domingo, 11 de abril de 2010

Os meninos e meninas da Lua


Ontem, pouco antes de nascer, eu assisti a um espetáculo de teatro infantil – O Menino da Lua...

Soberbo! Perfeito. Nenhum quebra-cabeça para ser resolvido. Nenhuma pretensão de conquistar as crianças pelo debilóide tradicional do teatro infantil comum. Nada em falta. Nada em sobra. Perfeito. Único.

A Senhorita Anais professora de Astronomia. Perfeita, mas como acontece com toda beleza humana, é uma astronomia filosófica! Que encanto! Que puerilidade emocionante poder compreender uma ciência com que ela tem de menos científico! A Técnica e a Razão unidas, em mãos dadas, mimetizadas uma na outra. Perfeito! Mas, mas perfeito ainda, a Senhorita Anais ainda lamenta (?) não ter encontrado o grande amor... não é perfeito por ser tão imperfeito?

O menino vive entre adultos, nem bons, nem maus! Ah! só isso já basta para gente ser feliz!

E eu fiquei emocionadamente feliz de ter ali, naquela platéia, podido me apropriar do menino da Lua que sou e que se tinha permitido ser sufocado!

Poder saber que eu posso, sim, assistir à ópera que eu quiser, a que eu escolher, onde eu escolher, com ou sem cortina de veludo; basta eu ser menino da Lua para isso. E eu fui conquistar, de volta, o meu menino da Lua que eu sou e que está em toda parte, apesar dos adultos que não são bons, nem maus, mas necessitam ferozmente, veementemente, parecerem bons! Não é engraçada essa história de meninos que são meninos e querem comprovar, a custa de seus intestinos, alma e corpo ser adultos e, o pior, adultos bons?

Chorei na platéia, não pelo meu menino da Lua, mas por todos os que só querem assistir óperas nos teatros de ópera, com cortinas de veludo...

Lamentei alguns meninos que eu perdi, ano passado... que não quiseram ir para a Lua. Lamentei por alguns segundos ter perdido o Muni. Mas logo o a Ratazana cantora me disse que eu não o perdi. Ele se perdeu de mim e, nessa perda, perdeu-se de si... que bom que aqui na Lua, a gente vê as coisas como as coisas são: nem boas, nem más! E voltei a ser feliz.

Esse presente de aniversário me foi dado por todos os deuses que eu sou. Obrigado Mirian – astrônoma menina, Kael – lindo e azul, Lelê – macho arretando, Billy Helder – poeta adulto (nem bom, nem ruim), João - queridão dos mais dodóis de todos os deuses) pelos deuses que vocês são!

Vocês foram o corpo de baile e os cantores da ópera que me recebeu no mundo!

Antes ainda, de nascer, e depois da ópera da Lua, fui a uma exposição de arte onde a artista, tecendo poemas bordados com fios do seu próprio cabelo pergunta por que se chamam de daninhas as ervas que não servem para o cultivo lucrativo... Senhores, eu sou erva daninha... menino da Lua erva daninha...! e alguéns, no mesmo paraíso onde Vivo, estão me mostrando que o barato mesmo é ser menino da Lua erva daninha... Sou ou não sou um privilegiado?

Nasci às 19 horas e poucos minutos (não vou falar a hora exata para que os adultos que não são nem bons, nem maus, queiram me seduzir com a sua “luz” e me façam ajustes astrológicos....)

Embalado pela ópera e pelo cenário das plantinhas daninhas, nasci. Estava assistindo à outra ópera, em outro teatro. Neste berçário, os deuses muito sacanas, me mostraram que o mundo não é só o da Lua. Que há também o mundo dos adultos que querem e sofrem e se esforçam para serem bons e só conseguem ser maus!

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