Uma pessoa, qualquer que seja, precisa ser vista para ser compreendida. Claro que vista, aqui, significa ser percebida. E para ser compreendida é absolutamente necessário que o vedor se interesse em compreender e muito mais, seja capaz de compreender!
Nem todo aquele que vê e percebe está capacitado ou é capacitado para compreender.
Compreender significa sair do que apenas vê no outro e percebê-lo incluso em um contexto multifacetado onde o outro é agente e paciente – simultaneamente – de si e do universo.
Para que isto ocorra é fundamental que o perceptor esteja, ao mesmo tempo, capacitado de ser agente e paciente de si mesmo e do Universo onde ele ocorre. Só percebendo-se e compreendendo-se que um indivíduo é capaz de compreender as partes e o todo. A parte e o todo que ele é em si e que o outro o é da mesma forma.
Fora disso, é atitude sem préstimo.
Valho-me da hora para evidenciar que, na verdade, quase todos os seres se valem de pressupostos alheios, que julgam serem seus, para enquadrar ou não o outro. Se o outro ficar mais ou menos, que seja, enquadrado na moldura adotada, aprendida pelo perceptor, vai-se logo defini-lo como “compreensível”. Caso contrário, ele será incompreensível não pela substância dele, mas pelo que a sua substância não coube no “envelope de compreensão” daquele que o percebe. Passa para o envelope contrário, aquele dos doidos, dos que devem ser exilados. Dos que são incompreensíveis não porque o são de verdade, mas tão somente porque o perceptor é incapaz de compreender.
Eu sou um homem que pouco, mas muito pouco mesmo se adéqua a essas molduras casuais e ordinárias. Logo, eu sou um homem que é incompreensível e, caso possível, seja enviado à forca ou ao exílio!
(Na verdade, cá pra nós, eu me divirto muito com isso. É onde eu me apercebo visivelmente mais bem aquinhoado do que a plebe e debocho dela!)
Nesse patamar onde estou parado, esperando passar o último integrante da caravana – como aconselha a sabedoria árabe – vejo e percebo uma boa mão de seres tão bem ou mais aquinhoados do que eu e, claro, minha inteligência e a aguda capacidade de me valer dela me permitem aproximar-me e me fazer companheiro e eles companheiros meus.
Entre tantos, eu quero nomear aqui, agora, um desses entes que me fascina por ser tão agudamente diferente de mim, em expressão e tão prementemente igual, em compreensão. A Anamaria Rossi.
Ana é jornalista. Insisto: a Ana é Jornalista! Não é jornalista... essas coisas que terminam faculdades e escrevem “textículos” que repetem e se bastam no que o mais ordinário os mantém, com vistas ao salariozinho do finalzinho do seu mesinho, das suas vidinhas. Ana é Jornalista! Capaz de se desdobrar e se curvar sobre um assunto cada minuto de cada hora das vinte e quatro que um dia tem; em todos os dias que dois anos têm, para fazer uma matéria... que, quando publicada, determinou o começo da derrocada dos políticos corruptos com caras de bons moços...
Para salvar a ética, Ana foi capaz de desconsiderar os perigos que a sua própria vida correu.
Eu muito me admiro dessa heroína escorpiana que honra o seu próprio signo! Maior orgulho do mundo em poder encher a boca, com a minha jactância habitual e dizer: Ana é minha amiga!
A Ana é uma mulher culta. Sabem cultura prática, Senhores? Não aquela das bichinhas que lêem as gravuras dos livros e decoram textos e músicas e hinos religiosos da internet só para vomitá-las à frente das bichinhas que decoraram menos textos?A cultura da Ana – que é vastíssima, -creiam – serve para modificar os mundos por onde a Ana passa. É a cultura parideira de razões para mudanças e conquistas do que é novo ou precisa ser parido!
A Ana viajou o mundo inteiro e cada museuzinho ou museuzão, ou cada muralha das Chinas, ou cada Louvre, ou cada beco do Born, provocou na Ana mais do que a necessidade de fazer fotografias e publicá-las no Orkut dela. A Ana foi provocada e provocou que o novo se figurasse e se transfigurasse no velho e o velho, na juventude do novo e os azuis que precisavam se tornar vermelhos, ficassem tensos, como cordas afiadas do violino, a ponto de se romperem para que a adequada tensão fosse encontrada.
A Ana pariu uma criança e fez dela um adulto independente, adequado, afinado, doce como convém a todo homem de força e coragem... mesmo sem a presença física do pai do rebento. E o mais encantador, Senhores, - aprendam com ela se forem capazes – Ana não exerceu o romântico e cristão papel de “mai” ou “pãe”. Ela foi só mulher e mãe para que se sua cria soubesse, muito bem, separar e compreender as duas identidades!
Ana trabalhou e trabalha como boi de tração. E Ana se diverte tanto, ao mesmo tempo... Dá-se oportunidades de fazer rodar a mó e perceber belas coisas na paisagem que circunda essa mó, preparando essas visões para novas conquistas. E ela vai lá! Acreditem.
Essa grande mulher me compreende no meu mais completo, em todas as minhas sordidezas e minhas virtudes mais divinas – porque eu sou uma e outra coisa simultaneamente (um dia explico isso melhor, para vocês! Calma. Não retirem suas pedras dos seu embornais, ainda.) e sempre foi capaz de me compreender. Capaz não porque eu necessite de grande dose de compreensão, mas porque a Ana dispõe de enormes, avultadas, torrenciais doses de capacidade de compreender!
A Ana foi a mulher que me disse: Gê, sim, a verdade sempre. Mas não pode ser em doses homeopáticas?
E não sou só eu que falo essas coisas, Senhores. Perguntem à Andréa. À Angélica, à Teca... ah!querem saber? Não perguntem nada. Eu tenho, cá, minhas dúvidas se os Senhores estão querendo compreender alguma coisa ou se são, mesmo, capazes para a coisa.
Bons sonos!