segunda-feira, 11 de janeiro de 2010

Bichinhas cults

Bichinha já é uma coisa naturalmente chata. Todas têm nariz de quem sentiu “cheirinho de fedorzinho”, bundinha apertadinha, biquinho na boca e olhar de quem está procurando alguma coisa acima de todas as coisas.
Quando se propõem a ser cults (não poderiam ser cultas? Tinha que ser em outra língua?) ficam mais aborrecíveis ainda.
São super identificáveis porque apresentam conduta padrão e uniforme comum.

  • Em geral falam mais uma língua além da natal, mesmo que sejam completamente semialfabetizadas na sua própria língua. Adoram incluir estrangeirismos na fala corrente.
  • Sempre estão vestidas de preto ou preto e branco.
  • Em geral são malhadas e algumas vezes até marombadas.
  • Freqüentam academia onde exibem os corpinhos com shortinhos e camisetinhas coladas. (Algumas arriscam um brilho na camiseta de malhar). Em Brasília, elas se reúnem e malham na Runway do Sudoeste. Impávidas!
  • À noite, sempre usam camisetinhas apertadinhas com estampas brilhantes. As mais ricas com pailletés ou metal sintético e as mais pobrezinhas, glitter mesmo. O que não pode é não ter brilho.
  • Freqüentam assiduamente a Livraria Cultura, onde se sentam, sempre aos pares e lêem as figuras dos livros. Comprar, ler e compreender qualquer coisa em qualquer livro não faz parte do manual das bichinhas cults. O Importante é que as outras bichinhas, em pares, vejam as outras bichinhas. Em pares também!
  • Assistem aos espetáculos dos Irmãos Guimarães e ao final da peça, batem palminhas com as mãos e os pezinhos no chão, mesmo que não tenham entendido nada do que tenha sido apresentado e muito menos o que tenha sido apresentado. O importante é estar lá, de corpo presente, com mãos e pés prontos para se agitarem quando o pano fechar. (quando o pano não se fecha, por alguma razão estética ou conceitual, as bichinhas ficam esperando a projeção do The End ou então, a primeira bichinha a bater palma. Do contrário, não sabem o que fazer. Entram em conflito.)
  • Recitam de cor e salteado todos os filmes da temporada e falam dos intérpretes como velhos amigos que foram desde criancinhas lá em Unaí. Sempre emitem um comentário sobre o filme, à guisa de crítica, porque, claro, todas se julgam especialistas na sétima arte, embora não tenham podido conceber a mais pequena idéia do que o filme assistido tenha proposto ou mostrado. O importante é parecer familiarizado com o assunto, com o diretor, com os atores e com todo o mundo mais que a bichinha idealize como mundo seu.
  • Amam e idolatram e imitam e juram ser as pops do mercado fonográfico, madonnas, beyoncés, mariahs e shakiras. Sabem todas as músicas e as indefectíveis coreografias que acompanham as músicas e dançam, em casa, diante do espelho da sala, perfeitamente convencidas.
  • Usam a expressão “é uó!” como usam saliva... é estonteante ver como 3 vogais podem significar tudo na vida de uma pessoa!
  • Algumas esnobam cultura diferenciada. Falam das incorreções dos ditados populares, da matança de bichos pelo aí afora (que pena que não matem bichas também!), de artes gráficas, de ópera, de música antiga e do piano da vizinha. (em raríssimas e esparsas exceções, se você apertar um pouquinho mais, elas são capazes de afirmar, sobre o salto e sem tremer os cílios postiços que Cem anos de Solidão é a obra prima de Bottero e que Hilda Hilst (hã? quem mesmo, heim?) deve ser uma das participantes do Big Brother Brasil... ahhh, desse então, elas sabem tudo!

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