domingo, 4 de abril de 2010

O Presente




O entendimento sufi afirma que o mestre aparece quando o discípulo está pronto e vice e versa. Isso é de uma beleza tão pueril e tão magnífica que, como toda simplicidade, é rechaçada pelos cultos e detentores das regras e ensinamentos.

O “Mestre” – esse que está sempre acima do corriqueiro, que se considera, portanto, melhor e mais capacitado do que toda a malta humana, impura e incapaz, é a corporificação da falácia dos que são, verdadeiramente, falazes e impuros... os papas, os lamas, os brâmanes, os “bispos”, os santos gurus, os sacerdotes, os todos aqueles que apresentam suas faces com uma doçura corruptiva e uma docilidade adestrada para a cooptação dos que dispensam a sua vontade própria e seu poder de decisão – portanto não responsáveis por suas ações!

O discípulo, no rastro dessas observações, é o eterno incapaz. E candidato a umas sagrações, iniciações – obviamente sob juramentos de fidelidade eterna ao mestre sagrador e suas intenções – e que vai perpetuar a missão de manter eternamente separados os mestres e os discípulos, para que a ordem da hierarquia sobreviva.

É nauseante conhecer jovens moços que se castram e se oferecem de cus e corpos a toda sorte de manipuladores, com a pretensa e burra esperança de parecerem ou serem reconhecidos como mestres! Vade Retro Satana Nunquam Suade Mihi Vana!

“Esses moços, pobres moços, ah, se soubessem o que eu sei...” dá-lhes Lupicínio!

Mas voltando aos mestres e discípulos, para mim, para o meu grande nefando entendimento – sim, porque para os magistrais, o meu entendimento nunca deve ser nomeado porque é digno de execração; é abominável. Odioso, imperdoável. Sacrílego, ímpio. Contrário à natureza. Depravado, perverso – o mestre é mestre em um determinado ponto no espaço e no tempo, diante de um discípulo que necessita a Única informação adequada à sua necessidade, naquele mesmo ponto, no mesmo tempo e no mesmo espaço.

Após isso, continuam, ambos, os seus caminhos de divindades, na Terra, caminhantes – nem mestres, nem discípulos – cada um para o seu norte ou seu oeste, até o momento em que, em outro ponto do tempo e do espaço, necessitem, um ou outro, de uma única e adequada informação necessária ao seu caminhar... aquele que dispuser da informação será mestre e discípulo, aquele que a receber... e continuarão os seus caminhos para oeste ou sul.

Hoje, necessitado de uns consolos para os meus ferimentos de guerra e mais ainda, para o sofrimento pelos ferimentos que estou infligindo à minha parentela divina, entre o cruzamento de dois vetores do tempo, apareceu-me a Mestra! O seu mestrado durou nada mais que cinco ou seis segundos e toda a eternidade de umas agruras internas em mim se dissolveu e continuou na mesma água da eternidade, salva do remanso que a mantinha.

Nós não estávamos em nenhum templo além do templo divino. Dela não sou seguidor e muito menos ela se intenta minha mestra. O Tempo e o Espaço nos colocaram frente a frente em um simples aquariano sistema de conversas virtuais...

De repente, de conversas corriqueiras amenas, um impulso vital nos une numa oportunidade de relatar a ela as minhas batalhas contra os monstros das hipocrisias.

Perguntei a ela se acreditava que eu houvera feito um mea culpa completo para um irmão, sobre todas as traições que eu tinha cometido contra a vida dele.

Ela perguntou-me quem era o irmão traído e eu revelei.

- ...enfim, você confessou o quão importante ele era pra você, né? – ela me perguntou com essas palavras simples.

E continuando, ainda, nessa simplicidade límpida como o olhar divino, pudemos concluir que há pessoas que odeiam estar vulneráveis ao amor e por isso demonizam os que os amam e batem em acelerada retirada... celerada retirada...

Fiquei com certa pena do irmão, mas agora, tarde da noite, me vêm marteladas à cabeça:

Não seria eu também um desses seres que odeiam estar vulneráveis ao amor?

Vou pensar, se as marteladas mo permitirem.

Muito obrigado, Márcia!

Um comentário:

  1. Sábios são os discípulos, que nem assim se enxergam, mas ouvem o "mestre" quando algo importante tem de ser dito!

    Mas acho importante lembrar, não são só de pensamentos as ocorrências humanas... a palavra é a primeira (mas não única) ação do pensamento...

    3c

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