sexta-feira, 9 de julho de 2010

Eu Don Quixote e meu coração Sancho Pança


Quando a lua me chama, eu me lanço, lança! Eu me entrego, amolecido, a ela. Sangues nas veias, correndo céleres, acelerados, volteantes, massivos em direção a ele, o meu coração....

Sempre houve um espaço, um reduto onde eu guardo você como o meu mais proeminente coração. Aquele vivo, ardente e que se entrega a mim, os seus favores de me animar, me dar a vida, me fazer sentir que vale a pena estar aqui e esperar que tudo se faça conforme eu mesmo peço e aguardo

Meus sangues alimentam você para que a morte deles não se faça sem a sua morte e a sua vida não se faça sem os meus sangues

Volteio sempre sobre mim mesmo e a cada volta eu me pergunto onde eu estaria e onde é esse lugar de paz e medo que me encontro e me perco.

Sou assim. Amiúde eu me costuro e me construo. Pedra sobre pedra e alguns tijolos que se rompem. Sim, rompem deixando abertos e incompletos em mim, nas minhas paredes. que eu tento, a custo de tudo, preencher... mesmo que com somente as lembranças e esperanças de que um dia a coisa seja diferente: que você, meu coração e eu tenhamos um só corpo e uma só alma...

Mas o que digo eu se o hoje mostra que não, que não é assim? Que as juras, seus anseios, seus arrepios em mim não contam na hora fatal de armar... e você sempre me desarma?

Tenho tantas palavras guardadas para dizer e temo que jamais sejam ditas, por todos e nenhum motivos. Medo que se grudem aqui dentro, como sempre se grudaram nas minhas paredes, nos abertos dos tijolos... Dói. Dói e não é porque eu seja um romântico, uma heroína encantada. Sim, eu sou mesmo uma heroína encantada e sonho, sim, ser a princesa do príncipe do cavalo branco ou o príncipe da princesa desprotegida

Ah! Eu sou assim! e não me venham aqueles, os que sabem tudo e estão tão apaziguados sempre, tão cheios das certezas, tão repletos das verdades inabaladas... que fiquem nisso que são, apenas um baú de verdades. Eu não! Eu sou incontinência! Eu sou caudaloso na emoção, sangue vermelho espirrando das veias num anseio febril de amor, de paixão, de corpos em frêmitos, de descomposturas, de força gigante de sexo, de entranhas, de vísceras amalgamadas umas nas outras. Eu sou assim. Somos assim! e não sei e não sabemos como ser de outro tom, de outra forma. E juro, ainda que me custem os dias todos dessa existência, haverá alguém que me queira de mim você que é minhas vísceras aquecidas por tanta paixão. Creio! Eu creio como uma criança que crê e se assusta e se anima e anseia pelo papai Noel no dia véspera do natal!

Meu corpo é a toada das cordas do bolero que você é. Sou as cores todas das paletas dos pintores atiçados. As cores fortes, as finas, as doces e, principalmente as sutis porque, me entendam, prestem atenção em mim, na minha fala; sutis porque já andei em todas. Já me desbaratei esbanjado em cada uma delas e em cada uma delas fiz o meu amor comigo e com você, meu coração! Por isso eu sei a sutileza e o rústico de cada uma.

Ah! Lua! Por que não me emprestas essa tua lonjura? Por que me arroubas em êxtase, deslumbramento de pensar que ele, o meu coração, não vive, não sonha, não se completa sem mim?

Por que me fazes vítima dos teus sortilégios de amor e de vertigem?

Algo meu mora com você, coração. Algo muito. Algo grande, alargado, agigantado. Algo que me pertence, que não mais habita em mim e está em você, mas com uma ânsia golfante de habitar junto, co-habitar em nós dois. Por isso tanto te busco. Tanto me aproximo e tanto me perco.


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