O entendimento sufi afirma que o mestre aparece quando o discípulo está pronto e vice e versa. Isso é de uma beleza tão pueril e tão magnífica que, como toda simplicidade, é rechaçada pelos cultos e detentores das regras e ensinamentos.
O “Mestre” – esse que está sempre acima do corriqueiro, que se considera, portanto, melhor e mais capacitado do que toda a malta humana, impura e incapaz, é a corporificação da falácia dos que são, verdadeiramente, falazes e impuros... os papas, os lamas, os brâmanes, os “bispos”, os santos gurus, os sacerdotes, os todos aqueles que apresentam suas faces com uma doçura corruptiva e uma docilidade adestrada para a cooptação dos que dispensam a sua vontade própria e seu poder de decisão – portanto não responsáveis por suas ações!
O discípulo, no rastro dessas observações, é o eterno incapaz. E candidato a umas sagrações, iniciações – obviamente sob juramentos de fidelidade eterna ao mestre sagrador e suas intenções – e que vai perpetuar a missão de manter eternamente separados os mestres e os discípulos, para que a ordem da hierarquia sobreviva.
É nauseante conhecer jovens moços que se castram e se oferecem de cus e corpos a toda sorte de manipuladores, com a pretensa e burra esperança de parecerem ou serem reconhecidos como mestres! Vade Retro Satana Nunquam Suade Mihi Vana!
“Esses moços, pobres moços, ah, se soubessem o que eu sei...” dá-lhes Lupicínio!
Mas voltando aos mestres e discípulos, para mim, para o meu grande nefando entendimento – sim, porque para os magistrais, o meu entendimento nunca deve ser nomeado porque é digno de execração; é abominável. Odioso, imperdoável. Sacrílego, ímpio. Contrário à natureza. Depravado, perverso – o mestre é mestre em um determinado ponto no espaço e no tempo, diante de um discípulo que necessita a Única informação adequada à sua necessidade, naquele mesmo ponto, no mesmo tempo e no mesmo espaço.
Após isso, continuam, ambos, os seus caminhos de divindades, na Terra, caminhantes – nem mestres, nem discípulos – cada um para o seu norte ou seu oeste, até o momento em que, em outro ponto do tempo e do espaço, necessitem, um ou outro, de uma única e adequada informação necessária ao seu caminhar... aquele que dispuser da informação será mestre e discípulo, aquele que a receber... e continuarão os seus caminhos para oeste ou sul.
Hoje, necessitado de uns consolos para os meus ferimentos de guerra e mais ainda, para o sofrimento pelos ferimentos que estou infligindo à minha parentela divina, entre o cruzamento de dois vetores do tempo, apareceu-me a Mestra! O seu mestrado durou nada mais que cinco ou seis segundos e toda a eternidade de umas agruras internas em mim se dissolveu e continuou na mesma água da eternidade, salva do remanso que a mantinha.
Nós não estávamos em nenhum templo além do templo divino. Dela não sou seguidor e muito menos ela se intenta minha mestra. O Tempo e o Espaço nos colocaram frente a frente em um simples aquariano sistema de conversas virtuais...
De repente, de conversas corriqueiras amenas, um impulso vital nos une numa oportunidade de relatar a ela as minhas batalhas contra os monstros das hipocrisias.
Perguntei a ela se acreditava que eu houvera feito um mea culpa completo para um irmão, sobre todas as traições que eu tinha cometido contra a vida dele.
Ela perguntou-me quem era o irmão traído e eu revelei.
- ...enfim, você confessou o quão importante ele era pra você, né? – ela me perguntou com essas palavras simples.
E continuando, ainda, nessa simplicidade límpida como o olhar divino, pudemos concluir que há pessoas que odeiam estar vulneráveis ao amor e por isso demonizam os que os amam e batem em acelerada retirada... celerada retirada...
Fiquei com certa pena do irmão, mas agora, tarde da noite, me vêm marteladas à cabeça:
Não seria eu também um desses seres que odeiam estar vulneráveis ao amor?
Vou pensar, se as marteladas mo permitirem.
Muito obrigado, Márcia!
Sábios são os discípulos, que nem assim se enxergam, mas ouvem o "mestre" quando algo importante tem de ser dito!
ResponderExcluirMas acho importante lembrar, não são só de pensamentos as ocorrências humanas... a palavra é a primeira (mas não única) ação do pensamento...
3c