segunda-feira, 23 de novembro de 2009

Amiga da Onça


Ser amigo ou ter um amigo são coisas que se parecem a mesma coisa. Não, não são! São muito diferentes.
Ser amigo de alguém é decisão que depende de mim. É matéria de ordem interna.
Mas TER um amigo é matéria exterior a mim. É matéria que não depende de mim. Depende do outro. É preciso que o outro veja em mim o alvo receptor da amizade dele.
Depois que o outro vislumbra em mim esse alvo eventual, necessário se faz que eu seja, de verdade, o alvo.
Essa atitude, essa ação em direção a mim seduz a minha vontade de ser cada vez mais alvo. Eu me torno desejoso de ser o objeto onde vai se depositar aquela ação, aquela afeição, aquele respeito.
E man-ter um amigo tem que ser uma atitude ativa após a primeira seta do atirador no eu/alvo. Se eu for passivo para aquela energia, eu não a alimento. Eu não me dou como alimento a essa energia. Eu não a procedo. Eu não a estimulo. Eu não man-tenho mais o amigo. Posso continuar sendo o amigo, mas não mais o tendo, às vezes.
E estimular uma amizade em minha direção não basta que eu seja só amigo dessa pessoa. É preciso que eu permita que o outro encontre a si mesmo em mim e vice-versa.
Eu tenho uma amiga. Tenho muitos e muitas (aliás, parabenizo-me porque, com isso, posso presumir que sou bom alvo), mas essa, em especial, eu quero falar.
Hoje me ocorreu, ao ouvir pela rua alguém dizer “ela é muito amiga... da onça, isso sim!" o que seria ser amigo-da-onça?
Eu entendi. Eu tenho uma amiga-da-onça, não é, Aniúshka?
É, verdadeiramente, a amiga da onça.
A Ana Rossi é amiga-da-onça! E só um ser superior à onça pode ser amigo da onça.
Eu sou onça. Eu sou feroz. Eu mordo, eu estraçalho. Eu devoro. Eu machuco, eu firo... exatamente como uma onça ameaçada e, mesmo assim, eu tenho a Ana.
Fiel, solidária, respeitosa. Sem arroubos de sentimentalidade, mas firme e coesa. Sem abundância de abraços e toques, mas de uma solidez inquebrantável. Olhar calmo, embora incisivo. De estocadas com cotonete, sempre certeiras. De doçuras sutis e perpetuidade de mãos estendidas.
E muitos outros TÊM a amiga Ana. Sabem disso tudo e é quando se descobrem seduzidos por aquela vontade de serem amigos dela, com ganas imensas de se tornarem cada vez mais alvos melhor capacitados.
A Ana conhece a minha natureza de onça. Ela jamais me questionou. Jamais me impôs. Jamais se interpôs. Às vezes, uma domesticação sutil... e eu/onça sempre acabo me tornando agradecido por ser respeitado como onça que sou, no mesmo instante que posso aprender a ser a onça que não fere tanto. Onça domesticada.
Para continuar tendo a Ana, me encanta a vontade de ser onça amorosa. Onça mansa. Me seduz a possibilidade de, cada vez mais, recolher as minhas unhas para não arranhá-la e ganhar mais proximidade da Ana.

Um dia a Ana me disse, sim, Onça. Você pode sempre mostrar toda a onça que você é. Mas pode ser em doses homeopáticas?

Não dá vontade, desejo, aspiração de continuar TENDO a amiga Ana?

Beijo no seu nariz, Aniúshka!

3 comentários:

  1. Será que vão entender? Acho que não... eu tento ser amigo-da-onça... hahahahahaha

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  2. Vc não só tenta como consegue ser amigo-da-onça!
    beijos

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  3. Gê, eu só vou conseguir dizer uma coisinha, porque estou engasgada aqui, me segurando pra não desmanchar feito manteiga derretida.
    É o seguinte, Senhor Onça, quando um coração fala com outro coração, quando uma alma fala com outra alma, não tem nada que assuste. Nem as suas garras nem as minhas. E você sabe que tem um pedaço enorme de mim que é feito de você, não sabe?
    Então deixe de conversa e pega logo esse avião que eu tô te esperando!
    Tiailóviul.
    Oncinha.

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