O Tempo, senhor sobre todos os deuses, caminhou impassível o seu caminho ceifeiro. (Infelizmente Chronos é muito mal compreendido na cultura ocidental) e os rebeldes de então, ficaram velhos e não geraram sangue novo capaz de transformar a sua transgressão em nova tradição.
No início dos anos 90 (a década final/fatal de cada século – prenúncio do processo de decadência do século) nasceu, despontou, rasgou da mãe o ventre uma companhia de dança de Brasília que levou o nome do número sagrado 108. Trupe 108 Cia de Dança que causou o último estupor em Brasília e em alguns lugares do mundo.
Com sólida formação técnica e detentores do virtuosismo do ballet clássico, os artistas envolvidos optaram por uma linguagem minimalista – também um virtuosismo, às avessas, mas virtuosismo – Um mínimo de gestual, mínimo de movimentos, mínimo de exibição da própria dança como expressão, mínimo de expressão teatral – máscara e voz -, mínimo de tempo de exibição de cada peça coreográfica, mínimo de cenografia, mínimo de vestuário, mínimo de intérpretes que, ao se mostrar, provocou o máximo de estupefação em todas as platéias – de artistas, de fazedores de arte, de consumidores de arte, de professores e ensinadores, de gente anônima, da crítica...
A Trupe apresentou um repertório de 5 trabalhos novos. Nada mais. Durou 2 anos e acabou. Perdeu-se, talvez, na sua própria estupefação?
15 anos depois da sua estréia a Trupe propõe uma nova questão. Não propõe uma exibição de trabalhos coreográficos, novos ou antigos. A Trupe propõe uma questão.
O que é a dança hoje, 15 anos depois da Trupe? Seria a morte da dança, na sua própria morte dois anos depois de ter nascida? Seria a morte do processo criativo, numa recíproca mal sucedida do estupor que não aciona, mas paralisa?
Teriam os criadores se deixado vencer pela conformidade da facilidade do velho, do antigo já conhecido? Da fácil repetição da mesmice?
E essa questão a Trupe não faz só para o externo a ela. Quer fazer principalmente para si mesma.
A morte da Trupe salvou-a da inexorabilidade de toda decadência?
Preferiu-se a morte à decadência?
Para tentar ter uma resposta a esta questão a Trupe optou por reunir os integrantes dela, os mesmos originais integrantes para um encontro quase nostálgico, mas com o fim determinado de reapresentar os mesmos trabalhos que apresentaram há 15 anos. Museu vivo dos anos 92/94 e, para dar-se um choque com a mesma corrente de eletricidade que produziu, naquele tempo, submeter-se a uma nova criação: arriscar-se a responder à questão acima, com o peito, a alma, o espírito e a vontade completamente abertos.
O que é HOJE a dança da Trupe (e de toda a comunidade) 15 anos depois, quando todos os integrantes têm 15 anos a mais; 15 anos a mais de as mais absolutamente diferentes experiências pessoais, culturais, sociais que cada um vivenciou separadamente, enquanto a Trupe repousava no seu leito de morte ou de descanso (quem sabe?!)?
O que representa um estado de estupor provocado pelo autochoque?

terça-feira, 24 de novembro de 2009

Melhor Ator! O Lelê é o melhor ator

O Lelê (Alessandro Brandão) hoje recebeu o prêmio de melhor ator, no Festival de Cinema de Brasília!
Quando eu soube, pouco depois da meia noite, saí aos gritos, contanto pra toda sorte de gente disponível, àquela hora, que eu estava orgulhoso tanto, do meu filho, Lelê!
Nessa oportunidade, eu quero fazer, aqui, um desagravo à minha memória.
O Lelê é meu filho artístico! Sou o pai dessa criança artista de primeira hora.
Dizem que filho feio não tem pai e que quando o filho é bonito todo mundo quer ser o pai da obra.
Pois bem, o Hugo se diz pai artístico do Lelê (e o próprio Lelê fala isso). Ouvi e calei sempre.
A Norma Lillia alega a maternidade do bebê Lelê. Bom, ela ser a mãe já não afeta a minha paternidade. Ouvi e concordei sempre.
Mas, mesmo calado para fora, sempre falei para o meu dentro: o Lelê é meu filho artístico de primeira hora. O Hugo foi, sim, o tutor mais preparado. A Norma, a mãe mais ideal. Mas pai? eu!
A primeira produção profissional que apresentou Lelê ao mundo foi minha.
Foi lá, nos idos de 92 que eu ofereci Hamilton Vaz Pereira para o Lelê.
Hamiltom me agradeceu dizendo que há muito não via um ator daquela amplitude com uma compreensão tão absurda do humor.
Foi depois de Hamilton que Norma Lillia fez o Lelê bailarino e foi o pai, eu, quem apresentou o Lelê bailarino para o mundo da dança. Eu fui o produtor que deu provimento para o Lelê cuidar da sua expressão e seu talento, sem se preocupar com a subsistência deles.
O Lelê é filho que orgulha os pais, as mães, os tutores. Lelê é expressão cênica pura e hoje foi reconhecido em um dos eventos de cinema mais importantes do País.
Parabéns, Lelezinho!
Saturno bateu. Bill, Joca, Gabriel foram instrumentos Dele. E você, protegido por Vênus, Júpiter e, principalmente por você mesmo, pela sua incrível capacidade de resistir, mesmo ao som do mais sofrido e amargo fado, entendeu o seu fado de Saturno. Apreendeu você mesmo e suas capacidades. Sua extensão e sua magnitude.
Agora, não tem mais volta: o mundo passou a precisar de você.
Abro-lhe as portas da minha casa para que você saia, Parsifal atrás de um Graal conhecido, e lhe apresento os seus horizontes.
Vá atrás deles, meu querido. O céu pertence a você.
Grande beijo.

segunda-feira, 23 de novembro de 2009

Amiga da Onça


Ser amigo ou ter um amigo são coisas que se parecem a mesma coisa. Não, não são! São muito diferentes.
Ser amigo de alguém é decisão que depende de mim. É matéria de ordem interna.
Mas TER um amigo é matéria exterior a mim. É matéria que não depende de mim. Depende do outro. É preciso que o outro veja em mim o alvo receptor da amizade dele.
Depois que o outro vislumbra em mim esse alvo eventual, necessário se faz que eu seja, de verdade, o alvo.
Essa atitude, essa ação em direção a mim seduz a minha vontade de ser cada vez mais alvo. Eu me torno desejoso de ser o objeto onde vai se depositar aquela ação, aquela afeição, aquele respeito.
E man-ter um amigo tem que ser uma atitude ativa após a primeira seta do atirador no eu/alvo. Se eu for passivo para aquela energia, eu não a alimento. Eu não me dou como alimento a essa energia. Eu não a procedo. Eu não a estimulo. Eu não man-tenho mais o amigo. Posso continuar sendo o amigo, mas não mais o tendo, às vezes.
E estimular uma amizade em minha direção não basta que eu seja só amigo dessa pessoa. É preciso que eu permita que o outro encontre a si mesmo em mim e vice-versa.
Eu tenho uma amiga. Tenho muitos e muitas (aliás, parabenizo-me porque, com isso, posso presumir que sou bom alvo), mas essa, em especial, eu quero falar.
Hoje me ocorreu, ao ouvir pela rua alguém dizer “ela é muito amiga... da onça, isso sim!" o que seria ser amigo-da-onça?
Eu entendi. Eu tenho uma amiga-da-onça, não é, Aniúshka?
É, verdadeiramente, a amiga da onça.
A Ana Rossi é amiga-da-onça! E só um ser superior à onça pode ser amigo da onça.
Eu sou onça. Eu sou feroz. Eu mordo, eu estraçalho. Eu devoro. Eu machuco, eu firo... exatamente como uma onça ameaçada e, mesmo assim, eu tenho a Ana.
Fiel, solidária, respeitosa. Sem arroubos de sentimentalidade, mas firme e coesa. Sem abundância de abraços e toques, mas de uma solidez inquebrantável. Olhar calmo, embora incisivo. De estocadas com cotonete, sempre certeiras. De doçuras sutis e perpetuidade de mãos estendidas.
E muitos outros TÊM a amiga Ana. Sabem disso tudo e é quando se descobrem seduzidos por aquela vontade de serem amigos dela, com ganas imensas de se tornarem cada vez mais alvos melhor capacitados.
A Ana conhece a minha natureza de onça. Ela jamais me questionou. Jamais me impôs. Jamais se interpôs. Às vezes, uma domesticação sutil... e eu/onça sempre acabo me tornando agradecido por ser respeitado como onça que sou, no mesmo instante que posso aprender a ser a onça que não fere tanto. Onça domesticada.
Para continuar tendo a Ana, me encanta a vontade de ser onça amorosa. Onça mansa. Me seduz a possibilidade de, cada vez mais, recolher as minhas unhas para não arranhá-la e ganhar mais proximidade da Ana.

Um dia a Ana me disse, sim, Onça. Você pode sempre mostrar toda a onça que você é. Mas pode ser em doses homeopáticas?

Não dá vontade, desejo, aspiração de continuar TENDO a amiga Ana?

Beijo no seu nariz, Aniúshka!

sábado, 21 de novembro de 2009

O Gê

1ª Pessoa – numa mesa de bar, em um tempo qualquer.

- O Gê é uma pessoa muito legal! Cara, o Gê é um amigo de verdade! O Gê é amoral. Não, não confunda imoral com amoral. O Gê é Amoral! O Gê é libertário. O Gê fala coisas legais. O Gê dá conselhos legais. O Gê é amigo. O Gê é fiel, é companheiro. O Gê é perdulário, paga a conta de todo mundo no bar. O Gê é espontâneo. O Gê é verdadeiro. O Gê é honesto. O Gê é defensável. O Gê é um cara do caralho!
O Gê é um cara que fala o que pensa. É corajoso. O Gê é um cara que fala as coisas na lata. Ele não manda recado. O Gê lava a alma da gente...
E as pessoas adoram e louvam o Gê, nesse jeitão de ser do Gê, porque ele fala e faz tudo aquilo que a gente gostaria de falar ou fazer. Principalmente contra os outros que são nossos desafetos ou inimigos ou nos incomodam de alguma maneira. O Gê é demais! Ele compra a briga da gente. Veste a armadura do nosso time e vai, arianamente destemido, lutar por nós. O Gê é foda!
O Gê é mesmo desse jeito. O Gê costuma repetir a frase da Mae West (os que não sabem dizem que é frase do Falabela, mas não é!) que ele é uma pessoa muito legal, mas que quando é ruim, ele é melhor ainda! Como a gente ri e acha isso o maior barato!
O Gê sabe como machucar uma pessoa para mantê-la afastada da gente, para nossa segurança. Ele ataca os nossos inimigos como se fossem inimigos dele. O Gê nos protege dos nossos inimigos com a sua crueldade. As pessoas não arriscam muito provocar o Gê porque sabem do que ele é capaz. Por isso nos sentimos muito confiantes tendo o Gê como amigo/defensor. A gente adora o Gê!

A mesma pessoa – em outra mesa de bar. Algum tempo depois

- Porra, o Gê é um filho da puta! Ele é amigo, porra nenhuma. Ele diz coisas que ferem a gente. Ele é cruel demais! Ele não tem dó de falar coisas sobre a gente, na cara da gente. Puta que pariu, que cara grosso! Ele pensa que pode falar tudo o que pensa, assim, de qualquer jeito.
Será que ele não entende que não pode falar as coisas como quer e pensa? Será que ele não percebe que há um limite?
Que cara mais foda! O Gê é terrível. Ele precisa aprender a ser mais doce. Mais suave. Ele é agressivo demais!
Qualquer coisa que a gente faça, já vem ele, com sua armadura, apontando o dedo e dizendo o que quer. Dando conselhos... porra, vá dar conselhos pra mãe dele.
O Gê machuca demais a gente. Ele é inconseqüente. Será que ele não percebe que assim ele vai acabar afastando todos os amigos dele? Que vai acabar sozinho?
A gente adora o Gê, mas ele acha que sabe tudo, que pode dar conselho sobre tudo... Não dá mais! Tem uma hora que a gente não suporta mais ficar aprovando e sorrindo pelas coisas que ele acha legais. Vá se foder, entendeu? a minha vida é minha e ele não pode se meter assim. Eu não aceito que ele venha se meter. Ele que vá se meter com as negas dele.
Caralho. Em tudo o Gê se sente com direito de acusar, de se sentir traído.
Estar com o Gê é uma temeridade. Ele se arvora defensor da humanidade. Quem ele pensa que é pra se achar com direito de dar palpites na vida da gente?
Porra, que cara moralista! Fala que é amoral, mas na hora que a gente resolve fazer alguma coisa diferente, já vem ele com reprimendas... a gente é que sabe da vida da gente. Quem é ele para aprovar ou reprovar qualquer coisa?
Do nada, ele começa a fazer cobranças... Fica até parecendo que a gente deve alguma coisa pra ele. Só porque pagou um ou dois cafés pra gente, um na vida, outro na morte, se sente com direito de nos constranger na mesa, na frente de todo mundo, perguntando se a gente não vai dividir a conta. Como se a gente nunca a tivesse dividido!
Olha, o Gê é foda!
Tou fora! Que morra sozinho, para ver o que é bom pra tosse!

Gê– Em casa, sozinho. A todo tempo.

- E agora, eu, o Gê, preciso fazer uma pergunta, para entender melhor as coisas: então o Gê é legal quando é agressivo, cruel, grosso, feridor, atacador contra aqueles que afetam você?
Só pra entender. Perguntar ofende?
Tá bom!... tá bom! não está mais aqui quem falou!

sexta-feira, 20 de novembro de 2009

Socorro! As bichinhas se alvoroçaram...

Alguém me salve, pelo amor da deusa macho/fêmea. Ou me impeçam ou eu vou mesmo criar um CCG!
Não é que as bichinhas, antes relaxadinhas, agora entraram em alvoroço e estão todas numa correria desordenada, mandando emails umas para as outras, as outras para as umas, um trânsito infernal de mensagens (ixi, deve estar um inferno também na telefonia móvel porque bichas, assim como as empregadas domésticas, atooooooooooooooooram falar por celulares!) sobre a tal enquete que o Senado está fazendo para saber a opinião sobre aquela bobagem de criminalização da homofobia.
E agora (as bichas também atoooooorammmm a teoria da conspiração!) elas estão dizendo umas para as outras e as outras para as umas que a bancada evangélica "raqueou" o site do Senado para alterar os resultados da enquete.
Gente, os céus do País estão convulsionados por tantos gritinhos, desmaios, sussurrinhos gritados (porque bichas jamais conseguem sussurrar, de verdade, como é um sussurro) de bichinhas alteradas... (ops, pleonasmo!) que só mesmo um CCG absolutamente homofóbico poderá dar uma apaziguada. (sim, porque bicha não cruza, mas reproduz mais do que político).
Elas estão com tanto pavor de terem os seus cílios postiços e suas sandálias douradas arrancados à força e de serem proibidas de dançar nas boates, que nem leram - ou se leram, claro, não entenderam - o que viria a ser a enquete e, muito menos, sobre qual projeto a enquete se propõe.
O título da mensagem que todas elas atiram, umas nas outras, via todos os meios possíveis é:

"Projeto para criminalizar a homosexualidade"

assim mesmo, Senhores, com um s só. Mas isso nao é nada. O pior é o que vem agora: a enquete (com todos os seus defeitos e suas mazelas) é sobre o projeto de criminalização da HOMOFOBIA!!!
Bichinhas não sabem a diferença entre uma coisa e outra.
Dá ou não dá vontade de criar e comandar um CCG bem feroz?

quinta-feira, 19 de novembro de 2009

A Holandesinha



Ontem me perguntaram se eu desisti de bater na Vittoria Rekis e na Jackqueline Lob.
Claro que não! Ainda mais que agora, recentemente, o clã da Vittoria comprovou sua eficiência, revelando ao mundo, mais uma de suas criaturas: a Holandesinha!
Parabéns, Vittória, a holandesinha é mesmo a cara cuspida e escarrada de todo o seu clã! (tá bom! Eu sei que a expressão correta original é “esculpida em Carrara... mas Carrara é um pouco demais pra ser citada no clãzinho! Me poupe.)
Vale a pena relembrar para os que leram as minhas palavras anteriores e fazer saber aos que não sabem ainda, quem é a Holandesinha.
Menino, nasceu no interior da Paraíba, filho de pai político (daqui já podemos tirar algumas conclusões), cabeçorra chata, ausência quase completa de pescoço e, no lugar dos cabelos, um ninho de guaxo.
Recebeu um nome afrancesado em homenagem a um jogador de futebol (eu não posso deixar de rir, Senhores, muito!!! – uma bichinha, cabeçuda, cabelo muito pixaim, sendo uma homenagem viva a um jogador de futebol!) E pior, o pai homenageador ainda pensa que a holandesinha pode ser, mesmo, de verdade, uma homenagem a um dos esportes mais emblemáticos da masculinidade (sim, podemos discutir isso melhor, depois. Agora não cabe aqui).
Paraibano – isso deu a esse nativo do estado da Paraíba uma enorme mágoa. Ele sonhava ser estrangeiro.
Precisava viver o mais geograficamente distante do pai paraibano porque, costuma-se afirmar, pais paraibanos matam os filhos gays. (a própria holandesinha fala isso com olhos arregalados de pavor)
O sonho de ser uma menina loira, com trancinhas loiras, usando touca de 3 pontas, corpete preto sobre blusinha de mangas bufantes, saínha franzida e tamancos de madeira, ao lado de um carneirinho, tornou-se uma obsessão.
Preparado e instruído no clã da Vittória (ela mesma. com origens e sonhos muito, parecidos) facilitou ao menino a ida para a Holanda.
Por meio de traições, escambos, pagamentos com favores sexuais, embustes, trapaças, engodos, artimanhas, mentiras, desonra, alcovitação, alcaiotismo, intrigas, adulações, viadagem... o menino chegou lá. (Hoje vive sabe-se lá como, se manteúdo ou não por um nativo mais bem aquinhoado financeiramente. Não posso afirmar ainda. Não tenho dados suficientes.)
A única coisa ruim que a realidade usou para ferir a fantasia da Holandesinha: ela não era loira e muito menos poderia fazer tranças com o ninho de guaxo que portava na cabeça.
Mas como todo iniciado do Clã Vittoria Rekis, a mentira é fator preponderante, necessário e eficiente para a homeostase... A HOLANDESINHA RASPOU A CABEÇA!!!!
(Perdoem, senhores, mesmo que a Holandesinha acredite muito nessa trapaça, não dá pra ficar sem debochar ao ver uma cabeçorra paraibana, quase colada aos ombros, raspada!)

quarta-feira, 18 de novembro de 2009

A bonita e triste história das bichinhas enganadas, das martas suplicys, da homofobia e da enquete

“O Senado criou uma enquete para testar a opinião pública sobre o PLC 122/2006 (que criminaliza a homofobia). A enquete ficará no ar durante todo o mês de novembro.“
Você acorda pela manhã com uma mensagem dessa na sua caixa de correio eletrônico.
Em uma fração de segundo, sendo você homossexual, passam na sua cabeça milhares de imagens: a imagem da consciência e defesa da diversidade; bichinhas “montadas” dando gritinhos e fazendo passeatas com muita “liberdade sexo/social”; homens de gravata e ternos, com suas caras de personagens dos gibis do Pato Donald (lembram que todas as personagens engravatadas do Pato Donald tinham cara de cachorro buldog ou de porcos?). E, depois dessa visão simplista e rápida, vêm outras... a não diversidade. Bichinhas montadas sendo espancadas nas suas passeatas pelos pitbuls da heterossexualidade e as personagens do Pato Donald, com caras de buldogs, falando nos microfones do Senado, com seus olhos viciados – um nas próximas eleições e o outro nos cofres públicos de fácil acesso. Uma mão no bolso e a outra já dentro dos cofres públicos. Pronto. (Pra mim, a mais emblemática delas é uma senhora de tailleur rosa reunindo bichinhas deslumbradas e dizendo pra elas, com voz de professora de segundo grau – cheia de amor pra dar – Relaxem e gozem, meninas! Isso mesmo, Senhores, Marta Suplicy! Aquela que era nada, jogou purpurina para a platéia formada por tantas bichinhas, elegeu-se alguma coisa, exigiu apartamento em Brasília (e olha que são apartamentos!!!) – mesmo que o marido de plantão, à época, já tivesse um fornecido pelo Senado (argh!), comprou mais e muitos tailleurs rosa, largou aquele marido “pela aí”, arranjou outros (como existem maridos à disposição de senhoras com tailleur rosa que têm um olho viciado em todas as eleições – essa moça ficou mesmo viciadona em eleições -, outro nos cofres públicos ... blá, blá e, desde então, as bichinhas desavisadas estão lá, sentadinhas à espera da lei que permite que elas também arrumem marido! (No Campo de Concentração de Bichinhas Gayas (como fala um amigo meu) microfones repetem “Relaxem e Gozem”, muitas vezes, muitas vezes. As gayas esperam e a moça goza – agora sem tailleur: está andando pela aí com os peitos semi cobertos por bustier, juntos aos joelhos – não, senhores, não diminuiu a distância entre o peitoral e os joelhos, é que os da moça estão alongados. Caidassos mesmo.
A moça do tailleur goza sem parar, desde então e as bichinhas, muito relaxadinhas, esperam e votam e elegem as moças que prometem maridos para as bichinhas casadoiras. Enfim, é assim mesmo que se forma, se elege, se mantém e se multiplicam os políticos. Ratos se reproduzem demais.
Passadas essas imagens de um tédio joseregiano, você acessa a página do Senado (nojo é o que você sente nos dedos que usam o mouse para chegar àquilo, aquele lodo preguenhento) e no meio de uma página cheia de imagens autolouvatórias de “vejam como são grandiosas as ações desses homens destemidos!”, num cantinho obscuro (à direita) tem uma coisinha pequenininha , de 4 x 6 cm, com paica diminuta no fonte: a tal da enquete, onde o opinador pode optar por um sim ou por um não. Só. Nem seu nome, RG, cor dos olhos, convicções, raça, nada! Nada disso precisa.
Você clica no sim e um resultado temporário aparece. (hoje estava em 49% a favor e 51% contra!)
Antes de você registrar o seu sim ou o seu não, um aviso mais diminuto ainda:

Atenção - Os resultados da enquete representam a opinião das pessoas que votaram, não sendo possível extrapolá-los para toda a população brasileira.

Esses ratos têm ficado cada vez mais espertos!
Se a enquete não pode ser extrapolada para toda a população, alguma coisa está errada na enquete, não?
Ou essa não extrapolação intencional serve exatamente aos olhos viciados e as mãos furtivas desses senhores, que poderão, eventualmente, alegar nos seus microfones que a coisa não era bem assim?
(Chamar a esses personagens de gibi de filhos de puta, seria um preconceito contra as putas – apenas trabalhadoras na dita profissão – e não resolveria nada.
Opa!!! Ocorreu-me agora substituir o mais conhecido xingamento – filho da puta, por filho de senador (ou deputado, ou político) Imagino a cena: “mas tu é mesmo filho de senador, heim?”.
Sim, tentemos esquecer essa maldição dos deuses, que são os políticos, e vamos ao que interessa.
Criminalizar a homofobia resolve?
A corrupção, o roubo, a bandalheira, o ultraje, a desvergonha, o mensalão, a vadiagem, tudo isso já é criminalizado.
Resolveu alguma coisa?

domingo, 15 de novembro de 2009

Bom senso e senso crítico



Ontem fui assistir ao “Show” de Talentos do Colégio onde estuda a minha neta. Saí de lá com a angústia gravemente aumentada.
Crianças dançando e cantando.
Normalmente, pra quem trabalha com espetáculos cênicos, (o meu caso) é uma maçada assistir a macaquinhos treinados, com suas indefectíveis mães (mãe de miss é um arquétipo que mete medo!) que sacam de bolsas, que trazem nos meios das pernas, um arsenal interminável de câmeras fotográficas, câmeras de vídeos, celulares que fotografam e filmam, lanches, escovas de cabelo, coleções gigantescas de toda sorte de maquiagem, malas de presilhas para cabelos, garrafas de coca-cola, sanduíches do Mcdonalds, danoninhos, álbuns de fotos, pulseiras, brincos, anéis, colares, revistas Caras, portfólios e aquela coisa que, quanto mais excitadas ficam, mais os meios das suas pernas produzem coisas! Medo! Mãe é mico mesmo!
Com essa azáfama de mães produzindo coisas impensáveis na platéia e o meu medo aumentado, entram duas filas de crianças com um miserável lenço de seda sintética, amarrado à grega, no ombro, dançando (?) música indiana com cara de “música-americana-para agradar-aos-brancos-que-suportam-a-cultura-negra” e as macaquinhas mexendo braços e pernas e cabeças conforme o que viram na última novela da TV Globo - já, em si, um arremedo pobre da cultura indiana/hindu. (Aí, galera, vocês sabem que hindu e indiano são coisas distintas?)
Depois, acreditem, tudo foi possível. O imponderável existe!
Todas as shakiras com ou sem os pares de todas as costelas estiveram presentes.
Para salvar a noite, uma garotinha dançou (dançou mesmo!!) um belíssimo frevo com música de Alceu Valença! (Valência!!! ainda existe a resistência!).
Mas momice de crianças é fato comum. Os comportamentalistas chamam isso de “comportamento imitativo”.
O que me causou espécie e cravou fundo na minha incapacidade de compreender o mundo que existe por aqui e onde eu vivo, foi a momice bastarda da pessoa que apresentava o “show” (por que não xou? apresentação?).
A cada macaquinho que passava pelo palco, fazendo ou não qualquer coisa – abominável ou não -, a dita senhora gritava no microfone, com voz de inabalável falsidade: parabéns! Você arrasoooooouuuu!
Senhores... não me venham com suas conspurcadas intenções de afetividade e pia compreensão!
Como permitir a elaboração de um senso crítico das crianças se qualquer momice que elas façam, recebe o elogio exagerado e de extensão máxima?
Sim, claro que vale incentivar a iniciativa, o esforço, a autoconfiança delas. Óbvio. Eu tenho bom senso! Não gastem suas verborragias para me convencer do que eu já sou convencido.
Mas o bom senso deriva de um senso crítico. Iniciativa e resultado são coisas muito distintas. Esforço e resultado são coisas mais distintas ainda. Autoconfiança e ausência de autocrítica são opostos.
Para que uma criança ultrapasse a fase de símio emitindo comportamento imitativo, é necessário que lhe seja permitido ver que uma coisa é diferente da outra coisa. É preciso valorizar o que tem valor.
Uma careta, um trejeito momesco podem ser nascedouro de inúmeros talentos. Não queda dúvida. Mas afirmar, em sacrário (o palco), para uma platéia, com voz amplificada por microfone, que qualquer careta simiesca está “arrasando” é pedir, é preparar, é sedimentar, é solidificar a ausência de senso crítico.
Será que é para isso que as escolas se preparam, se constroem e se mantém? Instalar a não crítica e ter plenas e irrestritas condições favoráveis para cobrar exorbitâncias de pais sem senso crítico, capazes de aceitar e considerar qualquer coisa um “arraso”?
Aliás, Senhores, não sei se lembram, que arrasar significa, no seu primeiro sentido, tornar(se) raso. Depois, no seu segundo sentido – destruir, arruinar...
Será que essa arrasada (raso+ada) Senhora é de uma consciência cósmica enorme e quis dizer mesmo que todas as crianças arrasaram?

Duvido!

sexta-feira, 13 de novembro de 2009

A COR VERDE DA LÂMPADA VERDE

Lilith é a sabotagem interna. A famigerada e toda-explicativa expressão usada em todos os manuais de autoajuda e por todos os psicoterapeutas: o autosabotador.
Bonito isso, penso! (tenho sentido falta da Hilda... o que andará ela pensando agora?)
Bonito, pomposo, explicativo, bombástico... foi localizado o Demo! Agora já se tem mais um responsável pelas coisas todas universais (já notaram que sempre se procura e sempre se localiza um responsável fora da gente para justificar as nossas transgressões? Antes era o Capeta que tentava. O Boto que engravidava as meninas, a vontade de Deus, a Sombra de cada um... agora é o autosabotador.)
Pois bem, deixe-me ser menos prolixo e tentar explicar para mim mesmo e, convencer todos vocês onde essa coisa me deixa atônito.
Eu nunca soube quem é EU!!! Como vou saber quem é o MEU sabotador?
Como todo mundo já sabe (sim, quando eu focalizo e apreendo uma coisa, imediato se faz dentro disso que se chama minha cabeça, que toda a humanidade focou e aprendeu essa mesma coisa... terrível, porque isso não acontece e toda a humanidade me olha com ganas de me internar... saudade da minha encarnação anterior, o Crowley!)
Voltando. Como todo mundo já sabe, o meu ano astrológico está regido por Lilith e é imprescindível que eu encontre o meu autosabotador. (imprescindível porque assim me disseram...)
E agora eu resolvi procurar esse moço. Localizá-lo e dizer ahhh, é você e pum! dar um tiro na testa dele e virar, automático, um ser iluminado. Um ser puro. Só Eu!
Cabe contar que este ser – este ente – que está aqui, tentando se exprimir, não suporta a idéia de iluminação. De ser puro.
Pureza, para esse ser, é a integralidade. A multiparticularidade.
Bem, vamos lá de novo.
Estou procurando o tal de autosabotador dentro de mim. Estou tentando fazer a lição que o outro me ordenou.
Entro em desespero porque quem é o MIM? Fico trêmulo. Suo e desarrumo os cabelos.
Quem é esse mim onde eu tenho que encontrar um pedaço que habita nele e que tem o nome de Autosabotador?
Quem é esse EU que meus pais nomearam de Genilson? Quem é esse ser que fala o meu braço, o meu pé, o meu nome, o meu espírito?
Quem é esse que está acima do meu corpo e de tudo o que eu presumo de mim e que diz que é ele? Usa a fala da minha língua, os raciocínios do meu cérebro, as emoções da minha alma e se diz EU?
Não consigo identificar essa entidade que fala “MEU” sobre o que pertence a uma estrutura, um monte de sentimentos, um amontoado de cognições e vivências que é o que eu penso ser o Genilson.
Quem é o meu proprietário que se diz Eu?
Na verdade, Senhores, eu sei a resposta. Ela me basta e não me gera o mais pequeno desconforto. O que me gera desconforto é a exigência de ter que separar essas partes inseparáveis – sim! absolutamente inseparáveis – para que, após separadas em indivíduos, sejam confinadas em compartimentos e passem a ser utilizadas conforme o que se chama convivência social.
Eu tou cada vez mais de saco cheio.
Quem são todos esses que não fazem a mais mínima idéia de quem sejam, me orientando e aconselhando com olhares pios para que eu identifique em mim, partes indissociáveis e, portanto, inidentificáveis?
Vou pedir um favor para vocês. Separem a cor verde da luz verde. Sim, tomem um lâmpada verde e consigam para mim, separar a cor verde da luz verde da lâmpada...
Ahhhh, e não me olhem com esses olhares desviados!

terça-feira, 10 de novembro de 2009

Hoje eu quero falar sobre preconceito. Aquela coisa que todo mundo fala que é contra, ou que sofre, ou que não tem.
Preconceito contra as minorias. Essa coisa que todos os politicamente corretos discursam contra.
Preconceito contra as mulheres, contra os negros, contra os homossexuais, contra os pirulitos da venda do Sr Tufy – o turco, contra o raio que o parta, contra o cabelo enrolado dos negros, contra a mãe Joana, contra a puta que pare, “contgua a guerra, contgua a paz mundial”. Contra!
Eu nunca entendi muito bem essa coisa. Eu não sei ser politicamente correto e, sempre que fui apontado como preconceituoso, eu me defendi dizendo “não é preconceito. É conceito!”
Alguém já parou para pensar, se não filosoficamente, ao menos semanticamente nessas coisas todas?
Como falar em preconceito contra a mulher se o termo “mulher” já é, em si, um conceito, pré ou posteriormente concebido?
O que seria essa coisa “mulher”? Indivíduo do gênero feminino? Simples assim?
Essa coisa que se move feito homem, que se manifesta como homem, mas que em vez de um falo, carrega uma vulva? Isso é a mulher?
E aqueles seres vulvados que sentem, que falam, que riem, que trabalham, que se defendem, se acusam e tanta sorte de diferenças? Isso tudo fica apertado, feito sardinha na lata, no conceito “mulher”?
Vulva com alma. Vulva profissional. Vulva mãe. Vulva religiosa. Vulva piedosa. Vulva solidária... esta magnitude infinita de possibilidades de ação, permanência ou falta é simplesmente “mulher”?
O que seria homossexual? O indivíduo sexual com indivíduo sexual parecido? O que seria sexual? Coito? Simples assim?
Alguém aí já leu João Silvério Trevisan?
...
(esse silêncio me aterroriza!)
Fica patente que muito poucos desses ativistas contra o preconceito saibam pelo menos quem é esse com nome de possível primo ou parente do Dalton Trevisan ...
ei!!!! Alguém aí sabe de quem estou falando agora? O Vampiro de Curitiba, lembram?
...
(já estou chegando ao pânico!)
Como não ser preconceituoso contra os homossexuais se o termo “homossexual” é um preconceito?
Ele traz embutido um conceito formalizado, firmado e adotado para selecionar determinada categoria de seres que fazem sexo com seres do mesmo gênero?
E o olhar que um ser desses põe sobre outro ser do mesmo gênero? E o amor que um sente pelo outro? O carinho, a esperança, a fé, a crença? Isso tudo é o quê? Sexo? Intercurso ânus/pênis?
Ora! Convenhamos. O preconceito engloba tudo na vadiagem do simples, do rasteiro. Do raso! e, depois disso levanta um preconceito que se intitula não-preconceito – uma bandeira – defendendo as bichas (!!!).
Me fascina essa coisa absurda de se falar e se defender aquilo que não se sabe nada a respeito. Sabe-se apenas o preconceito. Fascina porque me assusta.
Preconceito contra os negros. Nossa! Agora a coisa aperta. Dá até cadeia.
(eu, particularmente, que sempre usei o termo negro para os oriundos da raça negra, agora prefiro chamá-los de brancos. Eu falo assim, olhe, Ei, ô branco! Dá para tirar o seu carro do meio da pista para eu poder ultrapassar? É seguro, acreditem, não dá cadeia!)
Mas o conceito de negro, dentro de mim, no meu cérebro, na minha maneira de cognoscer os indivíduos da raça negra permaneceu absolutamente imutável. Preconceito? Conceito? Posconceito?
Mas em que interessa saber isso, não é verdade? Só vai dar mais trabalho de pensar e pensar é uma coisa tão inútil, não?
Não se pode falar do enrolado (encaracolado?) cabelo dos negros. É preconceito!
Preconceito de quê, puta que pariu? Cabelos nos seres da raça negra são enrolados e muito! Isso já está muito além de ser um conceito. É fato sabido.
E os brancos, com seus cabelos lisos e de outras densidades e espessuras, não comentam os cabelos enrolados e mais espessos dos negros porque a “correção política” informa que isso é um preconceito e não se pode ser preconceituoso, mas abrem salões de beleza onde oferecem serviços de alisamento, relaxamento e tudo o mais para que os cabelos “ruins” dos negros, passem a ter uma aparência suportável aos olhos deles. E os negros, que não gostam que falem da “ruindade” dos seus cabelos vão lá e alisam os seus cabelos. Tudo para ficarem parecidos com a beleza da cabeleira macia e sedosa dos brancos. Ninguém fala nada e fica tudo bem.
Perdoem-me, mas sou incapaz mesmo de compreender isso. (tem um tempo que estou começando a entender que sou mesmo incapaz de compreender muitas coisas.)
Eu mesmo tenho um amigo que nasceu no nordeste. Logo, nordestino.
(estou errado? Falei o que não devia?!)
Ele odeia ter nascido lá alegando que “aquilo é uma bosta”. Para esconder esse passado, hoje ele mora na Holanda. Pensa que virou holandês. E o preconceituoso sou eu!
Filho de pais nordestinos. Odeia o fato porque “os nordestinos são preconceituosos”... E EU É QUE SOU O PRECONCEITUOSO
Ele está inserido naquela categoria de seres que gostam de estar com seres do mesmo gênero. Sei lá, aquilo de ser homoerótico, homopassional, homoafetivo, homossexual que os politicamente corretos preferem pôr na etiqueta de HOMOSSEXUAIS.
Quando nasceu, os pais escolheram um nome francês para o garoto. E, claro, com grafia errada porque, não sei por quê, as pessoas menos cultas gostam de pôr ipsilones e dáblius e kAs em doses excessivas. O garoto tem uma porrada de enes e ipsilones... dobrados, para ficar com nome mais francês ainda (eu acho que é assim que eles pensam: quanto mais letras dobradas e y e w, mais estrangeira fica a criatura – porque ninguém merece ser nordestino brasileiro, né?)
Olhem! Cuidado! não sou eu quem pensa assim! São eles.
O menino nasceu com cabelos grossos, nada lisos e, lógico, cresceu com eles assim. Para não ser um francês com cabelos enrolados, o menino os alisava com pastas baratas, sozinho, escondido no banheiro da casa – porque se os pais soubessem, vão ficar emputecidos por que “isso é coisa de boiola” ... e, para melhorar, ainda pintava de ruivo.
Hoje, o menino que virou holandês raspou todos os cabelos da cabeça e se vangloria. Conseguiu mesmo, definitivamente virar “gente”!
Gente... tou cansado. Um nome francês, uma cabeça raspada, uma cidade européia conseguem fazer um brasileiro, nordestino, jurar que nunca teve essa origem. Ele nunca foi brasileiro! Jamais foi nordestino e em tempo algum ele nasceu, ou teve, ou esticou os seus cabelos!!
E vocês vêm me falar de preconceito!!!
Vocês todos são um saco!

domingo, 8 de novembro de 2009

Matei e pronto!

Acabei de cometer orkutcídio e facebookcídio!
Gostava da modernidade do Orkut. É fácil falar com o outro lado do mundo, com a pessoa que você deseja. E com custo zero.
Era bom, também, essa coisa de me expor ao mundo. Publicar o meu currículo, minhas fotos, meus gostos... essa coisa de ser celebridade no mundo desconhecido. Ser celebridade no escuro.
Qualquer arroto meu passava, instantaneamente, a ser motivo de publicação e, claro, da admiração do mundo todo. Ohhh!, pensava eu que todas as pessoas faziam quando passavam a conhecer o meu último arroto.
Até as comidas que eu gosto... até isto eu podia mostrar ao mundo.
Sentava-me à frente do micro e me incumbia do piedoso dever de colaborar com a humanidade, mostrando as minhas especificidades.
Até o meu modo de amar os bichos eu podia comentar para aconselhar.
Um dia, um ser surgiu de não sei onde e começou a me dizer, via email (eu me pergunto, por que não imeio?! – brasileiros se deleitam com palavras estrangeiras... eles acreditam piamente que passam a morar em Nova York e, claro, dominadores do american way of life, depois que passam a falar ou grafar palavras americanas – sim, porque brasileiros não sabem muito bem que o inglês não é uma língua nascida nos Estados Unidos!) que os meus amigos mais modernos estavam me convidando para uma coisa que se chamava facebook – (eu fiquei me perguntando se isto tinha alguma coisa a ver com aquela brasilianice de pensar que “eu livro a minha cara” é “I book my face”, em inglês)
Fiquei com medo dessa coisa. Eu tenho muito medo dessas coisas que vivem ou saem de dentro dessas coisas que têm botão e fio.
Mas, fazer o quê? é preciso ser moderno. Fui lá. Abri aquela conexão (ô brasileiros, link é conexão, ligamento, vínculo, tá?) e, claro, uma coisa se abriu, cheia de informações e etiquetas (tags, tá?) e imagens e quadradinhos retangulares (boxes, para os que não sabem entender o português). Aquelas coisas que nunca se sabe ao certo aonde vão e, principalmente, onde vão acabar, porque cada uma que você clica (ufa, consegui uma já aportuguesada), abre-se em mais 6, que se abrem em progressões geométricas, até o fim das eternidades.
Um desses quadradinhos começou a me fazer as mesmas perguntas de sempre: quem sou eu, o que gosto, que tipo de música, comidas, sexo... irra!!!
Respondi a todas com uma preguiça irritada que me acontece sempre quando me perguntam coisas e me dão só duas ou três opções de resposta! Eu nunca posso dar a minha resposta. Tem que ser uma das que eles me permitem!
Terminada aquela sessão de chatura, eis que descubro, atônito, que tudo o que eu tinha feito era preencher um cadastro para um sítio (site... porra, que saco ter que ficar traduzindo para o português essas palavras que os brasileiros adoram usar) de relacionamentos!!
Minha Deusa-macho-e-fêmea! Uma agência de matrimônios dentro do meu computador que fica dentro do meu escritório, dentro da minha casa! Socorro!!
Mas era isso mesmo. E eu que nem quero mais casar, nem namorar, estava dentro de uma agência de matrimônios e... e? que para eles escolherem o par perfeito para mim – segundo eles, utilizando moderníssimos testes de personalidade – eu teria que desembolsar uma módica quantia de setenta e poucos reais por mês até aparecer aquele!!!
Eu me pergunto ainda: onde foi que eu comecei a informar às pessoas que eu sou idiota? Onde foi que eu publiquei isso? Ou será que seriam eles os idiotas que pensam que eu sou mais idiota, capaz de acreditar neles? (Óbvio que há milhares de idiotas que acreditam, mas poxa, será que eu, em algum momento, passei a fazer parte dessa categoria e ainda não me informei disso?)
Pois bem. Fechei o tal do site (hmmmm, agradei, agora, né?) e fui, praguejando a minha óbvia incapacidade de conviver com essas coisas que moram dentro das coisas que têm botões e fios e, voltei ao tal do Facebook.
De novo! Os mesmos cadastros? Não. Não pode ser. Recuso-me.
Pulo para a página principal daquilo e vejo muitas fotinhas, de muitas pessoas e o que me pareceu foi um monte de doidinhos mansos falando coisas para o nada: nem para si, nem para ninguém.
Doidinhos falando coisas como hoje acordei e vi o passarinho. Outros, um pouco mais doidinhos, falando Nietzsche, o príncipe dos poetas italianos incompreendidos, disse que é a cultura indiana já disse tudo, desde sempre, embora a ciência leve muito tempo para comprovar...
Embaixo das fotos desses doidinhos, outro doidinhos falando que o buraco na camada de ozônio da atmosfera foi explicada pela última pesquisa britânica como produzido pelo excesso de peidos das cabras da Nova Zelândia...
Eu fico aqui, a balançar a minha cabeça, para cima e para baixo... muitas vezes.
Ninguém falou nada e ninguém refutou nada. Ninguém argumentou nada. Ninguém confirmou nada e ninguém entendeu nada. E aquela fila de fotinhas de doidinhos, uma em cima da outra, a subir. Um edifício cheio de janelinhas com as efígies dos doidinhos. Uma babel sem objetivo.
Enquanto isso, lá dentro de mim, um doidinho me cutucando: cê tem que terminar de preencher o seu cadastro. Você ainda não disse quem é e o que gosta.
Sabe de uma coisa? Eu gosto é muito pouco dessa coisa toda.
Dessa fugacidade instituída pelo pensamento pragmático americano. Da coisa vadia, fugidia, minimalista, rasa e que os brasileiros tanto se encantam e devotam profundo culto. (Profundo? E brasileiro que almeja Miami pode ser profundo?).
Matei! Matei os dois e não limpei o sangue das minhas mãos em um pano de prato.
Prendam-me. Almejo as algemas que me prenderão a um debate, a um aprofundamento, a um mergulho na frase do idiota que falou qualquer bobagem sobre o passarinho... sim, sobre o passarinho e Shreber (esse ousou pensar profundo, lá na lama fundamental mesmo. E acabou confinado num hospício.)
Confinem-me nos meus pensamentos. Ainda assim eu me preferirei aos orkuts e facebooks.