quarta-feira, 17 de março de 2010

A Fé, Senhores. A fé!


Não pretendia publicar nada que não fosse de minha autoria ou por mim redigido. Mas diante do texto que exponho a seguir, resta pouco além de cometer uns grifos ou umas aspas. Em mim já grifei e aspei tudo o que me caiu dele.

Aspem, Senhores! Grifem. Façam disso uma nova religião: sem fé!

"Há já muitos anos atrás, eu tinha sabido que era necessário pôr, no mesmo saco, os católicos, os freudianos, os marxistas e os patriotas. Quero dizer: quem quer que tivesse fé, não importa em que coisa; quem quer que opine, saiba ou atue, repetindo pensamentos aprendidos ou herdados. Um homem com fé é mais perigoso que um animal com fome. A fé os obriga à ação, à injustiça, ao mal; é bom escutá-los concordando, medir, em silêncio cauteloso e cortês, a intensidade de suas lepras e dar-lhes sempre razão. E a fé pode ser posta no mais desdenhável e subjetivo. Na alternante mulher amada, num cão, num time de futebol, num número de roleta, na vocação de toda uma vida. O leproso se exalta quando discute, sua cheiros fosfóricos diante da menor ou suspeitada oposição, tenta afirmar-se - afirmar a fé - pisando cabeças ou intimidades ternas, sagradas (...) um homem contaminado por qualquer classe de fé chega velozmente a confundi-la consigo mesmo; é a vaidade, então que ataca e se defende. Com a ajuda de Deus, é melhor não os encontrar pelo caminho; com a própria ajuda, é melhor trocar de calçada"

Bravo, Juan Carlos Onetti!

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