terça-feira, 29 de setembro de 2009

Você e eu...

Não procure ver dois punhais verdes nos meus olhos.
Não procure este mar verde com longas ondas que são os meus olhos.
Não procure nada em mim. Eu não estou neles. Eu estou em outra parte, maldita parte onde ando, maldito mar de areia castanha que se oculta de mim, dos meus pedidos, dos meus acenos.

Não procure em mim o que está nos seus olhos! Procure antes nos seus. Procure antes nos seus olhos castanhos. Você me encontrará dentro das sombras deles. Estas mesmas profundezas que você não quer perceber e não presume sentir.
Por que tanta vontade de estar longe de si? Por que tanta ameaça o mantém em tanto alargada distância?

Deite-se nas notas das músicas e tente alcançar o som mais puro, o mais grave e solte os ouvidos da sua alma aos chamados meus! Você sabe o quanto são música para os ouvidos seus os meus chamados.
Não se amarre nos moirões deste arame farpas que rodeia os seus temores.
Está temendo o quê? O nosso encantado amor de poetas carne dentro da noite?
Do nosso beijo da nossa única boca separada em dois homens?
Levante esta clava e derrote a nossa falta de nós mesmos. Arme as suas mãos com tantas tintas necessárias sejam e pinte a minha cara com a sua mesma face e desenhe-me nas dobras da sua.
Seremos outra vez um só como nunca deixamos de ser.
Olhe para esta música... é o meu canto de sereia enviuvada nos rochedos – psique sem eros, a cantar uma única nota: o seu nome.
Esta candura, esta paz ameaçada nos amarra em tormentas que já não carecemos gozar. Gozemos os nossos tormentos de desejo um do outro. Gozemos os nossos lábios colados. Gozemos a escura face do inferno quente dos amores rendidos a si mesmos.
Pare, homem. Pare de buscar no mundo aquilo que está nos meus olhos verdes – floresta maga – que esperam o instante de repousar nos seus.
Esta pausa... por que esta pausa se o tempo da música passa?

Não há nada além deste muro. Este muro nos encerra um no outro. E nada sobrevive depois dele. Não atinou ainda que nossas penas se acabam em nós?
Que nosso andar falsiforme se esgota e acaba no momento de termos só um corpo e duas pernas bastarão para ele – uma minha e a outra sua?

3 comentários:

  1. Simplesmente LINDO G.

    Será que você escreveu isso para alguém de quem já ouvi falar? Pouco importa, o que importa é a beleza das palavras ditas, e da emoção sentida... simplesmente lindo!

    Marcos

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  2. Eu, se fosse ele, acho que não resistiria...

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  3. Gê, li e reli, parei, respirei fundo e estou certa de que esta declaração de amor é uma das coisas mais lindas que li nos últimos tempos.
    Gosto demais quando você escreve com o coração.
    Beijo.

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