domingo, 8 de novembro de 2009

Matei e pronto!

Acabei de cometer orkutcídio e facebookcídio!
Gostava da modernidade do Orkut. É fácil falar com o outro lado do mundo, com a pessoa que você deseja. E com custo zero.
Era bom, também, essa coisa de me expor ao mundo. Publicar o meu currículo, minhas fotos, meus gostos... essa coisa de ser celebridade no mundo desconhecido. Ser celebridade no escuro.
Qualquer arroto meu passava, instantaneamente, a ser motivo de publicação e, claro, da admiração do mundo todo. Ohhh!, pensava eu que todas as pessoas faziam quando passavam a conhecer o meu último arroto.
Até as comidas que eu gosto... até isto eu podia mostrar ao mundo.
Sentava-me à frente do micro e me incumbia do piedoso dever de colaborar com a humanidade, mostrando as minhas especificidades.
Até o meu modo de amar os bichos eu podia comentar para aconselhar.
Um dia, um ser surgiu de não sei onde e começou a me dizer, via email (eu me pergunto, por que não imeio?! – brasileiros se deleitam com palavras estrangeiras... eles acreditam piamente que passam a morar em Nova York e, claro, dominadores do american way of life, depois que passam a falar ou grafar palavras americanas – sim, porque brasileiros não sabem muito bem que o inglês não é uma língua nascida nos Estados Unidos!) que os meus amigos mais modernos estavam me convidando para uma coisa que se chamava facebook – (eu fiquei me perguntando se isto tinha alguma coisa a ver com aquela brasilianice de pensar que “eu livro a minha cara” é “I book my face”, em inglês)
Fiquei com medo dessa coisa. Eu tenho muito medo dessas coisas que vivem ou saem de dentro dessas coisas que têm botão e fio.
Mas, fazer o quê? é preciso ser moderno. Fui lá. Abri aquela conexão (ô brasileiros, link é conexão, ligamento, vínculo, tá?) e, claro, uma coisa se abriu, cheia de informações e etiquetas (tags, tá?) e imagens e quadradinhos retangulares (boxes, para os que não sabem entender o português). Aquelas coisas que nunca se sabe ao certo aonde vão e, principalmente, onde vão acabar, porque cada uma que você clica (ufa, consegui uma já aportuguesada), abre-se em mais 6, que se abrem em progressões geométricas, até o fim das eternidades.
Um desses quadradinhos começou a me fazer as mesmas perguntas de sempre: quem sou eu, o que gosto, que tipo de música, comidas, sexo... irra!!!
Respondi a todas com uma preguiça irritada que me acontece sempre quando me perguntam coisas e me dão só duas ou três opções de resposta! Eu nunca posso dar a minha resposta. Tem que ser uma das que eles me permitem!
Terminada aquela sessão de chatura, eis que descubro, atônito, que tudo o que eu tinha feito era preencher um cadastro para um sítio (site... porra, que saco ter que ficar traduzindo para o português essas palavras que os brasileiros adoram usar) de relacionamentos!!
Minha Deusa-macho-e-fêmea! Uma agência de matrimônios dentro do meu computador que fica dentro do meu escritório, dentro da minha casa! Socorro!!
Mas era isso mesmo. E eu que nem quero mais casar, nem namorar, estava dentro de uma agência de matrimônios e... e? que para eles escolherem o par perfeito para mim – segundo eles, utilizando moderníssimos testes de personalidade – eu teria que desembolsar uma módica quantia de setenta e poucos reais por mês até aparecer aquele!!!
Eu me pergunto ainda: onde foi que eu comecei a informar às pessoas que eu sou idiota? Onde foi que eu publiquei isso? Ou será que seriam eles os idiotas que pensam que eu sou mais idiota, capaz de acreditar neles? (Óbvio que há milhares de idiotas que acreditam, mas poxa, será que eu, em algum momento, passei a fazer parte dessa categoria e ainda não me informei disso?)
Pois bem. Fechei o tal do site (hmmmm, agradei, agora, né?) e fui, praguejando a minha óbvia incapacidade de conviver com essas coisas que moram dentro das coisas que têm botões e fios e, voltei ao tal do Facebook.
De novo! Os mesmos cadastros? Não. Não pode ser. Recuso-me.
Pulo para a página principal daquilo e vejo muitas fotinhas, de muitas pessoas e o que me pareceu foi um monte de doidinhos mansos falando coisas para o nada: nem para si, nem para ninguém.
Doidinhos falando coisas como hoje acordei e vi o passarinho. Outros, um pouco mais doidinhos, falando Nietzsche, o príncipe dos poetas italianos incompreendidos, disse que é a cultura indiana já disse tudo, desde sempre, embora a ciência leve muito tempo para comprovar...
Embaixo das fotos desses doidinhos, outro doidinhos falando que o buraco na camada de ozônio da atmosfera foi explicada pela última pesquisa britânica como produzido pelo excesso de peidos das cabras da Nova Zelândia...
Eu fico aqui, a balançar a minha cabeça, para cima e para baixo... muitas vezes.
Ninguém falou nada e ninguém refutou nada. Ninguém argumentou nada. Ninguém confirmou nada e ninguém entendeu nada. E aquela fila de fotinhas de doidinhos, uma em cima da outra, a subir. Um edifício cheio de janelinhas com as efígies dos doidinhos. Uma babel sem objetivo.
Enquanto isso, lá dentro de mim, um doidinho me cutucando: cê tem que terminar de preencher o seu cadastro. Você ainda não disse quem é e o que gosta.
Sabe de uma coisa? Eu gosto é muito pouco dessa coisa toda.
Dessa fugacidade instituída pelo pensamento pragmático americano. Da coisa vadia, fugidia, minimalista, rasa e que os brasileiros tanto se encantam e devotam profundo culto. (Profundo? E brasileiro que almeja Miami pode ser profundo?).
Matei! Matei os dois e não limpei o sangue das minhas mãos em um pano de prato.
Prendam-me. Almejo as algemas que me prenderão a um debate, a um aprofundamento, a um mergulho na frase do idiota que falou qualquer bobagem sobre o passarinho... sim, sobre o passarinho e Shreber (esse ousou pensar profundo, lá na lama fundamental mesmo. E acabou confinado num hospício.)
Confinem-me nos meus pensamentos. Ainda assim eu me preferirei aos orkuts e facebooks.

2 comentários:

  1. Oi Gê,
    É chato, concordo, preencher cadastros e mais cadastros infindáveis...
    Mas, se a ansiedade da espera de resposta àquela carta, ocorre hoje em apenas fração de segundos, ou se àquela ligação que esperávamos por 8 horas, hoje ocorre no mesmo instante, talvez, apenas talvez, seja o momento de apenas mais uma adaptação.
    É claro que não é necessário um sacrifício ou uma tortura a sua alma, para permanecer nestes sites de relacionamento. Voce pode, se quiser, permanecer no orkut, sem preencher nada além do seu nome... voce pode "visitar" as páginas frias de seus amigos e deixar-lhes recados, sem ter que ler as banalidades deixadas em seus perfis...
    Mas, apenas se quiser...
    Hoje, quase não vemos as pessoas, e digo isto muito tristemente...
    A falta de tempo e às vezes até mesmo a falta de paciencia faz com que nossos contatos com pessoas queridas sejam feitos apenas atraves dos frios blogs, orkuts, e-mails e telefone... Apesar de esta não ser a melhor forma de comunicação, muito menos a mais calorosa e íntima, é o que nos tem sobrado...
    Então acho que para não nos distanciarmos demais de nossos, talvez, apenas talvez valha a pena nos adaptar.

    É o que eu acho...
    Mas não tenho muita certeza não...

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  2. Bem, eu também matei meu orkut, não pelas mesmas razões do Gê, mas pelas minhas próprias... descobri esses dias que sem celular eu não vivo tão bem assim, mas, fazer o que? Me apeguei ao bixinho, de qualquer forma continuo sendo eu, quero ver meus amigos, ligo, e vou lá vê-los, tem coisa melhor que abraço e beijo????

    Ai ai ai ai Gê, tô começando a ficar entediado com a humanidade... vamos nos mudar pra Marte?

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