quarta-feira, 31 de março de 2010

O encanto de ser, simultaneamente, chumbo e ouro


Eu gosto das minhas oscilações e minha incessante mutabilidade, Senhores!

E mais, se me perguntarem se eu não me envergonho delas, talvez eu responda, candidamente, não. Pelo contrário, eu me orgulho!

Há bem pouco tempo, eu me dizia um homem de extremos. Hoje eu me digo, sim, de extremos ainda, mas com a grande habilidade de passear em cada centímetro que ponteia todo o espaço entre um e outro extremo.

Gosto disso. Dá-me um senso de plenitude e poder de compreensão. Perdôo e perdôo-me, sempre. Sem o perdoar a mim, não saberia perdoar a outrem. Acuso e acuso-me, da mesmíssima forma.

Ainda ontem eu estava fremente de desejo de ver o mundo pegar fogo. Talvez, certo, eu me incendiasse dentro do incêndio dele (de que importa isso, se o mundo não puder me aturdir – com fogo ou com água ou coisas quaisquer?).

Cansado estava das miudezas mordazes, das falações sussurradas, da algaravia de comentários sibilados, morcegos no sótão coletivo dos acovardados, carregando o enorme peso dos seus medos de si mesmos.

Pensei, eu xiita de uns valores muito próprios, a beleza histórica da derrelição das torres gêmeas de cada um desses portentosos fracos:

Que belo seria pôr, em confronto provocado, todos nós: aquele moço e aquela sacerdotisa – a dos laços de juramento... aquela outra também! Aquele, o qual se acusa de apropriação indébita de ofício religioso... eu mesmo, que ainda ontem era o discípulo honrado e hoje vagueio na vala dos execrados.

Eu diria, inflamado: eis que é chegada a hora e, nessa hora, teríamos a oportunidade de perguntar a nós mesmos e, de todos esperar a mais honrada resposta,

É hora da sublimação da honra de todos os preceitos. É hora de verificar se os nossos preceitos de honra, são os mesmos preceitos da honra dos deuses. Demo-nos esta magnífica oportunidade.

Afortunadamente o sono me dominou e fui para a cama onde uns sonhos me possuíram. Afortunadamente digo, não pela destruição que foi evitada, mas pela oportunidade que tive de vagar, nau diuturna, entre as gradações do mesmo princípio de criação e destruição. Marte já velho que preferiu descansar entre uma e outra coisa.

Hoje estou apaziguado. Eu vi a Lua e entendi a extensão de todos os perdões que me posso dar e que posso ofertar. Há nos céus astro mais volátil e mais mutante? Fruição mais instável?

De certo que não!

No entanto, só encantos... não há quem não se deixe levar pelo fascínio dela, que dura muito menos do que poucas horas, dentro de uma única noite... e vai. Nau noturna.

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