quarta-feira, 27 de janeiro de 2010

Mordacidade

Estive lendo meus textos aqui – sempre o faço para reviver o sentimento vivido no momento de escrever e tentando imaginar o que um leitor possa sentir, ao lê-los.

Comecei a ser tomado por um certo desconforto com eles. Há uma carência crônica de fatos ou coisas elogiadas ou bem-faladas. Sempre um deboche mordaz sobre tudo, sobre as bichinhas, sobre as filosofias, sobre os velhos, sobre o preconceito... ah, era preciso ter coisas bonitas, construtivas (ai, que horror, que coisinha inútil isso de chamar uma coisa de construtiva!)... coisas que inspirassem vontade de continuar a esse ou essa leitora. Coisas do bem! (Nossa Senhora dos Céus do Ocaso! Como consigo ser tão incapaz de ser falso! Eu juro que eu tento, mas é difícil, entendem?)

A minha índole é fortemente para a crítica mordaz. Efetiva. Punhal no centro da ferida.

Mas, para não perder leitores ou para não causar neles uma revolta que os afaste de mim, pensei, mesmo, em procurar alguma coisa, um tema, um fato que fosse elogiável ou que me provocasse uma alegria juvenil contagiante...

Encontrei alguns. Amigos. Amizades daquelas que se pode ser tudo e de todo jeito que não se acabam, nem se abalam. Respeito – ainda há, acreditem! Não o respeito armado, o respeito falso, mas o respeito à natureza daquele que se respeita. Respeito ao limite e à falta de limite também. Fé. Fés ortodoxas ou nada ortodoxas. Cultos. O religare verdadeiro sem ser religioso. Bruxaria verdadeira! Muita coisa a ser comentada e valorada. Sim, eu poderia fazê-lo porque não me custa. Mas a pergunta não cala: é necessário?

Valorar e valorizar são coisas diferentes. Entendo a primeira como reconhecer o valor e a segunda como atribuir valor.

Ora, se uma coisa tem valor e eu o reconheço não queda necessário atribuir valor a ela. Queda incoerente. Ela já tem valor, é intrínseco. Não devo e não posso acrescentar ou diminuir qualquer parcela a mais de valor porque esse valor atribuído é, naturalmente, extrínseco. É a minha parcela sobre a coisa. Pertence a mim e aos meus princípios. É apenas atribuição.

Pergunto a mim e a quem possa responder: é necessário ficar reconhecendo e propalando valores, a guisa de reforçamento da psicologia comportamental? Na crença simplista de que se eu reforçar, o valor tende a se manter como um comportamento condicionado e resistente à extinção?

Respondo para mim e refute-me quem puder: ora, se um valor necessita de reforçamento, ele, em si, não é valor. Não passa de atribuição externa.

Logo, concluo que se há valor, ele independe de qualquer reconhecimento que eu faça dele ou deixe de fazê-lo. Ele é! E pronto. Decorre disso que não é necessário ficar fazendo apologia dos valores. Eles existirão completamente imunes a qualquer referência que se faça sobre eles. Logo, dispensam a minha boa vontade!

O que resta, então, Senhores?

Resta expor o que não tem valor em si mesmo e foi valorizado com o tempo, com o sistema, com a cultura. Isso merece o nosso tempo. Expor para que sejam vistos e, de preferência, linchados nas praças de cada espírito, de cada ser e, por conseguinte, excluídos vez por todas.

Sento-me agora, à frente do meu teclado e me sinto mais à vontade para continuar batendo. É da minha natureza. Não posso pedir a mim que vá contra ela.

Eia! Avante, então!

5 comentários:

  1. Hehehehehe... mais uma pérola de Gê... então, não vou aplaudir, pois não preciso valorizar o que já o é valoroso per si. Também não vou apedrejar, pois, afinal de contas, concordo (apesar de amar uma massagem no ego!)

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  2. Vc é o Phenix? Não me mate de curiosidade, por favor! risos

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  3. e que o fogo do espírito desça e limpe tudo!

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  4. Sobre valorar e valorizar... eu sempre entendi, contrariamente a voce, que valorar seria atribuir o valor por meio de comparações, ou seja, ver algo cujo o valor não é claro e, buscar similares para dar-lhe algum valor tangível; e que valorizar seria aumentar o valor que determinado item/fato/pessoa tem...

    Eu concordo que voce não deva ser contrário a sua natureza. Mas, valorizar as coisas legais que acontecem não seria seguir contra sua natureza crítica e mordaz... seria apenas mudar o foco.

    Ok, sei que a maioria das pessoas acha piegas comentar o "bem" como o fato de um adolescente dar seu lugar ao tão "incompreendido" velhinho... Isto ocorre, por que as pessoas pré supõem que o bem é obrigatório, ceder o lugar é obrigatório.

    Observar e comentar um bom amigo, um bom blog, uma boa bruxaria, e talvez até uma boa bichinha, não seria tão legal, quanto criticar os não-corretos...

    Mas isso também não é desvalorizar o bem e o correto?

    Nosso discurso diz que o bem não é estado constante do homem, para justificar que o mal faz parte de nosso cotidiano... mas quando não notamos o bem, talvez estejamos dizendo que o mal é o estado constante do homem???

    Não sei... acho que há que se valorizar o bom amigo, comentando sobre ele, e há que valorar a impertinência... mas, em equilíbrio...

    Ainda re-penso...

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  5. Receba flores véia querida, in vino veritas!
    bjs muita Arte, muito som!

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