segunda-feira, 12 de outubro de 2009

Um amor que não volta...

Tenho tantas saudades de mim. Coisas que andam soltas no meio das outras e que não presumo união entre elas.
Tenho contas a pagar. Tenho muitas que se perderam no tempo e que não sei mais o resgate possível delas.
Tenho dívidas para comigo. O onde me perdi e não encontrei o caminho da ida.
Fui aonde não devia, te procurei tanto e nunca mais te vi. Fui, sim, fui pouco talvez.
Deveria eu ter traçado ou tentado caminhos diferentes?
Não sei, não me cobres coisas. Não sei se posso pagá-las.
Anda, passa um pouco da tua mão na minha cabeça. Faz-me um carinho. Pequeno que seja, mas que me dê vida e assombre os meus olhos. Causa em mim um espanto. Não fiques mudo. Não me deixes tão mais mudo.
Mostra-me as tuas mãos. Mostra-me o teu peito, mas não me deixes tão atordoado. Ergue as minhas mãos a uma altura em que eu não possa mais resistir e desce o punhal. Mata-me, mas não me deixes aqui, assim, parado, cansado deste meu olhar cansado.
Anda, por favor, beija a minha boca que há tanto está seca e aberta. Beija-me e arranca a alma que está engolida nela.
Molha-me a língua. Mostra-me que há um céu e que eu posso adentrá-lo, mas não me deixes assim, tonto de tanta alegria e medo.
Fala comigo duas frases... só duas ou três ou não fales nada. Cala-te, mas olha o meu olho e vê nele toda a saudade, toda a tristeza que me tira o sonho de estrelas.
Não esperes mais nada, vai, arranca tua camisa e faz dela um chão pra eu me deitar... ainda há tempo. Por favor, uma única ou última vez e terás salvo um homem.
Salva-me de mim mesmo e salva-te da tua inércia. Desliza tuas mãos nas minhas e vê as veias saltadas de um sangue novo de esperança. Arritmia. Apnéia. Ventos soprados de dentro, ventos há tanto guardados, ventos esgarçados em pedaços, tiras finas, mas grandes de muita esperança...
Só mais uma vez aquele beijo de despedida na porta. Uma só e poderei viajar para o meu mutismo eterno. Prometo-te a calmaria de um grande amor perfeito refeito e deixarei em ti a marca de uma paz nunca antes sentida. A paz dos mortos em paz. A paz da paz. O nada indizível.
Mas não me deixes assim, parado, pregado na cruz de mim mesmo. Na cruz do nunca alcançado. Faz alguma coisa por ti e por mim.
Descansa a tua cabeça na minha. Pesa. Não te importes com o peso de nada porque nada é mais pesado do que a tua falta e eu já a tenho tanto acostumada.
Deixa-me tocar as cordas do violino da tua alma, aquela perdida por ti e por mim. Permite-me alcançá-la e os sons que dele virão serão tão arregimentados pelos deuses, tão embalados em amores que todo o universo vai cantar uma só canção. Eu te farei ouvir e te acalmarás e acalmarás as dores de tantos seres que cantarão, em uníssono, a felicidade de ver e compreender.
Mas vem, toca-me a ferida aberta. Sangra-a. Purga a minha dor. Sangra a tua mesma ferida. Sangra-a e purga-a, mas vem. Não temas.
O tempo nada mais é do que uma ilusão quando se vive. Só é a maldição se não nos amarmos.
Assim me despeço de mim, o antigo que será refeito pelo toque teu. Se não, despeço-me de ti, sem os teus toques, sem os meus sinos e sem as campânulas dos céus. Despeço-me da vida... do sonho. Das dores e das esperanças e continuarei mudo. Inconcluso.

4 comentários:

  1. Apenas aqueles que um dia amaram sabem da dor que tu sentes... infelizmente estamos todos na mesma situação, mas quem sabe possamos, ainda nesta vida, encontrar a felicidade de um amor que retorna... você sabe que toca fundo em minha alma quando escreve sobre esses assuntos...
    Te amo...
    Marcos

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  2. Deusa amada!
    Crava mesmo esse punhal logo, em mim... pq depois de reler isso eu fico querendo até sofrer de amor novamente, pq é lindo. E fica lindo também até o que a dor de amor faz.

    Amas

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  3. Teu texto é de uma dimensão tão concreta do amor que nos arrebata para um lugar sagrado.
    Ai Delícia!!!

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  4. Foi rapido e distante mas por um momentos ouvi o soar dos sinos...psiuuuu...ta ouvindo?

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