quarta-feira, 9 de setembro de 2009

Sou um homem feliz. E você?

No ano passado, eu estava em Jaipur, na Índia e fui ver uma loja que vende deidades e instrumentos para poojas, sadhanas e outras coisas – belíssima loja aliás, com belíssimas obras de arte hindu – e fui muito bem atendido por um jovem vendedor. Comprei coisas – aliás, gastei um bom dinheiro – e como sói acontecer comigo, quando sou bem atendido numa loja, gosto de ser mais atencioso ainda com o ou os vendedores. Notei que no fundo, no canto direito do térreo da loja, estava sempre um senhor muito alto, magro, cabelos bem brancos, típico indiano, às vezes de pé e outras sentado.

Voltei no dia seguinte e no terceiro também quando, além de gastar mais, ganhei diversos presentes do jovem vendedor que veio junto com o senhor indiano do canto da loja. O senhor me olhou com olhar manso e interessado e me perguntou de chofre:
- O Senhor é um homem feliz, não é?
Entre o susto do inusitado da pergunta e o prazer que ela me deu eu respondi, sim, o sou! Sou um homem feliz. Não tenho emprego e, por conseguinte, não tenho patrão, não tenho chefes. Não tenho horários a cumprir e não tenho mulher para me torrar o saco. Ele estranhou um pouco e eu nunca soube
se ele estranhou o fato de eu não ter mulher ou de que as mulheres torram o saco, porque, na Índia, as mulheres não torram o saco!
O jovem vendedor, recém-casado e esperando a primeira filha me perguntou se eu queria ser padrinho dele – na Índia as pessoas escolhem seu padrinhos, os quais chamam de father. Aceitei com prazer e orgulho. Eles tinham me permitido uma experiência magnífica! Até o hoje o meu filho hindu me escreve e me manda fotos da minha neta, filha dele.
Sim, amigos, sou um homem feliz!
Apesar de a felicidade nos proporcionar a mais fecunda experiência de egoísmo, egocentrismo e egopacificação, ainda me choco com os que não vivenciam a felicidade.
Chocam-me, por exemplo, pessoas que têm um emprego qualquer no serviço público, com chefes ordenando o que deve e o que não pode ser feito, segundo as vontades deles. Pessoas que reservam 8 horas do seu dia pensando como agradar ao chefe para que não sejam movidos do carguinho que alcançaram. Pessoas que reservam 40 horas de cada semana para receber um salário no fim do mês e ter ainda que entregá-lo à mulher porque ela quer comprar o apartamento e necessário é economizar. (sinto sempre aí um certo senso de garantia do futuro dela e das crias, porque o idiota pode morrer num enfarto qualquer, mas ela tem guardadas as garantias de casa e comida e pensão. Daí, claro, pode arranjar um carinha bem mais novo que lhe dará sexo e prazer com o dinheiro do falecido. Mas isto pode ser só maldade minha...).
Sinto penas dos homens que entregam seus falos à bruxas castradoras ou à mães castradoras. Homens sem falo só podem ter mesmo um destino: sustentar o varão que virá ocupar o lugar deles quando forem desta pra melhor. Mulher gosta de varão, ao contrário do que dizem, quando afirmam que elas gostam é da carteira de dinheiro.
Mulheres têm 3 fases claras. Na fase de donzela, elas cultivam o gosto pelas carteiras dos maridos. Na fase mulher adulta, elas adoram gastar o dinheiro que fizeram com os maridos, mas não dispensam uma boa vida sexual, de preferência com varões. Viris como deveriam ser todos os homens.
E não pensem, com isto, que eu as estou criticando. De forma alguma. Elas estão certíssimas. Elas não castram. Os seus homens oferecem os seus falos a elas em sacrifício. Então, que mal há em usar a oferenda que receberam?
Há, ainda, os homens que oferecem o falo à mãe. Falam grosso e empostado diante de 3 ou 4 fêmeas descerebradas, mal amadas e mal comidas (aliás, tá uma falta de machos no mundo!), escolhidas a dedo para não raciocinarem e, diante da mãe, miam como crianças.
Triste é o macho que depende da providência materna! Muito triste! Machos que até a internet que usam para praticar a imoralidade – na calada da noite, na surdina de um quarto que protege um computador bem amoitado – é paga pela mãe.
Às vezes, mãe é mesmo um mal necessário.
Eu sou, de verdade, um homem feliz. Faço o meu provimento. Exerço total autonomia sobre o meu tempo. Plantei uma árvore. Criei um filho e escrevi um livro. Já estou pronto? Que nada! Tenho ainda muita coisa para transgredir.
Eu nasci Elder porque o sou naturalmente desde que a divindade resolveu, mais uma vez. ver o mundo com olhos.
Não careci de inventar uma igreja, saída da minha mitomania, para obter reconhecimento. Eu nasci Elder, senhores! Não venham me bater por causa disto. Vão reclamar com as suas divindades e perguntar a elas porque fizeram de vocês simples joões-das-couves.
Pensando bem, só os grandes são alvos de tentativa de apedrejamento. Oras, fiquei feliz em saber disto! Ninguém se preocupa com o joão-das-couves.
Os notáveis sim, esses o mundo admira ou apedreja. Os iguais admiram. Os anões apedrejam. (e o Ângelo Gaiarsa já tratou disso muito bem no seu memorável Tratado Geral da Fofoca).
Se os anões estão se esforçando tanto para se fazerem notados é porque reconhecem em mim o Grande. O Maior que eles.
Crianças! Anões! Pequenos! aproximem-se de mim. Eu pratico o princípio budista da equanimidade (da minha maneira, claro!) e posso ajudá-los a crescer e crescer, aqui, não significa ser moral, ser humilde, ser da luz, alimentar o lobo branco e tantas outras bobagens puritanas e dualistas e sim, puramente, ser feliz, embora eu pratique, também, o princípio do Al Vel Legis – “pisai no pescoço dos fracos”, o que me faz completo e em toda plenitude.
Sou um homem livre que segue os próprios pensamentos. Exercito a minha liberdade conforme aquilo que EU entendo como liberdade porque não carrego nada que seja escondido. Não cedo o meu poder pessoal a não ser para aqueles que eu determino. Pratico o meu prazer. O dinheiro se me dá a mim, muitas vezes mais do que eu necessito para a simples sobrevivência. Tenho infinidades de amigos – pessoas que me amam verdadeiramente – e gostam de mim porque sentem que dou a eles o que esperam de mim. Tenho um filho do qual muito e virilmente me orgulho: capaz, independente, provedor, bonito, bem casado, pai de minha neta que de tão amada se chama Amanda. Uma ex-mulher de brilho, carreira, personalidade e independência próprios... preciso mais? Sim, claro que preciso e quero mais. E estou aqui para receber o mais que vem a cada instante.
Celebro os deuses? Sim, celebro os deuses que eu sou e no meu altar pessoal de crenças e celebrações, a minha imagem está ao lado de todos eles. Do mesmo tamanho e quando eles me aborrecem, a minha imagem passa a ser maior que a deles. Quando eu os aborreço, trato logo de fazer um acordo de toma-lá-dá-cá. Nós nos divertimos muito com os nossos acordos.
Temo os deuses? Jamais. Jamais posso temer a mim mesmo!

Brasília, DF, 11/09/2009

3 comentários:

  1. Sou uma mulher feliz.
    Vários me chamam insensível.
    Outros dizem que meu coração é pedra.
    Há ainda aqueles que falam sobre como tomo decisões para fazer o que quero e não meço as consequências.

    Ninguém que disse nada acima conseguiu compreender um ínfimo do que sou.

    - Sou feliz e sensível. Mas desprezo a manipulação emocional. E sempre desprezei, mesmo quando me rendi a ela... (é, o meu passado também me condena)
    - Meu coração não é de pedra. Mas abomina a covardia e a vitimização. E para esses comportamentos seu olhar é o da medusa.
    - Eu me importo plenamente com as consequências de meus atos! Exatamente por isso, escolho as consequências que desejo para minha vida, em vez de me render às regras sociais que acham que podem ditar o que eu devo ou não fazer...

    Sou feliz também.
    Sou mais feliz sempre que me rendo a mim mesma... E A MAIS NINGUÉM.
    beijocas. Adorei o texto.

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  2. Este seu cantinho é maravilhoso!
    Parabéns pelos textos,simplesmente fascinante! ...
    Clau

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