segunda-feira, 28 de dezembro de 2009


O Bobo da Corte.
O Bobo na Corte.
Bobo.
Cada Corte faz seu Bobo.
E o Bobo fica na Corte.
porque é bobo-da-corte.
Não há bobo sem corte.
Do Bobo,
na esquerda mão,
o cantil
Para a água. Para o vinho. Para o sangue
Roga o Bobo à Lady Boba: água, vinho e sangue
Na direita, o falo.
Nem dele, nem da Corte.
Só o falo na dele mão direita.
Amarrilho e falo
na do Bobo mão direita.

Do Bobo a perna direita
estirada nos meios da Corte
Falo ímprobo?
Falo desonra na Boba Corte?

Não será a Corte a Lady Boba?

sexta-feira, 25 de dezembro de 2009

A Insensatez e a Vergonha



Sinto vergonha nesse momento. Vergonhas muitas, de muitas formas. A vergonha de não saber orientar a minha fala sem ferir os que amo.
Fica também a vergonha de não ter a certeza que amo verdadeiramente, porque todos me dizem que quem ama não fere.
E eu firo, logo, não amo. É isso?
Vergonha de ser magnânimo e mesquinho, na mesma medida.
E fica, depois, a vergonha de saber que o todo é completo se for magnânimo e mesquinho ao mesmo tempo. Desconforto de não estar nessa completude porque o mundo me diz que não posso usar da mesquinhez... que o nobre, o que vai para o céu é magnânimo. Tão somente magnânimo.
Vergonha de não saber a Justiça. Vergonha de saber que para ser justo é preciso transitar entre os dois pólos – opostos – da mesma coisa para obter a imparcialidade e não conseguir praticar esse trânsito porque os outros, o mundo, me dizem que não pode ser assim e eu acabo adotando conceito inverso. Ou só a mesquinhez ou só a magnitude.
Vergonha de me saber pleno, não poder sê-lo e ainda aceitar esta imposição.
Vergonha de saber que o mundo não aceita, não quer aceitar e reage com deliberada letargia.
Vergonha de não saber ler os livros de sapiência imposta. Vergonha de não decorá-los em todas as suas grandezas afixadas e aferradas.
Vergonha de ser rebelde adolescente com mais da metade do tempo da vida vivido.
Vergonha de acreditar nas minhas fantasias. Vergonha de acreditar na minha capacidade netuniana de poder desfazer os carmas. Vergonha de ser o bobo da corte em salão da nobreza do sistema falso e poluído.
Vergonha de acreditar na Divindade. Vergonha de ser honesto. Vergonha de ser rude. Grosseiro. De não ter aprendido as boas maneiras dos homens.
Vergonha de ter sentimentos pueris, porque homens fortes e magnânimos e justos e corretos só têm sentimentos maduros... (apesar de eu nunca ter conhecido nenhum deus que assim o fosse e muito menos, nenhum homem!) Vergonha de estar aqui, metade do caminho andado e aprendido tão pouco de ser humano.
Vergonha. Vergonha de estar sentindo tanta vergonha e não ter um alguém que eu possa buscar para se comover comigo e me dar largas palavras de conformação, sobriedade e honra divinos.
Só você o poderia fazer, Netuno estranho aos olhos do mundo, mas o único capaz de estabelecer um ponto focal no meu espírito envergonhado.
Houve um tempo que eu me vangloriava da minha insensatez. Pura tolice.
Não se respeita os insensatos.

quinta-feira, 24 de dezembro de 2009

Eu não lhe avisei

Eu tenho muitas coisas ainda a lhe dizer. Muitas. Coisas que você não vai ouvir. Não vai compreender e não vai aceitar.
Por isso mesmo eu não vou dizê-las.
Para que não se percam na rejeição que você fará a elas. Para que não se desperdicem palavras, sábias ou nem tanto.
Essas tantas palavras de experiência não serviriam agora, para nada mais do que receberem o epíteto humilhante de conselhos de velho. Conselhos.
Um mestre jamais dá conselho. O mestre viabiliza formas de oportunizar a experiência para que a experiência aconselhe ou ensine.
Essas palavras serviriam para, caso escutadas, evitar dispêndios, desperdícios, fracassos e, novamente, a desilusão.
Mas não vou dizê-las. Não vou exteriorizá-las por uma razão mais sábia e menos arrogante: eu não quero chegar em maio e lhe dizer – eu não lhe avisei?
Eu não quero avisar.
Em maio, eu pleno Saturno, com a impiedosa face que me será completa, olharei para você e apenas me admirarei de mim mesmo, porque pleno e desangustiado, saberei entender que a espada só se empunha se a causa for merecedora. Caso contrário, é dispêndio, desperdícios, fracassos e, novamente, a desilusão.
Saturno não desilude nunca porque jamais se ilude.

quarta-feira, 23 de dezembro de 2009

Pagas e Penas


O que será isso de oferecer-se às pessoas em ato portentoso de provimento, de ação em prol de, de investidas em direção da solução dos problemas dos outros e ter reconhecimento abaixo do que se espera obter?
Existe uma medida cabal de gratidão, a medida exata que nos faz estar confiantes com o livro de débito e haver equilibrado perfeitamente?
Que coisa estranha é essa de se ser o máximo que se imagina poder ser na doação, entrega, generosidade em prol do outro ou das necessidades do outro, e, embutida, uma medida máxima de pagamento que se espera receber.
O pagamento do outro nunca é feito na moeda que esperamos receber. Recebe-se, via de regra, o pagamento máximo que o outro imagina poder pagar, mas a transação de venda e paga nunca é feita na mesma moeda.
Vendem-se serviços, compram-se esses serviços que se pagam sempre em moedas diferentes.
E o mais bonito, penso de isso tudo, é que o comprador dos serviços nunca os encomenda, exatamente como se imaginou que devessem ser os serviços. Para que, em caso de reclamação de pagamento em moeda estranha, o comprador possa dizer: Eu não pedi. Você é que quis fazer.
Mais bonito e mais dramático ainda é que isso é, em geral, verdade, embora mesmo não tendo pedido, o comprador receba e utilize da maneira mais efetiva os serviços com a rubrica “não encomendados”
Ah, como são espertos e falazes esses seres com cara de pureza religiosa e efetiva comunhão com o bem, a correção e a honestidade: são perfeitos honestos na hora de vestir a cara de que “eu não pedi” e o são, absolutamente contrários, na hora de comer com variada satisfação o produto recebido ou refestelar sobre os serviços oferecidos, mesmo que não solicitados.
O que será isto de favorecer o outro, mesmo que não solicitado?
Haveria eu de assumir a minha fria crueldade e mostrar ao outro a minha infinita capacidade de ajuda e, com olhar gelado negar-lhe qualquer ajuda até que ele peça ou encomende e eu seja capacitado de dizer não?
Propensão a nisso crer. Fealdade capaz de me aplacar o Netuno.
Hei de alcançá-lo, mesmo que a duras penas, já que penas há desde sempre no ato de doar e não ter paga. Penas por penas, prefiro as penas por mim encomedadas.

quinta-feira, 17 de dezembro de 2009

Anjos. Anjos do Win Wenders. Anjos da Ana. Anjos.



A Ana Rossi escreveu uma tocante e ao mesmo tempo enigmática experiência que ela teve com uma anja. Me deu vontade de escrever algo, também, sobre anjos.

Essas criaturas aladas, ou não. Celestiais, ou não. Verdadeiras ou folclóricas... essas coisas que as religiões judaicas insistem em afirmar que são seres imediatamente superiores aos humanos e imediatamente inferiores aos arcanjos.

Como eu não acredito em escalas evolutivas do espírito, decorre que não posso supor qualquer hierarquia a esse respeito. Logo, não acredito que os anjos sejam “melhores” ou “piores” do que qualquer coisa. Que sejam mais ou menos evoluídos.

Não cabe aqui expor a minha visão sobre a perfeição do espírito e de sua impossibilidade de evoluir, já que é perfeito em essência, mas não duvido, em nenhum momento, da existência desses seres e de sua infinita capacidade de interferir na vida humana, isto é, durante o estado corpóreo do espírito. Não acredito no estado eternamente incorporal desses seres. Tanto podem estar incorporados quanto não. E, da mesma, forma interferem na vida humana, como mensageiros.

Mas é preciso compreender o que é ser “mensageiro” do Divino. Mensageiro é aquele que traz ou leva mensagens. Mas de quem para quem ou de onde para onde? Mensagens do Divino Superior para o humano inferior e viceversa? Acredito que não. O Divino não é superior. O humano é tão somente um continente para o Divino porque o Divino desejou se permitir experiências de sensações e percepções. E o humano, como essa parte encasulada do divino não se diferencia em qualidade ou manifestação dele. Posso concluir, então, que não se justifica um mensageiro nesse vetor vertical.

Para mim, os anjos são, sim, mensageiros, mas na horizontalidade. Isto é de humano para humano. De Divino encasulado para Divino encasulado. Apenas uma espécie de “neurotransmissor” que realiza a sinapse necessária, dentro do grande cérebro uno que é a divindade. O humano – divino encasulado – somos neurônios desse cérebro universal.

Partindo desse pressuposto, não se pode admitir a idéia que os anjos sejam seres iluminados ou genericamente do bem ou do mal. São apenas neurotransmissores para uma sinapse. Sem permitir classificações ou julgamentos sobre essa sinapse ou praticando qualquer tipo de classificação ou julgamento sobre o que quer que seja.

Os anjos do Win Wenders são as criaturas mais belamente romantizadas que se tem notícia. São incorpóreos e portadores de uma “maldição” eterna. Duramente provados em sua atividade divina de proteger determinados humanos e conformados com a sua condição em uma espécie de revolta letárgica sob a hirsutez de um ser eternamente estático, embora comovido e piedoso da condição humana.

A anja da Ana é uma “cega de mentira” que, mesmo ultrajada na sua condição humana, mendiga, nas beiras das ruas e dos caixas eletrônicos, cumpriu a sua função neurotransmissora de forma correta e adequada. Trouxe de um não sei qual neurônio a mensagem de alegria pueril e descomprometida para o neurônio que é a Ana. Assim, o Divino, o grande cérebro se permitiu experimentar e experienciar uma nova percepção de si mesmo, por meio de todas as suas cada partes.

terça-feira, 8 de dezembro de 2009

A coerência e a burrice

A incoerência me fascina. A transgressão me excita. Mas quando a incoerência passa a ser tradição, se torna burra. A coerência da incoerência. Passa a ser prática e não acidente.
Gosto de pensar que uma verdade só será verdade se for dinâmica. É agora e já não o é no momento seguinte.
Mas, em geral, a incoerência é vista como tropeço de raciocínio e não instrumento de raciocínio e o legal, o bem visto é ser coerente.
Bom, que sejam, então, para que eu me dê o desfrute de transgredi-la.
Fico pensando em algumas normas e leis.
A nossa Constituição afirma que todo homem é igual perante a Lei, embora a mesma Constituição preveja que políticos em cargo eletivo não o sejam. Isso é a Lei, Senhores! Não é invencionice minha. Políticos têm foro especial.
Todos os homens são iguais perante a Lei, embora os negros... ixi, desculpem-me os afrodescendentes, não o sejam. Eles têm cotas especiais para ingresso nas Universidades. Eles não podem ser chamados de negros. Dá cadeia. Embora eu possa chamar amarelos de “china”. Possa chamar os portugueses de “portugas”; os nordestinos de “paraíba”...
Todos os homens são iguais perante a Lei, embora os idosos não o sejam. Têm primazia de ter vagas reservadas em estacionamento; atendimento especial privilegiado; descontos em transporte público...
Todos os homens são iguais perante a Lei, embora os estudantes não o sejam. Têm passe com desconto no transporte público; pagam meio ingresso em cinemas, teatros... embora esses mesmos estudantes nem se preocupem em solicitar um desconto em cervejas e cigarros...
Todos os homens são iguais perante a Lei, embora os portadores de deficiência não o sejam... Têm vagas reservadas, atendimento especial em filas.
Pronto, não precisamos mais citar a tradição da incoerência. São muitas. É perda de tempo.
O portador de deficiência é romanticamente tratado com a palavrinha deficiente sem o d. Isso o torna mesmo eficiente?
Quantos não portadores de deficiência são, na verdade, absolutamente ineficientes! E quantos deficientes são, verdadeiramente eficientes! Stephen Hawking que o diga. E no lado oposto está o “portador de deficiência” Benício Tavares (ele pode dar uma carteirada e pedir minha prisão! deixa eu falar como manda a tradição da incoerência burra!) – Eita! cadeirinha que anda, viu? e com vagas especiais para estacionar, com rampas para facilitar o acesso em navios, em cadeiras de roda que se multiplicam... essas coisas da incoerência.
Então, vejamos, se todos os homens são iguais perante a Lei, como a Lei se arregaça, toda lassa a essas perversões?
Se é preciso ser coerente com as dificuldades dessas pessoas, com o preconceito (?) que essa gente sofre; com a dificuldade dos velhinhos – eita, de novo! dos da “melhor idade” (e essa cafonice dos legisladores românticos me coze os bagos!) por que não o ser com todos os homens – que deveriam ser iguais perante a Lei?
Por que não vagas reservadas para mulheres grávidas?
Por que não para os albinos que não suportam muito a luz solar? – quem sabe vagas com vidro escuro?
Por que não vagas para trabalhadores, vizinhas ao local de trabalho deles?
Por que não vagas especiais para portadores de hemorróida? ora essa! eles também não podem ficar muito tempo sentados, dirigindo um automóvel, procurando vagas.

terça-feira, 1 de dezembro de 2009

ÓPERA BUFA. O Bufão e o Peido.

Eu conheci e convivi com a Profª Eurides num tempo em que eu era jovem e acreditava. Acreditava no mundo, em mim e, principalmente, nas pessoas.
E Profª Eurides foi uma das minhas grandes crenças. Eu sempre a admirei.
Para mim, até ontem, ela era a nossa Margareth Thatcher. A nossa Dama de Ferro. A Educadora. A Secretária de Educação e Cultura que sabia que Educação e Cultura não se separam.
Ela foi a Deputada que moveu as pedras para enxadrezar o Pedro Passos por corrupção!
Apesar de eu professar fé pagã, eu a admirava pela fé cristã que professava religiosamente. Eu conheci a Profª Eurides numa época em que ela se recolhia quando o sol se punha na sexta feira e só saía do recolhimento quando o sol se pusesse no sábado, à tarde. Que bonito era aquilo, aquele fervor, aquela ortodoxia, aquela rigidez religiosa!
A Profª Eurides, de uma forma muito especial me empurrou para a minha profissionalização. E eu sou eternamente grato por isto.
Na semana passada eu a defendi em uma conversa qualquer por toda essa admiração que eu nutria, desde 1981. 28 anos de fé ortodoxa na Profª Eurides!
Ver arrudas e leonardos prudentes enfiando dinheiro até no rabo, se for preciso, é coisa comum. Sabida. Lamentada, mas conhecida.
Mas ver a Profª Eurides enfiando, ladinamente, dinheiros na bolsa, foi coisa que assustou. E pior ainda, coitada, levou uma bolsa enorme e só recebeu parcos 3 montinhos. Fez figura bufa. (a palavra bufa se refere a bufão e tem ainda aquele significado nordestino para o peidinho sem barulho, mas que cheira muito mal!)
Profª Eurides, naquele vídeo, enfiando 3 montinhos na bolsona enorme, foi as duas coisas: o bufão e o peidinho!
Profª Eurides, eu sou pagão. Amo e cultuo todos os deuses porque eu sou todos eles. Eu não entrego meu caminho a nenhum deles. Eu faço meus caminhos porque eu sou a divindade em mim.
Mas o seu Deus e a sua religião, geralmente, condenam a minha, ameaçando-me com o fogo do inferno porque, segundo ele, a sua religião e a senhora mesmo, só há um Deus. O mesmo a quem a senhora entrega o seu caminho.
Que Deus é esse, Professora? Um safado gatuno, ladino, pervertido, finório, batedor de carteira, malandro?
Ou ele é nada disso e a senhora está se apropriando indevidamente da imagem impoluta e virtuosa dele para praticar a imundice, a improbidade, a gatunagem, o engodo, a farsa, a traição, o furto?
A sua ação reduziu a possibilidade de centenas de seres crescerem na sua educação, na sua formação, na aquisição de bens, no seu futuro, no direito de cidadania. A Senhora roubou todos eles. (sim, roubo! Mediante violência! A violência de não lhes permitir o futuro.)
Em vista disso, meus deuses e eu a amaldiçoamos: na sua morte, na hora última de deixar aqui tudo, o dinheiro, as bolsonas, as plásticas, os filhos; os espíritos esfomeados por decorrência dos seus roubos, voltarão e lhes passarão uma conta. E sendo a sua última hora, não haverá tempo de resgatá-la.
Seus netos a herdarão e padecerão fomes que nenhum dinheiro poderá aliviar. Fomes de saúde. Cânceres hão de lhes comer as carnes.
Porque nós, Professora, já sofremos o câncer da política e da corrupção... e a senhora é a mais última prova disso.
Assim seja e assim se faça.

segunda-feira, 30 de novembro de 2009

Meu passado me condena.

Eu tenho uma amiga que fala que quem tem passado não pode ter orkut.
Eu tenho passado, tenho culpa no cartório e meu passado me condena. Mas, mesmo assim eu já tive Orkut, já tive Facebook. Não os tenho mais, não porque meu passado me impeça de tê-los. Por ironia, o futuro me impediu de continuar com eles.
Mas isso são outras bolas.
Na verdade, meu passado é que é o assunto e ele me condena, sim! Veja bem:
Eu já fui wiccano e daqueles cuja tradição wiccana não tinha a menor idéia do que é ou poderia ser a Wicca! Esse passado (coisa execrável é isso de não poder apagar o passado) me enche de vergonha... Quando eu me lembro fazendo caretas de bicho bravo, com desenhos feitos a callao na cara, 4ª posição en dedans de ballet com as pernas e dedos crispados arranhando o ar, com unhas pintadas de preto, túnica de cetim prata, com a parte de baixo cortada à guisa de centurião romano, cordão-de-são-francisco com nós (chamavam a isso de laços mágicos... Pensem!!!) e grunhindo.... Não!!!! Socorro! Alguém conhece aí uma borracha de apagar lembranças?
Sobre esse passado wiccano-de-mentirinha eu tenho anedotas tão envergonhantes que é melhor mesmo eu fingir que não estou em mim ou esse passado não me pertence.
Pense na pessoa, cara maquiada com callao, vestidinho prata (de cetim!!! só isso já diz tudo o que pode ser envergonháve!), em rituais (de quê mesmo, heim?) no Parque da Cidade “levantando as brumas” (?) do Círculo Mágico que foi traçado com o giro de um sacerdote (?) com uma faca apontando para o alto e para o nada!
E sabem como era “levantar as brumas” do círculo? Eu conto! A pessoa pára, abaixa o corpo e os braços, pega alguma coisa que não vê (diziam uns que viam mesmo, que era coisa palpável) e levanta essa coisa, tipo assim, uma cortina, segura em cima para que um outro ou uma outra “entrem”. Depois a pessoa abaixa essa cortina e tudo volta como era: a privacidade, a defesa e a impenetrabilidade do círculo!
Talvez por isso a wicca tenha se banalizado tanto e virado modinha de estação (claro, já ultrapassada e esquecida) dos adolescentes emo e rpgistas!
Já votei no Roriz. (pena que aqui não dá pra pôr o emoticon de face corada!)
Já votei e acreditei e gostei do Arruda. (Sim, pra que negar? Como se nega o passado?)
Já acreditei na Eurides Brito e já a admirei como se admira uma Margareth Thatcher.
Já fiz campanha para aquele, como é o mesmo o nome? Aquele que passa todo o tempo jogando para a platéia? Gente, como é? Ah, o Cristóvam Buarque! (arghhh)
Já acreditei no Budismo... bom, aqui merece um adendo. Acreditei nessa coisa que os lamas (que trocadilho interessante esse título faz com a coisa!) dizem ser o budismo e eu afirmo, garanto e dou todo um braço pra cortar, que isso não pode ser o que Buda disse. Isso é Lamaísmo: o culto ao lama (antes tivessem me pedido que cultuasse a lama, a coisa mesmo, água e terra).
Já fui para a Índia buscando uma “experiência espiritual” sem saber muito bem onde ficava a Índia; o que seria uma “experiência espiritual e muito menos onde eu poderia achar esta experiência. Andei por 9 cidades e fui acabar em um puram (onde encontrei um santo maravilhoso. Só me sorriu com o sorriso mais humano que uma criança possa ter, deu-me um mala de cardamomo que tirou do seu pescoço, fazendo-me sentar a seu lado, com uma intimidade e liberdade que os seus discípulos, ali, no momento não tinham direito)
No mesmo puram fui levado à presença de uma bichona, com pose, tipo, jeito, cara e aquilo... bom não posso falar o termo aqui ... de itamarateca que não chegou ao circuito Helena Rubinstein, e estava sendo “preparado” para substituir o santo, quando esse morresse. A bichona (tinha túnica amarrada à grega, verde, com debruns... uiii!) dourados e me olhou do alto da sua gordice, furibunda porque eu era o único ser que permanecia em pé, à frente dela enquanto todos os outros mortais se deitavam e colavam a testa no chão! Aí não! De bicha pra bicha, eu sei ser mais: toco piano, falo francês e já entrei nos Estados Unidos com uma yellow sheet – acima de qualquer duana! (foi quando, depois dessa bichice de ambas as partes é que desacreditei do hinduísmo também).
O meu passado é longo! Sobressaltaaaado!

Mas há coisas que meu passado não registra e me orgulham muito:
Nunca li um livro de autoajuda! Sou completamente ingênuo (no sentido primevo do termo) a esse respeito. Se necessitarem de um virgem autêntico nesse assunto, já estou eu de dedo erguido.
Nunca assisti a um programa do Gugu e muito menos do Ratinho. Isso eu não tenho no meu passado.
Nunca li um livro do Paulo Coelho. Sou um dos raros seres em toda a humanidade que pode ostentar esta isenção com orgulho. Nada contra Paulo Coelho. Tudo contra os autodesapropriados e afoitos que o lêem e o adotam como guru sempiterno
Eu nunca votei no Lula! O Filho do Brasil! Podem mostrar a língua, não me causa nenhuma espécie. Lula e Paulo Coelho estão ali, ó! Um e outro.
Eu nunca joguei RPG (por isso afirmo que a minha bruxaria seja mais autêntica!).
E uma coisa, a mais contundente, eu não tenho no meu passado: a sujeição!

sexta-feira, 27 de novembro de 2009

15 anos depois. Brasília concreta? Abstrata? Ou inerte?


No magnífico texto “Brasília Concreta e Abstrata”, Clarice Lispector registrou o seu estupor diante da magnificência de Brasília, logo após a inauguração. A paralisia mental diante da magnitude da beleza, da ousadia, da loucura e da in-sensatez de alguns visionários e da sua obra recém exposta.
O verdadeiro artista carece, em sua essência original, de entregar-se à estuporação e ao conflito, vez em quando. É, a partir da imobilização, que o verdadeiro artista entra em fobia pelo status quo e rompe a membrana do usual, do ordinário, do previsível, do velho e se entrega à onda nova, ao precipício do incomum e é capaz de gestar a “criança da promessa”.
Clarice deixou um legado específico para Brasília: que a sua gente jamais saísse do estado de prontidão para o estupor. O mundo ainda hoje, 50 anos depois de criada, perde a capacidade de controlar-se e evitar esse estupor diante de Brasília. Dia após dia vêm pessoas aqui, pela primeira ou mais vezes, que quedam mudas. Estupefatas. Absortas nessa imensidão povoada.
Pena que só os estrangeiros e poucos nativos ainda se dão ao desfrute dessa incompreensão. Dessa absorção pela beleza. Pela incredulidade que Brasília provoca.
Os nativos e, principalmente os nativos jovens passaram a olhar outros interesses, citadinos, materiais e, principalmente daqueles tão corriqueiros... repetir a fórmula de sucesso dos pais, concursos públicos para manutenção da existência e uma, digamos, facilidade mais acentuada de acessos aos dinheiros públicos, baratos...
Saudosismos à parte, houve um tempo que isso também causava estupor no jovem nativo. Plebe Rude, Capital Inicial, Legião Urbana que o digam. Belos representantes da espécie que se rebela para quebrar estado de estupor e instituir nova onda. Aquele estado tão necessário ao artista!
Brasília gerava e paria movimentos rebeldes nas artes, educação, política.
O Grupo Pitu (teatro) endiabrado, endiabrava as platéias. Movimento Cabeças perguntava, apontava, desonrava o sangue velho e expunha o novo em golfadas célebres.
Grupo de Dança Asas e Eixos. Não reconstruía. Propunha e expunha a dança nova.
Brasília sacudia e se sacudia para provocar novos sacudimentos, em si mesma e nas crias do seu ventre enorme, imenso! Uma dança de mãe e filhos que necessitavam recriar, a cada instante, o seu próprio sangue.
O Tempo, senhor sobre todos os deuses, caminhou impassível o seu caminho ceifeiro. (Infelizmente Chronos é muito mal compreendido na cultura ocidental) e os rebeldes de então, ficaram velhos e não geraram sangue novo capaz de transformar a sua transgressão em nova tradição.
No início dos anos 90 (a década final/fatal de cada século – prenúncio do processo de decadência do século) nasceu, despontou, rasgou da mãe o ventre uma companhia de dança de Brasília que levou o nome do número sagrado 108. Trupe 108 Cia de Dança que causou o último estupor em Brasília e em alguns lugares do mundo.
Com sólida formação técnica e detentores do virtuosismo do ballet clássico, os artistas envolvidos optaram por uma linguagem minimalista – também um virtuosismo, às avessas, mas virtuosismo – Um mínimo de gestual, mínimo de movimentos, mínimo de exibição da própria dança como expressão, mínimo de expressão teatral – máscara e voz -, mínimo de tempo de exibição de cada peça coreográfica, mínimo de cenografia, mínimo de vestuário, mínimo de intérpretes que, ao se mostrar, provocou o máximo de estupefação em todas as platéias – de artistas, de fazedores de arte, de consumidores de arte, de professores e ensinadores, de gente anônima, da crítica...
A Trupe apresentou um repertório de 5 trabalhos novos. Nada mais. Durou 2 anos e acabou. Perdeu-se, talvez, na sua própria estupefação?
15 anos depois da sua estréia a Trupe propõe uma nova questão. Não propõe uma exibição de trabalhos coreográficos, novos ou antigos. A Trupe propõe uma questão.
O que é a dança hoje, 15 anos depois da Trupe? Seria a morte da dança, na sua própria morte dois anos depois de ter nascida? Seria a morte do processo criativo, numa recíproca mal sucedida do estupor que não aciona, mas paralisa?
Teriam os criadores se deixado vencer pela conformidade da facilidade do velho, do antigo já conhecido? Da fácil repetição da mesmice?
E essa questão a Trupe não faz só para o externo a ela. Quer fazer principalmente para si mesma.
A morte da Trupe salvou-a da inexorabilidade de toda decadência?
Preferiu-se a morte à decadência?
Para tentar ter uma resposta a esta questão a Trupe optou por reunir os integrantes dela, os mesmos originais integrantes para um encontro quase nostálgico, mas com o fim determinado de reapresentar os mesmos trabalhos que apresentaram há 15 anos. Museu vivo dos anos 92/94 e, para dar-se um choque com a mesma corrente de eletricidade que produziu, naquele tempo, submeter-se a uma nova criação: arriscar-se a responder à questão acima, com o peito, a alma, o espírito e a vontade completamente abertos.
O que é HOJE a dança da Trupe (e de toda a comunidade) 15 anos depois, quando todos os integrantes têm 15 anos a mais; 15 anos a mais de as mais absolutamente diferentes experiências pessoais, culturais, sociais que cada um vivenciou separadamente, enquanto a Trupe repousava no seu leito de morte ou de descanso (quem sabe?!)?
O que representa um estado de estupor provocado pelo autochoque?

terça-feira, 24 de novembro de 2009

Melhor Ator! O Lelê é o melhor ator

O Lelê (Alessandro Brandão) hoje recebeu o prêmio de melhor ator, no Festival de Cinema de Brasília!
Quando eu soube, pouco depois da meia noite, saí aos gritos, contanto pra toda sorte de gente disponível, àquela hora, que eu estava orgulhoso tanto, do meu filho, Lelê!
Nessa oportunidade, eu quero fazer, aqui, um desagravo à minha memória.
O Lelê é meu filho artístico! Sou o pai dessa criança artista de primeira hora.
Dizem que filho feio não tem pai e que quando o filho é bonito todo mundo quer ser o pai da obra.
Pois bem, o Hugo se diz pai artístico do Lelê (e o próprio Lelê fala isso). Ouvi e calei sempre.
A Norma Lillia alega a maternidade do bebê Lelê. Bom, ela ser a mãe já não afeta a minha paternidade. Ouvi e concordei sempre.
Mas, mesmo calado para fora, sempre falei para o meu dentro: o Lelê é meu filho artístico de primeira hora. O Hugo foi, sim, o tutor mais preparado. A Norma, a mãe mais ideal. Mas pai? eu!
A primeira produção profissional que apresentou Lelê ao mundo foi minha.
Foi lá, nos idos de 92 que eu ofereci Hamilton Vaz Pereira para o Lelê.
Hamiltom me agradeceu dizendo que há muito não via um ator daquela amplitude com uma compreensão tão absurda do humor.
Foi depois de Hamilton que Norma Lillia fez o Lelê bailarino e foi o pai, eu, quem apresentou o Lelê bailarino para o mundo da dança. Eu fui o produtor que deu provimento para o Lelê cuidar da sua expressão e seu talento, sem se preocupar com a subsistência deles.
O Lelê é filho que orgulha os pais, as mães, os tutores. Lelê é expressão cênica pura e hoje foi reconhecido em um dos eventos de cinema mais importantes do País.
Parabéns, Lelezinho!
Saturno bateu. Bill, Joca, Gabriel foram instrumentos Dele. E você, protegido por Vênus, Júpiter e, principalmente por você mesmo, pela sua incrível capacidade de resistir, mesmo ao som do mais sofrido e amargo fado, entendeu o seu fado de Saturno. Apreendeu você mesmo e suas capacidades. Sua extensão e sua magnitude.
Agora, não tem mais volta: o mundo passou a precisar de você.
Abro-lhe as portas da minha casa para que você saia, Parsifal atrás de um Graal conhecido, e lhe apresento os seus horizontes.
Vá atrás deles, meu querido. O céu pertence a você.
Grande beijo.

segunda-feira, 23 de novembro de 2009

Amiga da Onça


Ser amigo ou ter um amigo são coisas que se parecem a mesma coisa. Não, não são! São muito diferentes.
Ser amigo de alguém é decisão que depende de mim. É matéria de ordem interna.
Mas TER um amigo é matéria exterior a mim. É matéria que não depende de mim. Depende do outro. É preciso que o outro veja em mim o alvo receptor da amizade dele.
Depois que o outro vislumbra em mim esse alvo eventual, necessário se faz que eu seja, de verdade, o alvo.
Essa atitude, essa ação em direção a mim seduz a minha vontade de ser cada vez mais alvo. Eu me torno desejoso de ser o objeto onde vai se depositar aquela ação, aquela afeição, aquele respeito.
E man-ter um amigo tem que ser uma atitude ativa após a primeira seta do atirador no eu/alvo. Se eu for passivo para aquela energia, eu não a alimento. Eu não me dou como alimento a essa energia. Eu não a procedo. Eu não a estimulo. Eu não man-tenho mais o amigo. Posso continuar sendo o amigo, mas não mais o tendo, às vezes.
E estimular uma amizade em minha direção não basta que eu seja só amigo dessa pessoa. É preciso que eu permita que o outro encontre a si mesmo em mim e vice-versa.
Eu tenho uma amiga. Tenho muitos e muitas (aliás, parabenizo-me porque, com isso, posso presumir que sou bom alvo), mas essa, em especial, eu quero falar.
Hoje me ocorreu, ao ouvir pela rua alguém dizer “ela é muito amiga... da onça, isso sim!" o que seria ser amigo-da-onça?
Eu entendi. Eu tenho uma amiga-da-onça, não é, Aniúshka?
É, verdadeiramente, a amiga da onça.
A Ana Rossi é amiga-da-onça! E só um ser superior à onça pode ser amigo da onça.
Eu sou onça. Eu sou feroz. Eu mordo, eu estraçalho. Eu devoro. Eu machuco, eu firo... exatamente como uma onça ameaçada e, mesmo assim, eu tenho a Ana.
Fiel, solidária, respeitosa. Sem arroubos de sentimentalidade, mas firme e coesa. Sem abundância de abraços e toques, mas de uma solidez inquebrantável. Olhar calmo, embora incisivo. De estocadas com cotonete, sempre certeiras. De doçuras sutis e perpetuidade de mãos estendidas.
E muitos outros TÊM a amiga Ana. Sabem disso tudo e é quando se descobrem seduzidos por aquela vontade de serem amigos dela, com ganas imensas de se tornarem cada vez mais alvos melhor capacitados.
A Ana conhece a minha natureza de onça. Ela jamais me questionou. Jamais me impôs. Jamais se interpôs. Às vezes, uma domesticação sutil... e eu/onça sempre acabo me tornando agradecido por ser respeitado como onça que sou, no mesmo instante que posso aprender a ser a onça que não fere tanto. Onça domesticada.
Para continuar tendo a Ana, me encanta a vontade de ser onça amorosa. Onça mansa. Me seduz a possibilidade de, cada vez mais, recolher as minhas unhas para não arranhá-la e ganhar mais proximidade da Ana.

Um dia a Ana me disse, sim, Onça. Você pode sempre mostrar toda a onça que você é. Mas pode ser em doses homeopáticas?

Não dá vontade, desejo, aspiração de continuar TENDO a amiga Ana?

Beijo no seu nariz, Aniúshka!

sábado, 21 de novembro de 2009

O Gê

1ª Pessoa – numa mesa de bar, em um tempo qualquer.

- O Gê é uma pessoa muito legal! Cara, o Gê é um amigo de verdade! O Gê é amoral. Não, não confunda imoral com amoral. O Gê é Amoral! O Gê é libertário. O Gê fala coisas legais. O Gê dá conselhos legais. O Gê é amigo. O Gê é fiel, é companheiro. O Gê é perdulário, paga a conta de todo mundo no bar. O Gê é espontâneo. O Gê é verdadeiro. O Gê é honesto. O Gê é defensável. O Gê é um cara do caralho!
O Gê é um cara que fala o que pensa. É corajoso. O Gê é um cara que fala as coisas na lata. Ele não manda recado. O Gê lava a alma da gente...
E as pessoas adoram e louvam o Gê, nesse jeitão de ser do Gê, porque ele fala e faz tudo aquilo que a gente gostaria de falar ou fazer. Principalmente contra os outros que são nossos desafetos ou inimigos ou nos incomodam de alguma maneira. O Gê é demais! Ele compra a briga da gente. Veste a armadura do nosso time e vai, arianamente destemido, lutar por nós. O Gê é foda!
O Gê é mesmo desse jeito. O Gê costuma repetir a frase da Mae West (os que não sabem dizem que é frase do Falabela, mas não é!) que ele é uma pessoa muito legal, mas que quando é ruim, ele é melhor ainda! Como a gente ri e acha isso o maior barato!
O Gê sabe como machucar uma pessoa para mantê-la afastada da gente, para nossa segurança. Ele ataca os nossos inimigos como se fossem inimigos dele. O Gê nos protege dos nossos inimigos com a sua crueldade. As pessoas não arriscam muito provocar o Gê porque sabem do que ele é capaz. Por isso nos sentimos muito confiantes tendo o Gê como amigo/defensor. A gente adora o Gê!

A mesma pessoa – em outra mesa de bar. Algum tempo depois

- Porra, o Gê é um filho da puta! Ele é amigo, porra nenhuma. Ele diz coisas que ferem a gente. Ele é cruel demais! Ele não tem dó de falar coisas sobre a gente, na cara da gente. Puta que pariu, que cara grosso! Ele pensa que pode falar tudo o que pensa, assim, de qualquer jeito.
Será que ele não entende que não pode falar as coisas como quer e pensa? Será que ele não percebe que há um limite?
Que cara mais foda! O Gê é terrível. Ele precisa aprender a ser mais doce. Mais suave. Ele é agressivo demais!
Qualquer coisa que a gente faça, já vem ele, com sua armadura, apontando o dedo e dizendo o que quer. Dando conselhos... porra, vá dar conselhos pra mãe dele.
O Gê machuca demais a gente. Ele é inconseqüente. Será que ele não percebe que assim ele vai acabar afastando todos os amigos dele? Que vai acabar sozinho?
A gente adora o Gê, mas ele acha que sabe tudo, que pode dar conselho sobre tudo... Não dá mais! Tem uma hora que a gente não suporta mais ficar aprovando e sorrindo pelas coisas que ele acha legais. Vá se foder, entendeu? a minha vida é minha e ele não pode se meter assim. Eu não aceito que ele venha se meter. Ele que vá se meter com as negas dele.
Caralho. Em tudo o Gê se sente com direito de acusar, de se sentir traído.
Estar com o Gê é uma temeridade. Ele se arvora defensor da humanidade. Quem ele pensa que é pra se achar com direito de dar palpites na vida da gente?
Porra, que cara moralista! Fala que é amoral, mas na hora que a gente resolve fazer alguma coisa diferente, já vem ele com reprimendas... a gente é que sabe da vida da gente. Quem é ele para aprovar ou reprovar qualquer coisa?
Do nada, ele começa a fazer cobranças... Fica até parecendo que a gente deve alguma coisa pra ele. Só porque pagou um ou dois cafés pra gente, um na vida, outro na morte, se sente com direito de nos constranger na mesa, na frente de todo mundo, perguntando se a gente não vai dividir a conta. Como se a gente nunca a tivesse dividido!
Olha, o Gê é foda!
Tou fora! Que morra sozinho, para ver o que é bom pra tosse!

Gê– Em casa, sozinho. A todo tempo.

- E agora, eu, o Gê, preciso fazer uma pergunta, para entender melhor as coisas: então o Gê é legal quando é agressivo, cruel, grosso, feridor, atacador contra aqueles que afetam você?
Só pra entender. Perguntar ofende?
Tá bom!... tá bom! não está mais aqui quem falou!

sexta-feira, 20 de novembro de 2009

Socorro! As bichinhas se alvoroçaram...

Alguém me salve, pelo amor da deusa macho/fêmea. Ou me impeçam ou eu vou mesmo criar um CCG!
Não é que as bichinhas, antes relaxadinhas, agora entraram em alvoroço e estão todas numa correria desordenada, mandando emails umas para as outras, as outras para as umas, um trânsito infernal de mensagens (ixi, deve estar um inferno também na telefonia móvel porque bichas, assim como as empregadas domésticas, atooooooooooooooooram falar por celulares!) sobre a tal enquete que o Senado está fazendo para saber a opinião sobre aquela bobagem de criminalização da homofobia.
E agora (as bichas também atoooooorammmm a teoria da conspiração!) elas estão dizendo umas para as outras e as outras para as umas que a bancada evangélica "raqueou" o site do Senado para alterar os resultados da enquete.
Gente, os céus do País estão convulsionados por tantos gritinhos, desmaios, sussurrinhos gritados (porque bichas jamais conseguem sussurrar, de verdade, como é um sussurro) de bichinhas alteradas... (ops, pleonasmo!) que só mesmo um CCG absolutamente homofóbico poderá dar uma apaziguada. (sim, porque bicha não cruza, mas reproduz mais do que político).
Elas estão com tanto pavor de terem os seus cílios postiços e suas sandálias douradas arrancados à força e de serem proibidas de dançar nas boates, que nem leram - ou se leram, claro, não entenderam - o que viria a ser a enquete e, muito menos, sobre qual projeto a enquete se propõe.
O título da mensagem que todas elas atiram, umas nas outras, via todos os meios possíveis é:

"Projeto para criminalizar a homosexualidade"

assim mesmo, Senhores, com um s só. Mas isso nao é nada. O pior é o que vem agora: a enquete (com todos os seus defeitos e suas mazelas) é sobre o projeto de criminalização da HOMOFOBIA!!!
Bichinhas não sabem a diferença entre uma coisa e outra.
Dá ou não dá vontade de criar e comandar um CCG bem feroz?

quinta-feira, 19 de novembro de 2009

A Holandesinha



Ontem me perguntaram se eu desisti de bater na Vittoria Rekis e na Jackqueline Lob.
Claro que não! Ainda mais que agora, recentemente, o clã da Vittoria comprovou sua eficiência, revelando ao mundo, mais uma de suas criaturas: a Holandesinha!
Parabéns, Vittória, a holandesinha é mesmo a cara cuspida e escarrada de todo o seu clã! (tá bom! Eu sei que a expressão correta original é “esculpida em Carrara... mas Carrara é um pouco demais pra ser citada no clãzinho! Me poupe.)
Vale a pena relembrar para os que leram as minhas palavras anteriores e fazer saber aos que não sabem ainda, quem é a Holandesinha.
Menino, nasceu no interior da Paraíba, filho de pai político (daqui já podemos tirar algumas conclusões), cabeçorra chata, ausência quase completa de pescoço e, no lugar dos cabelos, um ninho de guaxo.
Recebeu um nome afrancesado em homenagem a um jogador de futebol (eu não posso deixar de rir, Senhores, muito!!! – uma bichinha, cabeçuda, cabelo muito pixaim, sendo uma homenagem viva a um jogador de futebol!) E pior, o pai homenageador ainda pensa que a holandesinha pode ser, mesmo, de verdade, uma homenagem a um dos esportes mais emblemáticos da masculinidade (sim, podemos discutir isso melhor, depois. Agora não cabe aqui).
Paraibano – isso deu a esse nativo do estado da Paraíba uma enorme mágoa. Ele sonhava ser estrangeiro.
Precisava viver o mais geograficamente distante do pai paraibano porque, costuma-se afirmar, pais paraibanos matam os filhos gays. (a própria holandesinha fala isso com olhos arregalados de pavor)
O sonho de ser uma menina loira, com trancinhas loiras, usando touca de 3 pontas, corpete preto sobre blusinha de mangas bufantes, saínha franzida e tamancos de madeira, ao lado de um carneirinho, tornou-se uma obsessão.
Preparado e instruído no clã da Vittória (ela mesma. com origens e sonhos muito, parecidos) facilitou ao menino a ida para a Holanda.
Por meio de traições, escambos, pagamentos com favores sexuais, embustes, trapaças, engodos, artimanhas, mentiras, desonra, alcovitação, alcaiotismo, intrigas, adulações, viadagem... o menino chegou lá. (Hoje vive sabe-se lá como, se manteúdo ou não por um nativo mais bem aquinhoado financeiramente. Não posso afirmar ainda. Não tenho dados suficientes.)
A única coisa ruim que a realidade usou para ferir a fantasia da Holandesinha: ela não era loira e muito menos poderia fazer tranças com o ninho de guaxo que portava na cabeça.
Mas como todo iniciado do Clã Vittoria Rekis, a mentira é fator preponderante, necessário e eficiente para a homeostase... A HOLANDESINHA RASPOU A CABEÇA!!!!
(Perdoem, senhores, mesmo que a Holandesinha acredite muito nessa trapaça, não dá pra ficar sem debochar ao ver uma cabeçorra paraibana, quase colada aos ombros, raspada!)

quarta-feira, 18 de novembro de 2009

A bonita e triste história das bichinhas enganadas, das martas suplicys, da homofobia e da enquete

“O Senado criou uma enquete para testar a opinião pública sobre o PLC 122/2006 (que criminaliza a homofobia). A enquete ficará no ar durante todo o mês de novembro.“
Você acorda pela manhã com uma mensagem dessa na sua caixa de correio eletrônico.
Em uma fração de segundo, sendo você homossexual, passam na sua cabeça milhares de imagens: a imagem da consciência e defesa da diversidade; bichinhas “montadas” dando gritinhos e fazendo passeatas com muita “liberdade sexo/social”; homens de gravata e ternos, com suas caras de personagens dos gibis do Pato Donald (lembram que todas as personagens engravatadas do Pato Donald tinham cara de cachorro buldog ou de porcos?). E, depois dessa visão simplista e rápida, vêm outras... a não diversidade. Bichinhas montadas sendo espancadas nas suas passeatas pelos pitbuls da heterossexualidade e as personagens do Pato Donald, com caras de buldogs, falando nos microfones do Senado, com seus olhos viciados – um nas próximas eleições e o outro nos cofres públicos de fácil acesso. Uma mão no bolso e a outra já dentro dos cofres públicos. Pronto. (Pra mim, a mais emblemática delas é uma senhora de tailleur rosa reunindo bichinhas deslumbradas e dizendo pra elas, com voz de professora de segundo grau – cheia de amor pra dar – Relaxem e gozem, meninas! Isso mesmo, Senhores, Marta Suplicy! Aquela que era nada, jogou purpurina para a platéia formada por tantas bichinhas, elegeu-se alguma coisa, exigiu apartamento em Brasília (e olha que são apartamentos!!!) – mesmo que o marido de plantão, à época, já tivesse um fornecido pelo Senado (argh!), comprou mais e muitos tailleurs rosa, largou aquele marido “pela aí”, arranjou outros (como existem maridos à disposição de senhoras com tailleur rosa que têm um olho viciado em todas as eleições – essa moça ficou mesmo viciadona em eleições -, outro nos cofres públicos ... blá, blá e, desde então, as bichinhas desavisadas estão lá, sentadinhas à espera da lei que permite que elas também arrumem marido! (No Campo de Concentração de Bichinhas Gayas (como fala um amigo meu) microfones repetem “Relaxem e Gozem”, muitas vezes, muitas vezes. As gayas esperam e a moça goza – agora sem tailleur: está andando pela aí com os peitos semi cobertos por bustier, juntos aos joelhos – não, senhores, não diminuiu a distância entre o peitoral e os joelhos, é que os da moça estão alongados. Caidassos mesmo.
A moça do tailleur goza sem parar, desde então e as bichinhas, muito relaxadinhas, esperam e votam e elegem as moças que prometem maridos para as bichinhas casadoiras. Enfim, é assim mesmo que se forma, se elege, se mantém e se multiplicam os políticos. Ratos se reproduzem demais.
Passadas essas imagens de um tédio joseregiano, você acessa a página do Senado (nojo é o que você sente nos dedos que usam o mouse para chegar àquilo, aquele lodo preguenhento) e no meio de uma página cheia de imagens autolouvatórias de “vejam como são grandiosas as ações desses homens destemidos!”, num cantinho obscuro (à direita) tem uma coisinha pequenininha , de 4 x 6 cm, com paica diminuta no fonte: a tal da enquete, onde o opinador pode optar por um sim ou por um não. Só. Nem seu nome, RG, cor dos olhos, convicções, raça, nada! Nada disso precisa.
Você clica no sim e um resultado temporário aparece. (hoje estava em 49% a favor e 51% contra!)
Antes de você registrar o seu sim ou o seu não, um aviso mais diminuto ainda:

Atenção - Os resultados da enquete representam a opinião das pessoas que votaram, não sendo possível extrapolá-los para toda a população brasileira.

Esses ratos têm ficado cada vez mais espertos!
Se a enquete não pode ser extrapolada para toda a população, alguma coisa está errada na enquete, não?
Ou essa não extrapolação intencional serve exatamente aos olhos viciados e as mãos furtivas desses senhores, que poderão, eventualmente, alegar nos seus microfones que a coisa não era bem assim?
(Chamar a esses personagens de gibi de filhos de puta, seria um preconceito contra as putas – apenas trabalhadoras na dita profissão – e não resolveria nada.
Opa!!! Ocorreu-me agora substituir o mais conhecido xingamento – filho da puta, por filho de senador (ou deputado, ou político) Imagino a cena: “mas tu é mesmo filho de senador, heim?”.
Sim, tentemos esquecer essa maldição dos deuses, que são os políticos, e vamos ao que interessa.
Criminalizar a homofobia resolve?
A corrupção, o roubo, a bandalheira, o ultraje, a desvergonha, o mensalão, a vadiagem, tudo isso já é criminalizado.
Resolveu alguma coisa?

domingo, 15 de novembro de 2009

Bom senso e senso crítico



Ontem fui assistir ao “Show” de Talentos do Colégio onde estuda a minha neta. Saí de lá com a angústia gravemente aumentada.
Crianças dançando e cantando.
Normalmente, pra quem trabalha com espetáculos cênicos, (o meu caso) é uma maçada assistir a macaquinhos treinados, com suas indefectíveis mães (mãe de miss é um arquétipo que mete medo!) que sacam de bolsas, que trazem nos meios das pernas, um arsenal interminável de câmeras fotográficas, câmeras de vídeos, celulares que fotografam e filmam, lanches, escovas de cabelo, coleções gigantescas de toda sorte de maquiagem, malas de presilhas para cabelos, garrafas de coca-cola, sanduíches do Mcdonalds, danoninhos, álbuns de fotos, pulseiras, brincos, anéis, colares, revistas Caras, portfólios e aquela coisa que, quanto mais excitadas ficam, mais os meios das suas pernas produzem coisas! Medo! Mãe é mico mesmo!
Com essa azáfama de mães produzindo coisas impensáveis na platéia e o meu medo aumentado, entram duas filas de crianças com um miserável lenço de seda sintética, amarrado à grega, no ombro, dançando (?) música indiana com cara de “música-americana-para agradar-aos-brancos-que-suportam-a-cultura-negra” e as macaquinhas mexendo braços e pernas e cabeças conforme o que viram na última novela da TV Globo - já, em si, um arremedo pobre da cultura indiana/hindu. (Aí, galera, vocês sabem que hindu e indiano são coisas distintas?)
Depois, acreditem, tudo foi possível. O imponderável existe!
Todas as shakiras com ou sem os pares de todas as costelas estiveram presentes.
Para salvar a noite, uma garotinha dançou (dançou mesmo!!) um belíssimo frevo com música de Alceu Valença! (Valência!!! ainda existe a resistência!).
Mas momice de crianças é fato comum. Os comportamentalistas chamam isso de “comportamento imitativo”.
O que me causou espécie e cravou fundo na minha incapacidade de compreender o mundo que existe por aqui e onde eu vivo, foi a momice bastarda da pessoa que apresentava o “show” (por que não xou? apresentação?).
A cada macaquinho que passava pelo palco, fazendo ou não qualquer coisa – abominável ou não -, a dita senhora gritava no microfone, com voz de inabalável falsidade: parabéns! Você arrasoooooouuuu!
Senhores... não me venham com suas conspurcadas intenções de afetividade e pia compreensão!
Como permitir a elaboração de um senso crítico das crianças se qualquer momice que elas façam, recebe o elogio exagerado e de extensão máxima?
Sim, claro que vale incentivar a iniciativa, o esforço, a autoconfiança delas. Óbvio. Eu tenho bom senso! Não gastem suas verborragias para me convencer do que eu já sou convencido.
Mas o bom senso deriva de um senso crítico. Iniciativa e resultado são coisas muito distintas. Esforço e resultado são coisas mais distintas ainda. Autoconfiança e ausência de autocrítica são opostos.
Para que uma criança ultrapasse a fase de símio emitindo comportamento imitativo, é necessário que lhe seja permitido ver que uma coisa é diferente da outra coisa. É preciso valorizar o que tem valor.
Uma careta, um trejeito momesco podem ser nascedouro de inúmeros talentos. Não queda dúvida. Mas afirmar, em sacrário (o palco), para uma platéia, com voz amplificada por microfone, que qualquer careta simiesca está “arrasando” é pedir, é preparar, é sedimentar, é solidificar a ausência de senso crítico.
Será que é para isso que as escolas se preparam, se constroem e se mantém? Instalar a não crítica e ter plenas e irrestritas condições favoráveis para cobrar exorbitâncias de pais sem senso crítico, capazes de aceitar e considerar qualquer coisa um “arraso”?
Aliás, Senhores, não sei se lembram, que arrasar significa, no seu primeiro sentido, tornar(se) raso. Depois, no seu segundo sentido – destruir, arruinar...
Será que essa arrasada (raso+ada) Senhora é de uma consciência cósmica enorme e quis dizer mesmo que todas as crianças arrasaram?

Duvido!

sexta-feira, 13 de novembro de 2009

A COR VERDE DA LÂMPADA VERDE

Lilith é a sabotagem interna. A famigerada e toda-explicativa expressão usada em todos os manuais de autoajuda e por todos os psicoterapeutas: o autosabotador.
Bonito isso, penso! (tenho sentido falta da Hilda... o que andará ela pensando agora?)
Bonito, pomposo, explicativo, bombástico... foi localizado o Demo! Agora já se tem mais um responsável pelas coisas todas universais (já notaram que sempre se procura e sempre se localiza um responsável fora da gente para justificar as nossas transgressões? Antes era o Capeta que tentava. O Boto que engravidava as meninas, a vontade de Deus, a Sombra de cada um... agora é o autosabotador.)
Pois bem, deixe-me ser menos prolixo e tentar explicar para mim mesmo e, convencer todos vocês onde essa coisa me deixa atônito.
Eu nunca soube quem é EU!!! Como vou saber quem é o MEU sabotador?
Como todo mundo já sabe (sim, quando eu focalizo e apreendo uma coisa, imediato se faz dentro disso que se chama minha cabeça, que toda a humanidade focou e aprendeu essa mesma coisa... terrível, porque isso não acontece e toda a humanidade me olha com ganas de me internar... saudade da minha encarnação anterior, o Crowley!)
Voltando. Como todo mundo já sabe, o meu ano astrológico está regido por Lilith e é imprescindível que eu encontre o meu autosabotador. (imprescindível porque assim me disseram...)
E agora eu resolvi procurar esse moço. Localizá-lo e dizer ahhh, é você e pum! dar um tiro na testa dele e virar, automático, um ser iluminado. Um ser puro. Só Eu!
Cabe contar que este ser – este ente – que está aqui, tentando se exprimir, não suporta a idéia de iluminação. De ser puro.
Pureza, para esse ser, é a integralidade. A multiparticularidade.
Bem, vamos lá de novo.
Estou procurando o tal de autosabotador dentro de mim. Estou tentando fazer a lição que o outro me ordenou.
Entro em desespero porque quem é o MIM? Fico trêmulo. Suo e desarrumo os cabelos.
Quem é esse mim onde eu tenho que encontrar um pedaço que habita nele e que tem o nome de Autosabotador?
Quem é esse EU que meus pais nomearam de Genilson? Quem é esse ser que fala o meu braço, o meu pé, o meu nome, o meu espírito?
Quem é esse que está acima do meu corpo e de tudo o que eu presumo de mim e que diz que é ele? Usa a fala da minha língua, os raciocínios do meu cérebro, as emoções da minha alma e se diz EU?
Não consigo identificar essa entidade que fala “MEU” sobre o que pertence a uma estrutura, um monte de sentimentos, um amontoado de cognições e vivências que é o que eu penso ser o Genilson.
Quem é o meu proprietário que se diz Eu?
Na verdade, Senhores, eu sei a resposta. Ela me basta e não me gera o mais pequeno desconforto. O que me gera desconforto é a exigência de ter que separar essas partes inseparáveis – sim! absolutamente inseparáveis – para que, após separadas em indivíduos, sejam confinadas em compartimentos e passem a ser utilizadas conforme o que se chama convivência social.
Eu tou cada vez mais de saco cheio.
Quem são todos esses que não fazem a mais mínima idéia de quem sejam, me orientando e aconselhando com olhares pios para que eu identifique em mim, partes indissociáveis e, portanto, inidentificáveis?
Vou pedir um favor para vocês. Separem a cor verde da luz verde. Sim, tomem um lâmpada verde e consigam para mim, separar a cor verde da luz verde da lâmpada...
Ahhhh, e não me olhem com esses olhares desviados!

terça-feira, 10 de novembro de 2009

Hoje eu quero falar sobre preconceito. Aquela coisa que todo mundo fala que é contra, ou que sofre, ou que não tem.
Preconceito contra as minorias. Essa coisa que todos os politicamente corretos discursam contra.
Preconceito contra as mulheres, contra os negros, contra os homossexuais, contra os pirulitos da venda do Sr Tufy – o turco, contra o raio que o parta, contra o cabelo enrolado dos negros, contra a mãe Joana, contra a puta que pare, “contgua a guerra, contgua a paz mundial”. Contra!
Eu nunca entendi muito bem essa coisa. Eu não sei ser politicamente correto e, sempre que fui apontado como preconceituoso, eu me defendi dizendo “não é preconceito. É conceito!”
Alguém já parou para pensar, se não filosoficamente, ao menos semanticamente nessas coisas todas?
Como falar em preconceito contra a mulher se o termo “mulher” já é, em si, um conceito, pré ou posteriormente concebido?
O que seria essa coisa “mulher”? Indivíduo do gênero feminino? Simples assim?
Essa coisa que se move feito homem, que se manifesta como homem, mas que em vez de um falo, carrega uma vulva? Isso é a mulher?
E aqueles seres vulvados que sentem, que falam, que riem, que trabalham, que se defendem, se acusam e tanta sorte de diferenças? Isso tudo fica apertado, feito sardinha na lata, no conceito “mulher”?
Vulva com alma. Vulva profissional. Vulva mãe. Vulva religiosa. Vulva piedosa. Vulva solidária... esta magnitude infinita de possibilidades de ação, permanência ou falta é simplesmente “mulher”?
O que seria homossexual? O indivíduo sexual com indivíduo sexual parecido? O que seria sexual? Coito? Simples assim?
Alguém aí já leu João Silvério Trevisan?
...
(esse silêncio me aterroriza!)
Fica patente que muito poucos desses ativistas contra o preconceito saibam pelo menos quem é esse com nome de possível primo ou parente do Dalton Trevisan ...
ei!!!! Alguém aí sabe de quem estou falando agora? O Vampiro de Curitiba, lembram?
...
(já estou chegando ao pânico!)
Como não ser preconceituoso contra os homossexuais se o termo “homossexual” é um preconceito?
Ele traz embutido um conceito formalizado, firmado e adotado para selecionar determinada categoria de seres que fazem sexo com seres do mesmo gênero?
E o olhar que um ser desses põe sobre outro ser do mesmo gênero? E o amor que um sente pelo outro? O carinho, a esperança, a fé, a crença? Isso tudo é o quê? Sexo? Intercurso ânus/pênis?
Ora! Convenhamos. O preconceito engloba tudo na vadiagem do simples, do rasteiro. Do raso! e, depois disso levanta um preconceito que se intitula não-preconceito – uma bandeira – defendendo as bichas (!!!).
Me fascina essa coisa absurda de se falar e se defender aquilo que não se sabe nada a respeito. Sabe-se apenas o preconceito. Fascina porque me assusta.
Preconceito contra os negros. Nossa! Agora a coisa aperta. Dá até cadeia.
(eu, particularmente, que sempre usei o termo negro para os oriundos da raça negra, agora prefiro chamá-los de brancos. Eu falo assim, olhe, Ei, ô branco! Dá para tirar o seu carro do meio da pista para eu poder ultrapassar? É seguro, acreditem, não dá cadeia!)
Mas o conceito de negro, dentro de mim, no meu cérebro, na minha maneira de cognoscer os indivíduos da raça negra permaneceu absolutamente imutável. Preconceito? Conceito? Posconceito?
Mas em que interessa saber isso, não é verdade? Só vai dar mais trabalho de pensar e pensar é uma coisa tão inútil, não?
Não se pode falar do enrolado (encaracolado?) cabelo dos negros. É preconceito!
Preconceito de quê, puta que pariu? Cabelos nos seres da raça negra são enrolados e muito! Isso já está muito além de ser um conceito. É fato sabido.
E os brancos, com seus cabelos lisos e de outras densidades e espessuras, não comentam os cabelos enrolados e mais espessos dos negros porque a “correção política” informa que isso é um preconceito e não se pode ser preconceituoso, mas abrem salões de beleza onde oferecem serviços de alisamento, relaxamento e tudo o mais para que os cabelos “ruins” dos negros, passem a ter uma aparência suportável aos olhos deles. E os negros, que não gostam que falem da “ruindade” dos seus cabelos vão lá e alisam os seus cabelos. Tudo para ficarem parecidos com a beleza da cabeleira macia e sedosa dos brancos. Ninguém fala nada e fica tudo bem.
Perdoem-me, mas sou incapaz mesmo de compreender isso. (tem um tempo que estou começando a entender que sou mesmo incapaz de compreender muitas coisas.)
Eu mesmo tenho um amigo que nasceu no nordeste. Logo, nordestino.
(estou errado? Falei o que não devia?!)
Ele odeia ter nascido lá alegando que “aquilo é uma bosta”. Para esconder esse passado, hoje ele mora na Holanda. Pensa que virou holandês. E o preconceituoso sou eu!
Filho de pais nordestinos. Odeia o fato porque “os nordestinos são preconceituosos”... E EU É QUE SOU O PRECONCEITUOSO
Ele está inserido naquela categoria de seres que gostam de estar com seres do mesmo gênero. Sei lá, aquilo de ser homoerótico, homopassional, homoafetivo, homossexual que os politicamente corretos preferem pôr na etiqueta de HOMOSSEXUAIS.
Quando nasceu, os pais escolheram um nome francês para o garoto. E, claro, com grafia errada porque, não sei por quê, as pessoas menos cultas gostam de pôr ipsilones e dáblius e kAs em doses excessivas. O garoto tem uma porrada de enes e ipsilones... dobrados, para ficar com nome mais francês ainda (eu acho que é assim que eles pensam: quanto mais letras dobradas e y e w, mais estrangeira fica a criatura – porque ninguém merece ser nordestino brasileiro, né?)
Olhem! Cuidado! não sou eu quem pensa assim! São eles.
O menino nasceu com cabelos grossos, nada lisos e, lógico, cresceu com eles assim. Para não ser um francês com cabelos enrolados, o menino os alisava com pastas baratas, sozinho, escondido no banheiro da casa – porque se os pais soubessem, vão ficar emputecidos por que “isso é coisa de boiola” ... e, para melhorar, ainda pintava de ruivo.
Hoje, o menino que virou holandês raspou todos os cabelos da cabeça e se vangloria. Conseguiu mesmo, definitivamente virar “gente”!
Gente... tou cansado. Um nome francês, uma cabeça raspada, uma cidade européia conseguem fazer um brasileiro, nordestino, jurar que nunca teve essa origem. Ele nunca foi brasileiro! Jamais foi nordestino e em tempo algum ele nasceu, ou teve, ou esticou os seus cabelos!!
E vocês vêm me falar de preconceito!!!
Vocês todos são um saco!

domingo, 8 de novembro de 2009

Matei e pronto!

Acabei de cometer orkutcídio e facebookcídio!
Gostava da modernidade do Orkut. É fácil falar com o outro lado do mundo, com a pessoa que você deseja. E com custo zero.
Era bom, também, essa coisa de me expor ao mundo. Publicar o meu currículo, minhas fotos, meus gostos... essa coisa de ser celebridade no mundo desconhecido. Ser celebridade no escuro.
Qualquer arroto meu passava, instantaneamente, a ser motivo de publicação e, claro, da admiração do mundo todo. Ohhh!, pensava eu que todas as pessoas faziam quando passavam a conhecer o meu último arroto.
Até as comidas que eu gosto... até isto eu podia mostrar ao mundo.
Sentava-me à frente do micro e me incumbia do piedoso dever de colaborar com a humanidade, mostrando as minhas especificidades.
Até o meu modo de amar os bichos eu podia comentar para aconselhar.
Um dia, um ser surgiu de não sei onde e começou a me dizer, via email (eu me pergunto, por que não imeio?! – brasileiros se deleitam com palavras estrangeiras... eles acreditam piamente que passam a morar em Nova York e, claro, dominadores do american way of life, depois que passam a falar ou grafar palavras americanas – sim, porque brasileiros não sabem muito bem que o inglês não é uma língua nascida nos Estados Unidos!) que os meus amigos mais modernos estavam me convidando para uma coisa que se chamava facebook – (eu fiquei me perguntando se isto tinha alguma coisa a ver com aquela brasilianice de pensar que “eu livro a minha cara” é “I book my face”, em inglês)
Fiquei com medo dessa coisa. Eu tenho muito medo dessas coisas que vivem ou saem de dentro dessas coisas que têm botão e fio.
Mas, fazer o quê? é preciso ser moderno. Fui lá. Abri aquela conexão (ô brasileiros, link é conexão, ligamento, vínculo, tá?) e, claro, uma coisa se abriu, cheia de informações e etiquetas (tags, tá?) e imagens e quadradinhos retangulares (boxes, para os que não sabem entender o português). Aquelas coisas que nunca se sabe ao certo aonde vão e, principalmente, onde vão acabar, porque cada uma que você clica (ufa, consegui uma já aportuguesada), abre-se em mais 6, que se abrem em progressões geométricas, até o fim das eternidades.
Um desses quadradinhos começou a me fazer as mesmas perguntas de sempre: quem sou eu, o que gosto, que tipo de música, comidas, sexo... irra!!!
Respondi a todas com uma preguiça irritada que me acontece sempre quando me perguntam coisas e me dão só duas ou três opções de resposta! Eu nunca posso dar a minha resposta. Tem que ser uma das que eles me permitem!
Terminada aquela sessão de chatura, eis que descubro, atônito, que tudo o que eu tinha feito era preencher um cadastro para um sítio (site... porra, que saco ter que ficar traduzindo para o português essas palavras que os brasileiros adoram usar) de relacionamentos!!
Minha Deusa-macho-e-fêmea! Uma agência de matrimônios dentro do meu computador que fica dentro do meu escritório, dentro da minha casa! Socorro!!
Mas era isso mesmo. E eu que nem quero mais casar, nem namorar, estava dentro de uma agência de matrimônios e... e? que para eles escolherem o par perfeito para mim – segundo eles, utilizando moderníssimos testes de personalidade – eu teria que desembolsar uma módica quantia de setenta e poucos reais por mês até aparecer aquele!!!
Eu me pergunto ainda: onde foi que eu comecei a informar às pessoas que eu sou idiota? Onde foi que eu publiquei isso? Ou será que seriam eles os idiotas que pensam que eu sou mais idiota, capaz de acreditar neles? (Óbvio que há milhares de idiotas que acreditam, mas poxa, será que eu, em algum momento, passei a fazer parte dessa categoria e ainda não me informei disso?)
Pois bem. Fechei o tal do site (hmmmm, agradei, agora, né?) e fui, praguejando a minha óbvia incapacidade de conviver com essas coisas que moram dentro das coisas que têm botões e fios e, voltei ao tal do Facebook.
De novo! Os mesmos cadastros? Não. Não pode ser. Recuso-me.
Pulo para a página principal daquilo e vejo muitas fotinhas, de muitas pessoas e o que me pareceu foi um monte de doidinhos mansos falando coisas para o nada: nem para si, nem para ninguém.
Doidinhos falando coisas como hoje acordei e vi o passarinho. Outros, um pouco mais doidinhos, falando Nietzsche, o príncipe dos poetas italianos incompreendidos, disse que é a cultura indiana já disse tudo, desde sempre, embora a ciência leve muito tempo para comprovar...
Embaixo das fotos desses doidinhos, outro doidinhos falando que o buraco na camada de ozônio da atmosfera foi explicada pela última pesquisa britânica como produzido pelo excesso de peidos das cabras da Nova Zelândia...
Eu fico aqui, a balançar a minha cabeça, para cima e para baixo... muitas vezes.
Ninguém falou nada e ninguém refutou nada. Ninguém argumentou nada. Ninguém confirmou nada e ninguém entendeu nada. E aquela fila de fotinhas de doidinhos, uma em cima da outra, a subir. Um edifício cheio de janelinhas com as efígies dos doidinhos. Uma babel sem objetivo.
Enquanto isso, lá dentro de mim, um doidinho me cutucando: cê tem que terminar de preencher o seu cadastro. Você ainda não disse quem é e o que gosta.
Sabe de uma coisa? Eu gosto é muito pouco dessa coisa toda.
Dessa fugacidade instituída pelo pensamento pragmático americano. Da coisa vadia, fugidia, minimalista, rasa e que os brasileiros tanto se encantam e devotam profundo culto. (Profundo? E brasileiro que almeja Miami pode ser profundo?).
Matei! Matei os dois e não limpei o sangue das minhas mãos em um pano de prato.
Prendam-me. Almejo as algemas que me prenderão a um debate, a um aprofundamento, a um mergulho na frase do idiota que falou qualquer bobagem sobre o passarinho... sim, sobre o passarinho e Shreber (esse ousou pensar profundo, lá na lama fundamental mesmo. E acabou confinado num hospício.)
Confinem-me nos meus pensamentos. Ainda assim eu me preferirei aos orkuts e facebooks.

quinta-feira, 29 de outubro de 2009

As pessoas mentem e pronto! Ponto final.
Até os Corvos mentem...

quarta-feira, 28 de outubro de 2009

Tou cansado de toda essa merda. Mas não morto. Não se empolgue

Tou cansado de ter que ser isto ou aquilo. De esperarem de mim explicações e condutas.
Eu sou louco. Sou estranho. Isso não basta? Se não basta para você, que enfie o dedo no seu cu e o rasgue... mas me deixe em paz!
Tou cansado de ver o mundo inteiro criando réguas (regulas, regras) para medir a uniformidade de todos. De se ter que freqüentar a casa média da regra, caso contrário se é um anormal.
Tou cansado de ver a professora idiota, idiotizada e despreparada da minha neta ser incapaz de perceber que a minha neta é pisciana e de isto ser o bastante pra compreendê-la na sua imensa capacidade de “ser” o coletivo, o oceano original! Puta que pariu! A perfeita e acabada idiota necessária ao sistema advertiu o sistema dizendo que a criança é incapaz de prestar atenção... e o sistema familiar, orientado por essa professora, buscou a coordenadora que indicou o neurologista que ministrou a ritalina para a criança... a professora, a coordenadora, o médico, o sistema precisam vender mais porque a sua imagem não é medida pela sua competência e sim pelos carros, e carros, e bolsas e sapatos e pelas suas trepadas movidas por Viagras.
Tou cansado, à exaustão, de ser chamado de “muito legal, mas...”
Tou cansado de ser o diferenciado em um mundo padronizado. Plutão em leão, na casa 5, geração de 1954.
Tou cansado de ser o ser brilhante invejado pela mesmice e pela mediocridade. Tou cansado de dizer pra eles a sua absoluta desnecessidade para o mundo. Tou cansado de ver as suas caras parvas olhando pra mim e me perguntando o que é isso. Porra, nasci desenhista, mas me recuso a desenhar explicações para os imbecis.
Tou cansado de ser o ícone líder de uma matilha esfomeada e sem coragem de atacar a presa!
Tou cansado de ser a bandeira da imoralidade e da impudice, mesmo que eu grite a toda gente que moralidade, imoralidade e amoralidade são coisas diferentes – pelo menos assim diz a semântica... tou cansado de sacar que, para essa gente de nescidade uniformizada, moral é o que eles fazem e imoralidade o que os outros fazem.
Tou cansado da burrura que grassa em todas as esquinas, ruas, elevadores, matinhos, boléias bordelescas, muquifos, porões, academia brasileira de letras, senado, casinhas, casões, carrinhos, carrões dessa turba ignara.
Tou cansado. Deveras cansado, mas não alquebrado. Ainda me sobram forças pra alavancar socos, mesmo que no ar, para arrancar, sorver e me alimentar desse sangue fraco das gentes medíocres. Vivo disso.

quinta-feira, 22 de outubro de 2009


queria devolver-lhe
esta urna pequena
com as cinzas do que foi um grande amor
Não tenha medo...
ela está leve.
junto um pedaço do meu corpo
da minha matéria
das minhas paixões.
Tudo está cremado
Não tenha medo
é leve
fácil de portar
Se puder
não guarde estas cinzas
(não vale a pena)
mas lance-as para o céu
jogue para as aves
sobre flores
jogue-as pro vento...
que frutifiquem...
As cinzas sagradas têm isto de bom.
Multiplicam
reflorescem.

Poema XXXIV

hoje tá frio no meu coração
doem as cicatrizes.
dizem que é assim mesmo
no frio todas as feridas doem mais
eu precisava de um afago
eu precisava de um perdão
eu precisava de um sorriso
que clareasse um pouco o meu quarto
está tão escuro o meu quarto
eu precisava da sua mão
eu precisava do seu amor
estou tão triste
está tão frio
e as feridas doem tanto...

Poema XXI


queria abrir no meu peito uma cruz
rasgada
lentamente
Ritual
religioso...
e tirar lá de dentro
devagar,
sem força,
quase ternura,
este meu coração.
E vê-lo
estremecer
vagaroso,
indefeso,
trêmulo...
batidas fracas,
arritmadas,
uma...
outra...
duas.
Quase nenhuma.
E o sangue
descendo,
coando,
quando,
fio.
Queria arrancar este coração
e pisar nele todo o meu ódio
racional
Este meu coração não soube
ser mais forte que a minha
desrazão.

Poema XX

beijo a tua face
molhada pelo meu pranto
beijo as tuas mãos feridas
pelos meus dentes
abraço teu pescoço cortado
pelas minhas unhas
punhais de aço incolor
bebo na tua boca
as palavras amargas que desferi
e como todas as tuas carnes
com meus dentes moles
podres de tanto amor.
doença negra
cruz de mortos
que atravessam meus caminhos
aranhas
tecedeiras
de redes nervuras finas
nervosas linhas
que te arrancam da paz.
sugo teu sangue de pomba
bebo gota a gota o suor que te fiz suar
suor de dor
suor de doar
eu mago louco do meu abismo
cães me mordam e não soprem minhas feridas.
vem eremita
vem temperança
envia-me a morte
aroma doce
para que eu não rasgue mais com meus dentes
a paz deste sacerdote
anjo guardião dos meus infernos.
Vem raio divino e derruba esta torre torta
mata-me e não deixes renascer.
Põe em cima o sal.

Poema XIII

mas nada me engana.
Será a maturidade da coisa?
- as frutas maduras, mais gostosas, mais frágeis,
mais perto do fim...
E tanto assustam estas coisas
que fazem mijar de medo,
um mijo mole, indeciso
pernas abaixo
uma queda boba
igual ao choro
que é o mijo dos olhos...
Diz pra mim um bom dia!
Ai, essa dor querendo voltar, essa amargura, esse medo do que vem. Não presumo, em mim, nada em que eu possa me segurar, Nada que eu tenha para olhar, para esperançar!
Esse medo de mim mesmo, esta parte amarga, mais forte que eu - Lillith que se apaixonou por mim e vinga a minha impotência, dando-me, aos goles, mais impotência.
Tenho de ti saudades e medos. Medo da tua independência de mim, da tua vida sem a minha e nenhuma diferença a fazer diferença.
Meus cuidados, meus carinhos, meus dedos... tudo desimportante pra ti agora, de agora em diante.
Estou sozinho guardando cuidados e dedos, ocupados apenas em cuidar das saudades que sinto por ti. Cuidando apenas da tua ausência... ausência alongada, gorda, redonda, invasiva.
Tanjo cordas na minha alma, essa que está cansada de ficar aqui, presa neste invólucro que derrete, dia após dia, sol após noite, encontrando apenas a noite vazia de ti.
Por que este rancor de mim, Lillith? Por que esta mágoa de mim, amiga negra?
Por que me ensinas a esvaziar de mim os amores? Os carinhos, os cuidados? Os laços de fita?
Então, Senhora, por que não me permites afastar-me daquele cujos dedos, tiraste-me os apreços? Por que fazes a ausência dele no incontido de mim cada vez mais presente, prenhe de ocupação mais aumentada? Corta de mim, então, a lembrança, Maldita Senhora!
Cega, da minha alma, os olhos. Fecha-me os ouvidos todos, os de fora e dentro, entope minhas narinas para que eu não possa mais sentir cheiros. Fecha-me o espírito.
Mantém-no vivo porque te delicias com o sangue vermelho caudaloso dele, se te apraz, mas não me deixes percebê-lo. Afasta-o de mim e leva-o para o teu festim, mas permite, pelo amor do teu rancor, não me deixes percebê-lo. Anestesia-me de mim mesmo para que eu não pereça na lembrança de quem tanto lembro.
Póstumo eu.
Nada mais
que um pranto, às vezes.
Póstumo eu
De mim
Das minhas grandezas
agudas
Da minha grande agudeza.
Póstumo eu.
No nada
Nas entranhas do nada.
Póstumo eu
Algumas vezes,
uma lágrima tua.
Sinto que é chegada a hora de me absolver. Haverá o tempo da absolvição e eu não mais pedirei esperanças, falsas ou criadas, ou argamassadas, ou reais. Haverá o fim, somente. O ponto nevrálgico da absolvição. Não me absterei. Não pouparei defesas ou acusações sobre nada de nada que fiz na Terra.
Hei de encontrar o sinônimo de mim mesmo, dentro de mim e o trarei pra fora. Inaudito. Impensado.
Não buscarei mais amores ou cus. Nem almas pardacentas. Estarei, apenas. Ou serei, talvez, apenas.
Sinto que há coisas aprendidas e muitas a aprender... e este muitas a aprender é uma moral cristã amoral (como diria Clarice). Não tenho dívidas com deus e muito menos comigo. Menos ainda com os outros de um todo que não mais formo parte. Tenho estes olhos e um corpo, já desgastado, com lustres de grandeza ainda. Olhos belos e inquiridores e macios e chorosos e sabedores dos meios de envolver outros olhos. Mas de nada me serve esta sapiência a não ser para acreditar que não devo mais fazer deles qualquer uso que não seja o somente perceber. Estar poste para o mundo. Dar um pouco de luz que vem por caminhos que não de mim mesmo, da minha essência e estar presente sempre e mudo e inconcluso.
Não devo mais buscar em nada o que me falta por origem. Nasci com uma nudez exposta e surpreendido com uns deveres de ocultá-la. Não pressuponho estes paradoxos barrocos que se dizem inventados por deus. Hei de estar nu para ouvir a sentença. Desvencilhado dos cintos e das calças e dos sapatos e de todas as armaduras. Se necessário, morrer de cu pois que outros nascem assim. (e dizem que há, ainda os que nascem de cu pra lua – que têm sorte na vida! E morrer de cu pra lua, o que seria?).
Tomo estes livros de sabedorias e entrego-os a você. Faça-lhes qualquer destino, mas tire-os de mim que não quero mais. Já muito me assombrei com eles. Muitas vezes com as suas belezas silenciosas ou gritadeiras, guardadas. Inúteis enquanto estão lá e não são comidas por uns dentes capacitados para a mordedura ideal. Tomo nas minhas mãos estes livros e devolvo-os sem que os tenha sabido de qualquer forma que o fosse... entregue-os ao Demônio que tem lucidez (Lúcifer deve ser lúcido, presumo) para definir-lhes destino mais sobranceiro do que este que deus lhes deu ou determinou.
Hei de estar com a sapiência dos postes, que não lêem, não plantam, não colhem, não presumem e por tal, não ensinam. Poste só tem uma única servidão: sustentar uma luz que vem de fonte que não é sabida por ele. Resignação de ser só isto.
Tenho pouco mais a falar. Já não me excitam o amor, esta vanidade cristã, o ódio, esta vanidade luciférica e o estar pleno de qualquer coisa, imunda ou santa.
Fico olhando a minha barriga enorme, desmontada sobre um púbis acanhado. Tenho braços e corpo escorridos, Tenho rugas na cara e fundezas na face. Nas mãos algumas “lesões por esforço repetido”... talvez de tanto apontar caminhos ou escarafunchar cus à procura de alvos. Na verdade, isto nada importa. Sou mais menos de tudo. E isto brilha, me ofusca de encantamentos os olhos... paisagens nunca antes vislumbradas. A pradaria.
Será isto a velhice? A incontinência?
(excerto do livro "O Poeta, o Anjo, o Bêbado e o Posseiro", de minha autoria, inédito)

No dia de ano pedi à Deusa
Que te desse a mim de presente.
Assim como és de forma e alma.
E pedi mais à Deusa
Que me desse a ti de presente
Na forma da paz que necessitas
No espírito do amor que tu és.
E a Deusa me prometeu, a mim,
Que me daria uma alma,
Um espírito
Um amor
de agudas imersões
De ser tudo o que é preciso
Pra que sejamos um só
Um nó.

Eu Deus

Há pouco mais de quinze dias, numa esquina qualquer, eu me deparei comigo e eu era pura insensatez... vi que era bom e descansei no 7º dia.

Ausência tua

Agora, hora essa da ausência.
Hora morta.
Ausência tua no lado do passo meu.
Aguda impertinência.
Sombria. Aguada.
Os tons da estrela minha
se esgarçam, matéria fumarenta.
E a ausência tua apontando
o meu futuro:
Dedos desenhando o horizonte
tanto distante. Jazigo.
É assim que há de ser.
Não soergo mais o meu sobrolho...
Assim será.

Meu Vimana

Meu vimana tá, sim, chegando. Mas antes que ele pare no ancoradouro, eu vou amar. Quero recuperar os amores que perdi, perdoar a mim mesmo por tudo o que não consegui fazer. Perdoar os que não me amaram, pedir perdão aos que fiz sofrer.
Sentar no meio fio junto com a Amanda e aprender a sorrir com ela. o sorriso das crianças.
Quero brincar mais de amarelinha, cozinhadinho com as meninas, sem sentir vergonha porque é coisa de garotas... aprender a jogar futebol porque eu já encontrei, em mim, o meu menino.
Quero dar presentes aos que me olham com olhares compassivos, dão de ombros e dizem deixa pra lá, o Gê é assim mesmo! Quero retribuir com o dobro aqueles que me suportaram - porque, como diz o Lelê, pra conviver comigo, tem que me amar muito!!! (vejam que coisa mais linda... tem muita gente que me ama muito!)
Quero agradecer a paciência e a empolgação do Mixel porque a minha cura é obra dele (e ele sabe disto!)...
Vocês, amados que perdi, eu me disponho em cruz, à maneira cristã, ou em pira, à maneira hindu, para renovar meus gestos de admiração!
Daí, então, o vimana pode partir. Estarei navegando em ares de PAZ!
Beijo a todos porque os amo!

Impermanência

Eu sou completa impermanência. Assim como tudo. Hoje estou. Não posso dizer o mesmo no próximo instante.

Então, meu amigo, meu irmão, meu filho, apenas me amem como se eu fosse passageiro. Um vento que passa e vai.

Não se apegue a mim. Não me queira pra sempre perto de você. Muito breve estarei em outros lugares e não gostaria que você ficasse chorando a minha ida.

Sou o caixeiro viajante. Sempre chegarei de novo. Sempre com uma mala de quinquilharias novas, lantejoulas e perfumes. Mas logo, logo estarei embarcando no próximo trem em rumo a outra cidade.

Tenha-me como uma imagem apenas. Meu corpo, meus olhos, meus pés, minha fala, meu sorriso não existem. Sou somente virtual.

Se você fizer assim, não sentirá a minha falta.. mesmo porque ela também não existe. Quando eu passar, sopre um sopro leve, enfeitado com um sorriso. Será a moldura que eu preciso para o meu portal.

terça-feira, 20 de outubro de 2009

...

Sim, lamento a nossa ausência um do outro pelas palavras rudes ou doces que jamais dissemos e ficaram suspensas na garganta. Os olhares que ficaram esperando respostas que nunca vieram. Os abraços que não foram completados. As mãos que se ansiavam, às vezes e tantas outras, não. Foram perdidas. Os verões que não vamos mais dividir. As luas cheias no céu da noite... continuam lá para vermos junto com os olhares de outro, ou não. Estão lá, independentes das nossas perdas.
Lamento os carinhos que dissemos. Perderam-se na nossa memória e hoje são apenas nossa memória.Lamento as luzes que ficaram acesas e nunca, talvez, sejam apagadas.
A poltrona da sala continua sentada vazia e nossos corpos não vão mais ocupá-la. Lamento.
Lamento as horas que nos fizemos chorar.
Os objetos que juntos ajuntamos e que se separaram, os seus de mim e os meus de você. Lamento as rudezas.
Lamento as doçuras. Lamento os silêncios.
Lamento os planos. Planos elegantes. Planos de companhia. Planos de trabalho. Planos de não nos voltarmos a ver. Plano de não ver o que o outro tinha de bom, de escuro, de sujo.
De grandeza, de miséria. De humanice!
Planos de respeito eterno. Planos de vingança. Planos de silêncio.
Tudo isto se perdeu no fio dos nossos dedos e eu lamento não mais identificar o seu paradeiro.
Estamos sozinhos um do outro e lamentamos a nossa irremediável estultice. Mas permanecemos estultos e assim permaneceremos... lamentando. Apenas. Vem.

A PAZ - Um exercício de mentalismo para os mentalistas

A paz é redonda. Obesa. Mulher farta sentada. Imóvel. Imobilizante também. Uma mulher muito gorda, obesa demais, sentando-se sobre você. Sobre todo você.
A paz é asfixiante como uma mulher gorda, muito gorda, deitada sobre você.
A paz gorda deitada sobre você é entediante e o tédio só advém do estado imobilizado embaixo da paz.
É preciso que essa mulher gorda, farta, deitada sobre você, imóvel como toda obesidade, seja ultrapassada. Pela direita ou mesmo pela esquerda. Mas ultrapassada.

Mas como ultrapassá-la se, deitada sobre você, ela é o Paraíso e o Paraíso é amorfo, insulso e inodoro?

Diferente seria se esta mulher obesa fosse inflável? Fosse capaz de ser inflada por nós mesmos e quando o tamanho e o peso fossem insuportáveis, um alfinete resolveria a questão?

É uma idéia. Mas as boas idéias necessitam ser perigosas. Não sendo, não são boas idéias. E qual o perigo que seria ser inflada por nós mesmos e estourada, pummm! por esses mesmos nós?
Estaria o perigo - necessário para ser uma boa idéia - no nunca sabermos a medida exata de suportar o peso na medida certa, no último átimo de tempo antes de passar a ser insuportável?
Ou estaria no momento jamais sabido de usar o alfinete?
O risco de não saber o instante ideal, a ubicação, a mosca...? o insustentável? o imprevisível absoluto?

Onde estaria o nosso prazer de acabar, por ponto final na nossa Paz?
O prazer de voltar à instabilidade e à mobilidade? Mover o nosso timão para a popa da paz?
Ou movê-lo para a proa como mandam a moral e os bons costumes?

A paz é uma mulher gorda, obesa, imóvel, construída e argamassada por gigantes sanduíches de moral? Grande mortadelas de bons costumes? Grandes e multivariados bombocados de doce tédio do bom procedimento?

Ah, esta mulher gorda, obesa, enfastiada está amassando os meus ovos, meus mamilos, minha barriga gorda, entortando a minha boca e está me dando nos nervos!
E alfinetes não me resolverão o fastio.

Devo voar para o Mar Vermelho onde habitam demônios e com eles chafurdar nas lamas e de onde virão à luz cem mil mais demônios nascidos do nosso coito?

Ah!, este tédio redondo me vem com os vomitares de todos vocês!

segunda-feira, 12 de outubro de 2009

Um amor que não volta...

Tenho tantas saudades de mim. Coisas que andam soltas no meio das outras e que não presumo união entre elas.
Tenho contas a pagar. Tenho muitas que se perderam no tempo e que não sei mais o resgate possível delas.
Tenho dívidas para comigo. O onde me perdi e não encontrei o caminho da ida.
Fui aonde não devia, te procurei tanto e nunca mais te vi. Fui, sim, fui pouco talvez.
Deveria eu ter traçado ou tentado caminhos diferentes?
Não sei, não me cobres coisas. Não sei se posso pagá-las.
Anda, passa um pouco da tua mão na minha cabeça. Faz-me um carinho. Pequeno que seja, mas que me dê vida e assombre os meus olhos. Causa em mim um espanto. Não fiques mudo. Não me deixes tão mais mudo.
Mostra-me as tuas mãos. Mostra-me o teu peito, mas não me deixes tão atordoado. Ergue as minhas mãos a uma altura em que eu não possa mais resistir e desce o punhal. Mata-me, mas não me deixes aqui, assim, parado, cansado deste meu olhar cansado.
Anda, por favor, beija a minha boca que há tanto está seca e aberta. Beija-me e arranca a alma que está engolida nela.
Molha-me a língua. Mostra-me que há um céu e que eu posso adentrá-lo, mas não me deixes assim, tonto de tanta alegria e medo.
Fala comigo duas frases... só duas ou três ou não fales nada. Cala-te, mas olha o meu olho e vê nele toda a saudade, toda a tristeza que me tira o sonho de estrelas.
Não esperes mais nada, vai, arranca tua camisa e faz dela um chão pra eu me deitar... ainda há tempo. Por favor, uma única ou última vez e terás salvo um homem.
Salva-me de mim mesmo e salva-te da tua inércia. Desliza tuas mãos nas minhas e vê as veias saltadas de um sangue novo de esperança. Arritmia. Apnéia. Ventos soprados de dentro, ventos há tanto guardados, ventos esgarçados em pedaços, tiras finas, mas grandes de muita esperança...
Só mais uma vez aquele beijo de despedida na porta. Uma só e poderei viajar para o meu mutismo eterno. Prometo-te a calmaria de um grande amor perfeito refeito e deixarei em ti a marca de uma paz nunca antes sentida. A paz dos mortos em paz. A paz da paz. O nada indizível.
Mas não me deixes assim, parado, pregado na cruz de mim mesmo. Na cruz do nunca alcançado. Faz alguma coisa por ti e por mim.
Descansa a tua cabeça na minha. Pesa. Não te importes com o peso de nada porque nada é mais pesado do que a tua falta e eu já a tenho tanto acostumada.
Deixa-me tocar as cordas do violino da tua alma, aquela perdida por ti e por mim. Permite-me alcançá-la e os sons que dele virão serão tão arregimentados pelos deuses, tão embalados em amores que todo o universo vai cantar uma só canção. Eu te farei ouvir e te acalmarás e acalmarás as dores de tantos seres que cantarão, em uníssono, a felicidade de ver e compreender.
Mas vem, toca-me a ferida aberta. Sangra-a. Purga a minha dor. Sangra a tua mesma ferida. Sangra-a e purga-a, mas vem. Não temas.
O tempo nada mais é do que uma ilusão quando se vive. Só é a maldição se não nos amarmos.
Assim me despeço de mim, o antigo que será refeito pelo toque teu. Se não, despeço-me de ti, sem os teus toques, sem os meus sinos e sem as campânulas dos céus. Despeço-me da vida... do sonho. Das dores e das esperanças e continuarei mudo. Inconcluso.

terça-feira, 6 de outubro de 2009

As Farmácias e os Sex shops

Todo mundo sabe o que é um sex shop. Todos já foram a um algum dia, ou quiseram muito e não tiveram, ainda, a coragem necessária. É algo que, se não freqüenta, por enquanto, os horários comerciais da televisão, já se arrisca em outras mídias.
As mulheres são as maiores freqüentadoras; depois os gays e por fim, os “homens”. Os velhos rarissimamente vão. Média quase nula.

A média de idade das freqüentadoras é de 25 anos – e raramente freqüentam sozinhas. Vão decididamente em duplas. (Sempre me pergunto por que as mulheres andam em bando...)

O que é necessário frisar é que todos os freqüentadores vão ao sex shop buscando alguma coisa que complemente, ou capacite, ou melhore, ou resolva a sua atividade sexual. E vão com uma certa sensação de coisa que se deva esconder, coisa pouco publicável. Coisa transgressiva.
Lá dentro permitem que a fantasia role solta. Tudo é possível ser fantasiado desde que a expressão externa não denote nada além da “cara de paisagem”. Compra-se o que melhor se adequou à fantasia do momento, paga-se e vai-se embora com a mesma e altaneira cara dos católicos e neo católicos: isso não foi comigo!

Numa estrutura sociologicamente bem equilibrada, os velhos têm uma única e inequívoca função que é transmitir malícia aos mais jovens. Malícia no sentido de argúcia, sagacidade, sutileza e não de artimanha, ardil para subversão. É aquela capacidade de, utilizando todo o potencial revolucionário e transgressor do jovem, sintonizá-lo para a melhor consecução da ação pretendida por esse jovem.

Ora, sabemos que, hoje, as coisas não andam assim. Essa função perverteu-se em 3 funções básicas do velho na nossa sociedade: atrapalhar o fluxo nos corredores e nas escadas; enriquecer médicos e clínicas e oferecer conselhos ridículos aos netos. Nada imponente!

E parece que os velhos gostam muito disso, embora os transeuntes de corredores sempre se irritem, os médicos e as clínicas agradecem.

E onde fica o prazer sexual dos velhos que, mesmo mais rarefeito no se refere ao coito, são impedidos de expressá-lo ou vivenciá-lo até o último instante da vida? O prazer original de criar e manter – nesse caso, o prazer de ser útil na capacidade de transmitir argúcia aos mais novos, até o fim da jornada quando serão substituídos pelos jovens que se tornaram velhos, foi cruelmente decepado na sua manifestação.

Sabemos que uma energia específica debandará por outras vias caso a sua via natural de expressão esteja entupida.
O que aconteceu então com os velhos?
Eles vão para as farmácias e vibram como se estivessem em um sex shop!
Os velhos e velhas ficam horas nos balcões conversando com a atendente que, obviamente não está ouvindo nada, falando das suas doenças, da carestia dos remédios, das dosagens específicas que lhes cabe, da necessidade de não passar um só dia sem um comprimidinho desses, caros, abusivos, que provocam dor no estômago, dos impedimentos de comer gordura, açúcar, carboidratos... (essas coisas boas da vida!). E saem de uma farmácia e vão para os balcões de outras para comparar os preços abusivos dos remedinhos... ufa! Orgasmos múltiplos durante todo esse périplo.
E fazem isso com tanta naturalidade, tanta aprovação social. Nem precisam da amiga ou amigo irem juntos.

E sabem por quê? Simples.
Eles vão com receita médica. O médico/deus autorizou e indicou esse prazer. Ao contrário do sex shop.
Ora, tanta coisa torta nesse mundo!

terça-feira, 29 de setembro de 2009

A asa ida de mim

Só um Cronos muito invejoso das minhas asas poderia ter do par arrancado uma... Asa que se foi, mirando as próprias costas, na busca do meu olhar. Tanto que queria ficar em mim.

Hoje sou homem partido de minhas asas e não encontro sossego nem nas luas grandes, nem nas mortas e mais, ando à cata dela, rimando meus passos com as ondas do ar, este que me impulsiona, sempre às tontas. Ando à cata dos meus dedos e de todos os dedos que se foram acompanhando a minha outra asa.

Quem suporta uma face tão doída de uma dor que se alonga, arrasta e me puxa mãe a dentro. Quem pode lamentar a sorte de estar na Terra, no útero dela, queimado de uma saudade tão longa, tão impiedosa?
Nada sei de outras intendências que adotei ou me impuseram. Não se aplicam mais à minha atual vivez. Tão anacrônica!

Se eu pudesse socorrer a mim mesmo, dar bálsamo à minha nuca tensa de tanto olhar o fio do horizonte, entre mudas árvores e fumaças que se misturam, eu chegaria a mim e me deitaria entre as agulhas da relva e tornaria, pra mim mesmo o olhar, o mais terno que pudesse ter e diria: vai. Alcança a tua paz, mas não te perturbes porque te falta a asa.

E eu me olharia com o mais lasso olhar e penderia o sobrolho a uma esquerda/passado e me dispensaria de chorar. Voltaria, depois, cansado a mira para mim mesmo e me dispensaria de falar porque já não me fazem mais sentido as falas.

Não guardaria para mim o sentimento da derrota porque jamais houve a batalha. Só uma asa arrancada a golpes de foice: um só golpe e, mudo, permaneço na pergunta. Onde andarão as ternas penas brancas da minha branca asa? Mortas nas águas do rio do pai? Vivas no útero escuro da mãe? Voando nas ondas do vento ou adormecidas no sangue da emoção, no sangue do que habita o meu mais distante?

E desnudo rouco os meus braços de asa decapitados e desfiro uma leva de indagações, setas fálicas, de esquálida matéria em direção aos céus... mas o que importa o céu se a minha asa, em mim, era o meu céu pessoal?

Devo seguir os meus passos e encontrar a minha própria origem?

Nada mais quero entender desde que me falta uma, a mais complementar das minhas asas e presumo que a longuidão desta planície pode margear, costeando todo o mar da minha mais extensa incompreensão, até alcançar as rodas do carro...

Alcançaria eu roubar a dele foice e transformá-la em obelisco, marca fálica da minha vitória?
Poderei eu atinar com esta presunção?

Imensa desventura esta a de inventar palavras para esconder a minha verdade!

Brasília, 05 de abril de 2006.

Você e eu...

Não procure ver dois punhais verdes nos meus olhos.
Não procure este mar verde com longas ondas que são os meus olhos.
Não procure nada em mim. Eu não estou neles. Eu estou em outra parte, maldita parte onde ando, maldito mar de areia castanha que se oculta de mim, dos meus pedidos, dos meus acenos.

Não procure em mim o que está nos seus olhos! Procure antes nos seus. Procure antes nos seus olhos castanhos. Você me encontrará dentro das sombras deles. Estas mesmas profundezas que você não quer perceber e não presume sentir.
Por que tanta vontade de estar longe de si? Por que tanta ameaça o mantém em tanto alargada distância?

Deite-se nas notas das músicas e tente alcançar o som mais puro, o mais grave e solte os ouvidos da sua alma aos chamados meus! Você sabe o quanto são música para os ouvidos seus os meus chamados.
Não se amarre nos moirões deste arame farpas que rodeia os seus temores.
Está temendo o quê? O nosso encantado amor de poetas carne dentro da noite?
Do nosso beijo da nossa única boca separada em dois homens?
Levante esta clava e derrote a nossa falta de nós mesmos. Arme as suas mãos com tantas tintas necessárias sejam e pinte a minha cara com a sua mesma face e desenhe-me nas dobras da sua.
Seremos outra vez um só como nunca deixamos de ser.
Olhe para esta música... é o meu canto de sereia enviuvada nos rochedos – psique sem eros, a cantar uma única nota: o seu nome.
Esta candura, esta paz ameaçada nos amarra em tormentas que já não carecemos gozar. Gozemos os nossos tormentos de desejo um do outro. Gozemos os nossos lábios colados. Gozemos a escura face do inferno quente dos amores rendidos a si mesmos.
Pare, homem. Pare de buscar no mundo aquilo que está nos meus olhos verdes – floresta maga – que esperam o instante de repousar nos seus.
Esta pausa... por que esta pausa se o tempo da música passa?

Não há nada além deste muro. Este muro nos encerra um no outro. E nada sobrevive depois dele. Não atinou ainda que nossas penas se acabam em nós?
Que nosso andar falsiforme se esgota e acaba no momento de termos só um corpo e duas pernas bastarão para ele – uma minha e a outra sua?